Quando era mais jovem, as tardes e noites de Domingo eram passadas e que bem passadas, quase invariavelmente nos bailes organizados pelas mais diversas colectividades recreativas ou por seccções da mesma índole em muitas agremiações desportivas. Era tempo de divertimento e, paralelamente, tempo de viver ou descobrir novas amizades e até, quantas vezes, novos amores e novos rumos na vida de cada um. Nesses bailes, os promotores tinham a preocupação de inovar programas e rodar os animadores, de modo manter aceso o interesse dos participantes. Nesse sentido esforçavam-se por introduzir sempre que podiam e o engenho ajudasse, atraentes e disputados jogos e concursos entre a nata dos dançarinos e dançarinas. Um desses jogos era a dança das cadeiras. Quem não se lembra de uma dúzia de cadeiras dispostas em círculo no centro da pista, participando um número de concorrentes igual ao número de cadeiras mais um?!... A música começava e os acordes ouviam-se durante um tempo indeterminado, enquanto os candidatos à vitória dançavam em torno das cadeiras até que, abruptamente era silenciada. Cada um procurava uma cadeira vazia e sentava-se rapidamente. Claro que o menos expedito ficava em pé, sem cadeira, era eliminado e a cena repetia-se depois de ser retirada uma cadeira, até que no final ficava uma cadeira e dois concorrentes. Quando a música parava de novo, apenas um se sentava e era declarado vencedor, com direito a dançar com a feliz vencedora de concurso análogo para as meninas.
Hoje, na vida política portuguesa estamos a assistir a um jogo em tudo semelhante, imposto pela Troika, onde os concorrentes sendo ou não dançarinos, desempenham lugares de relevo na administração pública. O objectivo das instituições internacionais que suportam a ajuda financeira a Portugal seria obter uma redução substancial do extenso rol de detentores desses desejados, excessivamente multiplicados e excepcionalmente bem remunerados lugares, no sentido de reduzir os custos da dita administração pública. Só que o organizador do baile, ter-se-à lamentavelmente esquecido de recomendar aos responsáveis na pista, da regra "sine qua non" do jogo, que é a de as cadeiras deverem, em cada uma das etapas do jogo, ser inferiores em uma unidade ao número dos dançarinos. Assim, acontece que sempre que a música pára os dançarinos se sentam em igual número de cadeiras e nenhum é eliminado, Assistimos apenas a uma simples e ineficaz troca de cadeiras. E por mais que a cena se repita o número de cadeiras não decresce e nenhum dançarino é eliminado.
Não sei se a Troika, confrontada com a observação "in loco" deste interessante jogo que representa o estrito cumprimento das suas normas imperativas, conseguirá reparar no ligeiro esquecimento do organizador do baile e respectivos agentes em pista. É apenas uma questão de cadeiras e pode muito bem acontecer que nem o careca chefe da delegação se aperceba do ingénuo truque português.
Há coisas onde realmente os portugueses são mesmo muito bons!... Pena que a agência responsável pelas exportações portuguesas ainda não se tenha apercebido...
Até breve
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