sábado, 22 de setembro de 2012

O direito de ser brando e feliz !!!...

 
O 15 de Setembro de 2012 ficará assinalado na minha vida!  Foi o dia em que vi o povo a que pertenço, afirmar a sua disposição de não permitir que o pisem e enxovalhem. Com civismo, com mais categoria e classe que os algozes autores das indignidades que supostamente teria de suportar e contra quem se apresentou nas ruas, único local onde a sua voz ainda se pode fazer ouvir.
No meio desse povo estavam as forças da ordem. Sem necessidade de o gritar com a mesma intensidade dos protestos, a sua postura, calma, firme e convicta disse-nos a todos que, no cumprimento de uma missão que juraram cumprir com lealdade, eram parte desse mesmo povo e com ele estavam de alma e coração.
 
 
E houve quem do meio do povo se destacasse e afirmasse a sua homenagem a esses homens e mulheres que são tão nossos, como todos nós somos deles. Porque somos um só povo, unido, que ninguém algum dia conseguirá vencer. A um fotógrafo do Expresso, Nuno Botelho, coube a felicidade de captar as duas imagens que já correm mundo e que aqui, recordo, numa manifestação de gratidão e enlevo, a ele e pelo povo a que pertenço.
 
Um dia, que adivinho próximo, este povo há-de manifestar nas urnas a força do seu soberano poder. E há-de conseguir expulsar os vendilhões do templo, onde apenas pede que lhe deixem exercer os seus brandos costumes e ser feliz !!!...
 
 
Até breve

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

E nós "à rasca"...

in Aventar


Estes senhores governam o país e dão-nos todos os dias imagens de uma dramática incompetência. A deriva da sua acção governativa estende-se também a outros "mares"!...
Também no tratamento da "pátria de Pessoa", esta gente já não sabe o que anda cá a fazer. Já não sabe se é a favor ou contra o NAO. Já não sabe nada. É gente "rasca" e nós "à rasca", com medo que eles fiquem por muito tempo ainda...

Até breve

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Chamar os bois pelos nomes...

Há momentos na vida de qualquer um de nós, em que o vernáculo vira eloquência. Mão amiga fez-me chegar este texto. Foi amor à primeira vista. Apaixonei-me com a intensidade que fez de mim, há muitos, muitos anos, um homem de esquerda. Desalinhado é certo, mas comungando os ideais mais nobres que só na esquerda, em toda ela, podem ser encontrados.
Procurei a origem e a autora, com a intenção de obter a sua permissão para aqui o publicar. Soube então que havia sido publicado numa rede social, cujas coordenadas tive o privilégio de ficar a conhecer. Sendo um documento do domínio público, a sua partilha era possível e ela aqui vai, em reconhecimento de uma honrosa excepção - felizmente começam a conhecer-se milhares e milhares de exemplos - a uma geração que alguém, bem ou mal, apelidou de "rasca" mas onde parece cada vez mais pressentir-se que afinal estará tão "à rasca" como a generalidade deste desgraçado povo português.
Honra e gratidão à lucidez e inteligência da sua autora. Aplauso para o seu eloquente "vernáculo". Há coisas que não têm outra maneira ou forma de poderem ser entendidas. E chamar o bois pelos nomes será, nessa condição, excelente solução. Ah, espero e desejo que Angela Crespo seja feliz. Porque quem pensa e escreve como ela, merece ser feliz... Que o céu seja para ela sempre azul e consiga cruzar os grossos pingos desta "chuva" que se abateu sobre todos nós, sem se encharcar até aos ossos...

 






Angela Crespo

 
Quarta-feira, 12.09.12

"Na adolescência usamos vernáculo porque é ?fixe?. Depois deixamo-nos disso. Aos 32 sinto-me novamente no direito de usar vernáculo, quando realmente me apetece e neste momento apetece-me dizer: Vão-se foder!
 Trabalho há 11 anos. Sempre por conta de outrém. Comecei numa micro empresa portuguesa e mudei-me para um gigante multinacional.
Acreditei, desde sempre, que fruto do meu trabalho, esforço, dedicação e também, quando necessário, resistência à frustração alcançaria os meus objectivos. E, pasme-se, foi verdade. Aos 32 anos trabalho na minha área de formação, feliz com o que faço e com um ordenado superior à média do que será o das pessoas da minha idade.
 Por isso explico já, o que vou escrever tem pouco (mas tem alguma coisa) a ver comigo. Vivo bem, não sou rica. Os meus subsídios de férias e Natal servem exactamente para isso: para ir de férias e para comprar prendas de Natal. Janto fora, passo fins-de-semana com amigos, dou-me a pequenos luxos aqui e ali. Mas faço as minhas contas, controlo o meu orçamento, não faço tudo o que quero e sempre fui educada a poupar.
Vivo, com a satisfação de poder aproveitar o lado bom da vida fruto do meu trabalho e de um ordenado que batalhei para ter.

