Sei do que falo, quando me manifesto em relação à grave geral que no dia de hoje está a ser levada a efeito pelas organizações do costume. A minha passagem pelo PCP, comissão de trabalhadores da extinta Soponata - Sociedade Portuguesa de Navios Tanques - e sindicato representativo da classe profissional a que pertenci durante toda uma vida, SOEMMM - Sindicato de Oficiais e Engenheiros Maquinistas da Marinha Mercante -, possibilitou-me a aquisição de uma perspectiva real sobre as razões que invariavelmente suportam uma paragem desta natureza.
Conheci o desenvolvimento de greves selvagens em pleno PREC e confrontei-me com a inimaginável paragem, ao longo de quase dois meses, da unidade mercante onde prestava serviço. Fundeado o navio ao largo da ilha de Aruba, antiga colónia holandesa das Caraíbas, numa tripulação a rondar a meia centena de profissionais das mais variadas vertentes, apenas 3/4 vivia os "favores" da greve: exigência laboral a rondar o zero, com retribuição mensal de 100%. Para os restantes - áreas de máquinas, cozinha e câmaras - apenas a retribuição mensal era igual. O trabalho desenvolvido era absolutamente igual ao que seria se a unidade estivesse em laboração normal. E assim se fez Portugal, uns ficaram com a carne e aos outros couberam os ossos. Em Lisboa, os agentes do costume manuseavam os fios, os cordelinhos. Do outro lado do Atlântico, as marionetas ensaiavam passos de uma dança macabra, sem sentido, sem justiça, sem honra e sem glória ou proveito.
Hoje os cordelinhos são manobrados por outras mãos, cujo poder dinasticamente receberam dos próceres do passado. E as marionetas também não mudaram...
Que sentido tem uma greve que provoca em apenas um dia, um prejuízo ao país muito próximo do valor que vai ser extorquido aos trabalhadores da função pública e pensionistas, com a retenção do 13º e 14º mês em 2012?!... Nenhum!... Apenas determinará mais cortes, mais austeridade, mais sacrifícios sobre aqueles que, cegamente, se deixam manobrar pelos cordelinhos, as marionetas.
Sou a favor da greve, como último e justo recurso dos trabalhadores, para a melhoria das suas condições de trabalho, de vida e de projecto colectivo. E sou ainda mais a favor de todo e qualquer protesto desses mesmos trabalhadores, que anteceda e sirva de aviso para a eventualidade de uma greve. Hoje, nada disso está a acontecer.
Porque não escolheram os promotores da greve geral de hoje, uma acção de rua gigantesca, em todas as capitais de distrito por exemplo, que se desenrolasse a um domingo?!... Não seriam ainda melhor cumpridos os objectivos, sem dapauperar ainda mais este pobre e desditoso país?!... Porque não tomam as marionetas, consciência do que está em jogo e continuam a ser meros instrumentos da luta política instalada em Portugal com a Revolução de Abril?!... Quem paga a cada um dos aderentes à greve, o prejuízo de um dia sem remuneração, que ridiculariza ainda mais os seus já parcos salários?!... É a CGTP e a UGT, ou no fim do mês as dificuldades sofrerão a inevitável exponenciação?!... Quando deixaremos de ser "carneirada" instrumentalizada?!...
A austeridade imposta apenas a uma parte significativa do povo português é inadmissível, quando todos sabemos que múltiplas vias mais justas e eficazes haveria para explorar. É justo e tem pleno cabimento um amplo movimento de protesto contra a continuação por este governo, das políticas de todos os governos que o antecederam. Fazê-lo através da convocatória de uma greve geral, além de ser um alinhamento degradante com as políticas de quem apenas persegue objectivos partidários egoístas, cujo fracasso a história já confirmou e condenou, é a execução de um vexatório "haraquiri"!!!...
Até breve