quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O vexame do "haraquiri" !...

Sei do que falo, quando me manifesto em relação à grave geral que no dia de hoje está a ser levada a efeito pelas organizações do costume. A minha passagem pelo PCP, comissão de trabalhadores da extinta Soponata - Sociedade Portuguesa de Navios Tanques - e sindicato representativo da classe profissional a que pertenci durante toda uma vida, SOEMMM - Sindicato de Oficiais e Engenheiros Maquinistas da Marinha Mercante -, possibilitou-me a aquisição de uma perspectiva real sobre as razões que invariavelmente suportam uma paragem desta natureza.
Conheci o desenvolvimento de greves selvagens em pleno PREC e confrontei-me com a inimaginável paragem, ao longo de quase dois meses, da unidade mercante onde prestava serviço. Fundeado o navio ao largo da ilha de Aruba, antiga colónia holandesa das Caraíbas, numa tripulação a rondar a meia centena de profissionais das mais variadas vertentes, apenas 3/4 vivia os "favores" da greve: exigência laboral a rondar o zero, com retribuição mensal de 100%.  Para os restantes - áreas de máquinas, cozinha e câmaras - apenas a retribuição mensal era igual. O trabalho desenvolvido era absolutamente igual ao que seria se a unidade estivesse em laboração normal. E assim se fez Portugal, uns ficaram com a carne e aos outros couberam os ossos. Em Lisboa, os agentes do costume manuseavam os fios, os cordelinhos. Do outro lado do Atlântico, as marionetas ensaiavam passos de uma dança macabra, sem sentido, sem justiça, sem honra e sem glória ou proveito.
Hoje os cordelinhos são manobrados por outras mãos, cujo poder dinasticamente receberam dos próceres do passado. E as marionetas também não mudaram...
Que sentido tem uma greve que provoca em apenas um dia, um prejuízo ao país muito próximo do valor que vai ser extorquido aos trabalhadores da função pública e pensionistas, com a retenção do 13º e 14º mês em 2012?!... Nenhum!... Apenas determinará mais cortes, mais austeridade, mais sacrifícios sobre aqueles que, cegamente, se deixam manobrar pelos cordelinhos, as marionetas.
Sou a favor da greve, como último e justo recurso dos trabalhadores, para a melhoria das suas condições de trabalho, de vida e de projecto colectivo. E sou ainda mais a favor de todo e qualquer protesto desses mesmos trabalhadores, que anteceda e sirva de aviso para a eventualidade de uma greve. Hoje, nada disso está a acontecer.
Porque não escolheram os promotores da greve geral de hoje, uma acção de rua gigantesca, em todas as capitais de distrito por exemplo, que se desenrolasse a um domingo?!... Não seriam ainda melhor cumpridos os objectivos, sem dapauperar ainda mais este pobre e desditoso país?!... Porque não tomam as marionetas, consciência do que está em jogo e continuam a ser meros instrumentos da luta política instalada em Portugal com a Revolução de Abril?!... Quem paga a cada um dos aderentes à greve, o prejuízo de um dia sem remuneração, que ridiculariza ainda mais os seus já parcos salários?!... É a CGTP e a UGT, ou no fim do mês as dificuldades sofrerão a inevitável exponenciação?!... Quando deixaremos de ser "carneirada" instrumentalizada?!...
A austeridade imposta apenas a uma parte significativa do povo português é inadmissível, quando todos sabemos que múltiplas vias mais justas e eficazes haveria para explorar. É justo e tem pleno cabimento um amplo movimento de protesto contra a continuação por este governo, das políticas de todos os governos que o antecederam. Fazê-lo através da convocatória de uma greve geral, além de ser um alinhamento degradante com as políticas de quem apenas persegue objectivos partidários egoístas, cujo fracasso a história já confirmou e condenou, é a execução de um vexatório "haraquiri"!!!...

Até breve

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Já nem do meu cão sou dono...