Sou uma pessoa de muitas convicções, às vezes até caio nalgumas antagónicas que nem eu sei resolver muito bem. Convivo com simpatia por IDEIAS que vão da esquerda à direita. Posso ?bater palmas? ao do CDS, como posso estar no dia seguinte a fazer uma vénia a comunistas num tema diferente, mas como sou pouco dado a extremismos sempre fui votando ao centro. Mas de IDEIAS senhores, estamos todos fartos. O que nós queríamos mesmo era ACÇÕES, e sobre as acções que tenho visto só tenho uma coisa a dizer: vão-se foder. Todos. De uma ponta à outra.

Desde que este pequeno, mas maravilhoso país se descobriu de corda na garganta com dívidas para a vida nunca me insurgi. Ouvi, informei-me aqui e ali. Percebi. Nunca fui a uma manifestação. Levaram-me metade do subsídio de Natal e eu não me queixei. Perante amigos e família mais indignados fiz o papel de corno conformado: ?tem que ser?, ?todos temos que ajudar?, ?vamos levar este país para a frente?. Cheguei a considerar que certas greves eram uma verdadeira afronta a um país que precisava era de suor e esforço. Sim, eu era assim antes de 6ª feira. Agora, hoje, só tenho uma coisa para vos dizer: Vão-se foder.
Matam-nos a esperança.

Onde é que estão os cortes na despesa?
Porque é que o 1º Ministro nunca perdeu 30 minutos da sua vida, antes de um jogo de futebol, para nos vir explicar como é que anda a cortar nas gorduras do estado?
O que é que vai fazer sobre funcionários de certas empresas que recebem subsídios diários por aparecerem no trabalho (vulgo subsídios de assiduidade)??
É permitido rir neste parte. Em quanto é que andou a cortar nos subsídios para fundações de carácter mais do que duvidoso, especialmente com a crise que atravessa o país?
Quando é que páram de mamar grandes empresas à conta de PPP?s que até ao mais distraído do cidadão não passam despercebidas?
Quando é que acaba com regalias insultosas para uma cambada de deputados, eleitos pelo povo crédulo, que vão sentar os seus reais rabos (quando lá aparecem) para vomitar demagogias em que já ninguém acredita?
 Perdoem-me a chantagem emocional senhores ministros, assessores, secretários e demais personagem eleitos ou boys desta vida, mas os pneus dos vossos BMW?s davam para alimentar as crianças do nosso país (que ainda não é em África) que chegam hoje em dia à escola sem um pedaço de pão de bucho. Por isso, se o tempo é de crise, comecem a andar de opel corsa, porque eu que trabalho há 11 anos e acho que crédito é coisa de ricos, ainda não passei dessa fasquia.
E para terminar, um ?par? de considerações sobre o vosso anúncio de 6ª feira.

Estou na dúvida se o fizeram por real lata ou por um desconhecimento profundo do país que governam.
Aumenta-me em mais de 60% a minha contribuição para a segurança social, não é? No meu caso isso equivale a subsídio e meio e não ?a um subsído?. Esse dinheiro vai para onde que ninguém me explicou? Para a puta de uma reforma que eu nunca vou receber? Ou para pagar o salário dos administradores da CGD?
Baixam a TSU das empresas. Clap, clap, clap? Uma vénia!
Vocês, que sentam o já acima mencionado real rabo nesses gabinetes, sabem o que se passa no neste país? Mas acham que as empresas estão a crescer e desesperadas por dinheiro para criar postos de trabalho? A sério? Vão-se foder.
 As pequenas empresas vão poder respirar com essa medida. E não despedir mais um ou dois.
As grandes, as dos milhões? Essas vão agarrar no relatório e contas pôr lá um proveito inesperado e distribuir mais dividendos aos accionistas. Ou no vosso mundo as empresas privadas são a Santa Casa da Misericórdia e vão já já a correr criar postos de trabalho só porque o Estado considera a actual taxa de desemprego um flagelo? Que o é.
A sério? Em que país vivem? Vão-se foder.
Mas querem o benefício da dúvida? Eu dou-vos:
1º Provem-me que os meus 7% vão para a minha reforma. Se quiserem até o guardo eu no meu PPR.
2º Criem quotas para novos postos de trabalho que as empresas vão criar com esta medida. E olhem, até vos dou esta ideia de graça: as empresas que não cumprirem tem que devolver os mais de 5% que vai poupar. Vai ser uma belo negócio para o Estado? Digo-vos eu que estou no mundo real de onde vocês parecem, infelizmente, tão longe.

Termino dizendo que me sinto pela primeira vez profundamente triste. Por isso vos digo que até a mim, resistente, realista, lutadora, compreensiva? Até a mim me mataram a esperança.
 Talvez me vá embora. Talvez pondere com imensa pena e uma enorme dor no coração deixar para trás o país onde tanto gosto de viver, o trabalho que tanto gosto de fazer, a família que amo, os amigos que me acompanham, onde pensava brevemente ter filhos, mas olhem? Contas feitas, aqui neste t2 onde vivemos, levaram-nos o dinheiro de um infantário.
Talvez vá. E levo comigo os meus impostos e uma pena imensa por quem tem que cá ficar.
Por isso, do alto dos meus 32 anos digo: Vão-se foder"


Até breve



 
 

sábado, 15 de setembro de 2012

Eu teria cuidado. Muito cuidado !!!...

Eu teria cuidado. Muito cuidado !!!...
 
1 de Maio de 1974 ocupa, na hierarquia dos dias felizes da minha vida, a quarta posição, apenas precedido pela beleza de um cravo já distante e esquecido por tantos e outros dois que reservo apenas para mim. Depois vieram outros dias bonitos - nem tantos assim, infelizmente, que esta vida é mais escura do que as telas dos pintores românticos -  que se amontoaram e degladiaram nas posições seguintes. O dia de hoje, 15 de Setembro de 2012, terá acabado com a luta fratricida pela quinta posição, despachando-a para o lugar abaixo.
Confesso a falta de crença na indignação do povo que hoje desceu à rua. Confesso humildemente o meu cepticismo e o meu arrependimento por não ter estado lá. Mas as notícias que me cairam em catadupa em casa e as formidáveis imagens que as televisões me mostraram, trouxeram-me aquele cheirinho a alecrim de que tão bem "falou" Chico Buarque de Holanda, quando o cravo pujante e perfumado inundou as ruas de um país e o coração de um povo.
Hoje o povo saiu à rua para dizer "basta"! Com os seus brandos costumes e a sua peculiar forma de agonizar em silêncio, hoje entendeu ser chegada a hora de mostrar que afinal é gente. E qual milagre dos pães, os 29 promotores das redes, terão chegado ou até porventura ultrapassado, o milhão que terá varrido os grandes espaços das nossas principais cidades de indignação e justos protestos.
Se eu liderasse o governo contra quem hoje protestou esta multidão, tomaria o aviso na devida conta. Porque a bola de neve que rola na encosta gelada, é sempre pequenina no começo. E um milhão já não será própriamente uma insignificância. Se um certo conforto e aconchego não for devolvido ao povo, à revelia dos dogmas e modelos económicos que parecem fazer deste pequeno e pobre torrão, um gigantesco balão de ensaio de uma minúscula seita de inescrupulosos tecnocratas a soldo da alta finança globalizada, as coisas poderão vir a resultar mais sérias do que os executores possam pensar.
Porque o "basta" que ainda ribomba por esse Portugal de lés a lés, não foi circunstancial e dificilmente regressará a casa. Sinto que ficou no ar, com um cheiro e potência semelhantes a vapores de gasolina. Basta - palavra demasiado ambivalente - um pequeno riscar de fósforo. Eu não arriscaria desafiar o perigo...
 
Até breve

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Uma mulher bonita e muito interessante !!!...