Do blog "Causa Nossa", retirei a pergunta que há tanto tempo me assalta o pensamento e que Ana Gomes, uma das autoras, tão exemplarmente colocou:

Quinta-feira, 17 de Novembro de 2011

Por ortodoxia neoliberal deste Governo, o Estado prepara a venda da sua participação na EDP, uma das empresas mais rentáveis deste país à conta da situação de privilégio que o Estado lhe concedeu sempre.
Mas agora o Estado português vai sair, quer sair.
E vai vender a sua participação na EDP a quem?
Ora, três das quatro empresas admitidas a concurso estão sob controlo estatal, as duas brasileiras e a chinesa.
O Estado sai da EDP e vai passar a sua participação a um outro Estado?
Ninguém se importa, ninguém se incomoda, ninguém se alarma?
 
 
O povo é sereno e daqui por meia dúzia de dias já ninguém se lembra dos "passos" que vamos dando, rumo à indigência total. Já nem do meu cão sou dono...
 
Até breve

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Homem novo com vestes do velho

Ouço e vejo representantes do povo português botar discurso na "casa da democracia" e vomitar bilis contra o patronato, sem distinguir raça, credo, origem, estatuto e obra.
Assisto a debates televisivos onde o vómito serôdio se repete, com o mesmo ódio, o mesmo despropositado, irreprimível e nefasto destrambelhamento e o mesmo ridículo, e anacrónico desfasamento ideológico.
E depois, nas horas amargas e desesperantes do infortúnio, vejo trabalhadores com lágrimas nos olhos, afirmarem a sua solidariedade reconhecida a quem lhes pagou salários ao longo de décadas e oferecerem tijolos do seu corpo para a reconstrução. E vejo os sujeitos dessa solidariedade, mais solidários ainda com quem, com a magnanimidade dos simples, lhes afirmou respeito e ajuda. E pergunto a mim mesmo em que falharam Carl Marx e Friedrich Engels?!...
Provavelmente a falha não será ideológica, digo eu para os meus botões. A pátina do tempo terá desvirtuado a mensagem para a criação do homem novo. E assistimos a meras representações de novos homens com as vestes do homem velho...

Até breve

Foto de Paulo Cordeiro/Lusa in Expresso on-line

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

As estrelas e o cancro

E no meio da escuridão que cobre os céus deste jardim à beira-mar plantado, emerge uma estrela, cintilante, que Mariano Gago deixou aqui. Uma história bonita e ímpar, que a menoridade dos políticos teima em envolver no nevoeiro vergonhoso da inveja, cerrando vergonhosamente as janelas do orgulho, que nos poderiam compensar deste quase vegetar na avassaladora crise e no desencanto dos dias sem futuro. Mas que uma braçada de Adamastor, de cientistas de todo o mundo descobriu, quando quase 10 milhões de portugueses nem sequer suspeitam que possa existir. Ai mar, mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal?!...


E à beira do Tejo, Leonor vai pedindo inspiração às Tágides para dar mais brilho a uma outra estrela, também cintilante, mas que porventura a crise não deixará brilhar para todos nós. Porque o nevoeiro assassino que nos levou D. Sebastião, está instalado e teima em permanecer cerrado, sem se dissipar, hoje e amanhã e quem sabe se nunca. O sonho dos que já partiram e a esperança dos que ainda lutam por não partir, parece ter acabado de chegar aqui. Mas será que Leonor, mesmo formosa, poderá alguma vez prosseguir segura.

E á beira do precipicio e do desespero de um "nanopovo" amesquinhado e vilipendiado, um bando de catitas engravatados e outros que uma qualquer ministra desengravatou, prossegue na senda das estrelas, ou do cancro. Quando aquelas não cintilam para todos e só alumiam os predestinados. E aquele persiste num ensaio de cegueira tão injusta, como a justiça que nos cerca e revolta.
Ai mar, mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal?!...

Até breve