Esta mulher nunca me foi simpática! E eu nunca soube explicar bem a mim próprio, as razões da antipatia que ela desde sempre despertou em mim. Não sei se terá sido o ar demasiado decidido e autoritário que sempre exibiu, se as várias "gaffes" que cometeu ao longo da sua carreira política, se a sobranceira frieza quase a raiar a desumanidade com que sempre a vi dirigir-se aos seus concidadãos, se a minha arreigada rejeição à ideologia política - ou falta dela - perseguida pelo seu partido de sempre, se o facto de o seu visual e beleza exterior sempre me parecer o de uma velha feiosa e embirrenta... Não sei, decididamente! Chego a admitir que a minha embirração adviesse mais de defeitos próprios do analista, que exactamente de tudo aquilo que acabei de enumerar.
Esta entrevista revelou-me pela primeira vez desde que a conheço, a mulher carregada de humanidade, inteligência, bom senso, humildade, correcção, ponderação e desafiante coragem, que eu nunca tinha sido capaz de ver até agora. Até da beleza e harmonia exterior exibidas e da simplicidade e proximidade com que esteve connosco, numa entrevista excepcionalmente bem conduzida pelo jornalista em estúdio, eu gostei.
Nunca um ex-líder do PSD me tinha impressionado tanto. Não terei concordado exactamente com tudo o que disse. Mas revejo-me em quase tudo. E vou enterrar bem fundo esta desgraçada antipatia que sempre nutri pela Senhora. Porque hoje reconheço o mal que poderemos causar a nós próprios, com uma errada apreciação sobre a beleza de uma pessoa. E Manuela Ferreira Leite passou a ser para mim, desde esta fabulosa entrevista, uma mulher bonita e muito interessante, que vou passar a apreciar com muito cuidado, atenção e enlevo !!!...
 
Até breve

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Desgraçadamente, nas mãos da tecnocracia neoliberal...


Pedro Santos Guerreiro, director do Jornal de Negócios, hoje por hoje, um dos melhores comentadores da realidade económica nacional, escreveu ontem no seu jornal, sobre a autêntica desgraça das medidas anunciadas por um primeiro-ministro perdido no nevoeiro da subserviência aos ditames da alta finança e da indiferença perante o sofrimento de um povo que espezinha em cada dia . Preferi, para além de aqui deixar a fonte, transcrever o seu brilhante texto, para que sirva, a mim e a quem assim o entenda, de memória futura e desmistificação da presente acção governativa: 
 
Saberão eles o que fazem?!...







1. Chegará a altura em que deixaremos de perguntar de quem é a culpa e quereremos ouvir apenas um pedido de desculpa. Um sinal de arrependimento, uma confissão de erro, uma liquidação da dívida moral do país sobre o seu povo. Talvez então recomecemos a acreditar. No que nos dizem. Neles. Nos tingidos pela incompetência. Nos ungidos de espírito de missão. Nos que falham.

O anúncio de medidas de austeridade feito pelo primeiro-ministro ao entardecer de sexta-feira, antes de um jogo de futebol, é uma tragédia. Não é o seu primeiro nem último acto, é a tragédia em curso. Tratá-lo com ligeireza, como o Governo fez, é transformá-lo numa comédia. Confessar que custa muito dar estas notícias, vitimizando-se, é transformá-la numa farsa. Infelizmente, o primeiro-ministro padece desse frequente exibicionismo da humildade, condói-se da sua missão. Mas o problema não é esse.

2. O Governo anunciou para 2013 o aumento da taxa social única (TSU) para os trabalhadores, descida da taxa para empresas, supressão de um subsídio para funcionários públicos. Todos fizeram contas: os trabalhadores privados perderiam 7% do salário, o equivalente a um ordenado anual; os funcionários públicos, de empresas públicas e pensionistas perderiam dois, o mesmo que em 2012. Foram contas rápidas. Rápidas de mais. Na verdade, perde-se mais do que isso, pois 7% sobre o salário bruto é mais do que isso no salário líquido. Mas quão mais? Não se sabe.

O primeiro alarme foi dado na própria sexta-feira pela "Rádio Renascença", que avisou que a perda seria superior a um salário. Na noite de sexta-feira, o Negócios contactou diversos membros do Governo para confirmar as contas. Em todos os membros do Governo fora das Finanças, encontrámos pasmo. Das Finanças ouvimos silêncio. O que persistiu durante sábado, apesar da nossa insistência. Mais: enviámos as nossas contas, simulações e tabelas ao
Ministério das Finanças. Resposta? Nada. Silêncio. Ao fim da tarde, o Negócios libertou a notícia: com a informação revelada pelo primeiro-ministro, o sector privado vai afinal perder mais do que um salário líquido em 2013, podendo essa perda, se não houver mais medidas, chegar aos dois. As Finanças emitiram finalmente um comunicado, dizendo que a conclusão é especulativa, pois não é conhecida ainda "toda a informação". É inacreditável. Verdadeiramente inacreditável.

3. A verdade é que, como o Negócios e a Renascença noticiaram, os trabalhadores privados vão perder mais do que um salário em 2013. O "quão mais?" permanece sem resposta. Porque o Governo ainda não clarificou "toda a informação". Mas "toda a informação" não evitará esta conclusão, apenas a doseará. É inacreditável que, para uma medida tão grave, os leitores saibam mais pela edição de hoje do Negócios do que os contribuintes e pensionistas sabem pelas comunicações do Governo.

Este texto não é sobre uma notícia do Negócios, é sobre a insensibilidade inacreditável e lamentável de um Governo que atira uma bomba para cima dos portugueses e não presta "toda a informação". Neste momento, os portugueses não sabem ainda quanto vão perder em 2013. Isto revela mais do que amadorismo. Mais até que insensibilidade. Demonstra crueldade. A crueldade de um anúncio mais preocupado com a imagem do Governo do que com a vida dos portugueses.

Só há duas razões para o Governo continuar sem prestar esclarecimentos 48 horas depois do anúncio das medidas e 24 depois de o Negócios ter revelado que o impacto é, afinal, maior do que parece. Uma é ignorância, o Governo não se ter apercebido de que o impacto nos salários dos portugueses é maior do que parece. Essa hipótese é inacreditável. Literalmente: não é crível. Sobra a outra hipótese: o Governo ainda não sabe como vai explicar que, para esse aumento não ser maior do que parece, terão de ser accionados mecanismos (provavelmente através do IRS, tabelas de retenção na fonte e deduções) que no final mostrem que o aumento da carga fiscal será percentualmente maior nos salários mais baixos que nos salários mais altos.

4. O curso da revelação destas medidas mostra a hierarquia do poder em Portugal. É intencionalmente que o Negócios hoje considera que
Angela Merkel é a pessoa mais poderosa na economia portuguesa - e que Vítor Gaspar (número dois) tem mais poder na economia que Passos Coelho (número três). Estas medidas de austeridade mostram-no: a troika quer, Gaspar sonha, a obra de Passos nasce. Um escreve o texto, o outro implementa, o último lê-o.

A execução orçamental está a derrapar assustadoramente desde Maio. Desde então, cada mês tem agravado o saldo, por causa das receitas do IVA e do aumento do desemprego (menos IRS, mais prestações sociais). O "caso" da privatização da RTP silenciou aliás a desgraça da última execução orçamental. Faltam três mil milhões de euros este ano; podem faltar até sete mil milhões para o ano. Por isso é que o Governo anda a enviar sinais de fumo à troika, fazendo de conta que não pede o que precisa: tolerância no défice.

Não foi anunciada nenhuma medida para compensar o desvio deste ano. Isso quererá dizer, provavelmente, que Portugal vai mesmo ter tolerância em 2012. O Governo dirá então que compensou ser bom aluno, o que é verdade; e nós diremos que as medidas do
BCE de quinta-feira facilitam essa tolerância, o que também é verdade. E isso será bom para Portugal.

Falta 2013. O Governo aproveitou o álibi político do chumbo do
Tribunal Constitucional ao corte de dois salários da função pública para a essa medida somar outras. Mas a solução é sempre a mesma: impostos, impostos, sempre mais impostos. Como o PSD bem perguntava antes de ser Governo: e o corte na despesa? Governar é mais do que aumentar impostos e ter "coragem" para anunciar a medida. Até uma criança saberia governar assim.

Nos últimos 12 meses, foram feitas em Portugal reformas como nunca se havia feito. A mais clara de todas é a da legislação laboral. O País ainda pode sair disto com sucesso, mas o Governo está a fracassar. E assim aumenta impostos.

5. Estas medidas não são apenas uma saída de emergência. Desta vez, o Governo aproveitou para fazer uma reforma estrutural: a subida permanente (repete-se: permanente) dos descontos para os trabalhadores, a descida para as empresas. Concretiza-se o desejo da descida abrupta da TSU. Financiada por quem trabalha. Com o pretexto de que vai aumentar o emprego.

Esta medida tem um impacto muito, mesmo muito positivo nas empresas. É uma redução pronunciada, o que melhora a sua competitividade e pode aliviar a pressão financeira na tesouraria e junto dos bancos a que devem. Mas fá-lo transferindo esse peso para os trabalhadores (e, não o sabemos ainda, provavelmente para os pensionistas). A redução salarial líquida acumulada pela austeridade é brutal. O crédito malparado que pode descer nas empresas vai certamente aumentar nos particulares. Além disto, esta medida beneficia todas as empresas, incluindo os famigerados sectores não transaccionáveis.

Depois da reforma da legislação laboral, temos pois a descida abrupta da TSU para as empresas. Nunca um Governo foi tão amigo das empresas. Num mundo perfeito, as empresas serão agora amigas dos trabalhadores. Porque se é verdade que as empresas exportadoras vão poder contratar mais gente, as empresas expostas ao mercado interno não precisam de aumentar capacidade instalada, porque a procura está em queda. Isso significa que não precisam de contratar mais pessoas. Vão apropriar-se do bónus do Governo.

A pressão social é mais do que um conceito abstracto. Se o Governo se mostra mais preocupado com as sociedades do que com a sociedade, e se as empresas não souberem ajudar depois de serem ajudadas, o resumo destas medidas de austeridade é só um: aumento de impostos, redução de salários.

Esta insensibilidade do Governo em relação a quem paga impostos é assustadora. Talvez seja tique da tecnocracia, o de medir o impacto das decisões ao equilíbrio entre as receitas que se ganham para o défice e a popularidade que se perde nas sondagens. O país já foi cozido e está agora a ser cosido - e nem nos dizem sequer quanto dinheiro nos vão tirar. Sim, eles sabem o que fazem. Só não sabem o que nos fazem. Mas querem que os adoremos.

 
Somos um povo de brandos costumes que, desgraçadamente nas mãos da tecnocracia neoliberal, dificilmente reagirá com a indignação e a violência de outros povos. Havemos de engolir, obedientemente, a dose de óleo de rícino que a breve trecho será decretada pelo SNS, entendida como medicação única passível de ser suportada pelo orçamento e capaz de conseguir a regularização do nosso trato intestinal colectivo. E quando defecarmos apenas os restos da água fétida que nos sobrarem na tripa, resultado de um jejum quebrado com meia dúzia de pedaços de pão duro a nadar em meia malga de água tingida de cevada barata, de uma triste sopa de saramagos quando o sol estiver a pino e das sopas de cavalo cansado que nos embalem o sono carregado de pesadelos, talvez comecemos a pensar em mudar de vida, no dia em que nos convidarem, gentilmente como sempre, a inscrever a cruzinha no partido da nossa fome. Talvez isso possa vir a acontecer! Talvez consigamos inverter o rumo de sempre, que as sondagens de sempre, preconizam sempre! Tavez seja possível dizer finalmente, que o povo é quem mais ordena! Se não morrermos antes...
 
Até breve

domingo, 9 de setembro de 2012

Presente envenenado e Seguro...

 
in Jornal de Negócios online
 
Vamos lá chamar o bois pelos nomes. Daquilo a que hoje é entendido, mal ou bem será absolutamente secundário, como "arco do poder", fazem parte desde as primeiras eleições gerais do país, que o 25 de Abril ofereceu ao povo português sem contrapartidas, apenas dois partidos. Porque a um outro que por lá tem andado, em parcerias de conveniência e rigorosamente circunstanciais, ditadas pelos resultados e por interesses de qualquer dos dois primeiros, sempre e só esteve reservado o papel do parente pobre,  do acólito de uma eucaristia aos deuses que põem e dispõem dos celebrantes mais recomendados para cada momento.
Levamos assim 36 anos de alternância governativa, sustentada por dois partidos rigorosamente iguais na sua "praxis", se bem que ostentado nomes que coisas diferentes poderiam sugerir, salvando-se uma curta meia dúzia de excepções ministeriais, com alguma vantagem dos "socialistas" sobre os "sociais-democratas", que terão eventualmente deixado saudades, em  completo arrepio das linhas de acção que despudorada e coincidentemente ambos perseguem, mas cujos intérpretes depressa pagaram o preço da sua corajosa mas ingénua atitude, desaparecendo para sempre do cenário do filme onde o "casting" terá constituído erro inadmissível.
E aos portugueses que ainda pudessem ter dúvidas sobre este delicioso paradigma da democracia portuguesa, que os "Capitães" ofereceram mais aos interesses partidários que ao Povo, o líder parlamentar dos "sociais-democratas" - abrenúncio! -, Luís Montenegro, veio retirar qualquer réstea de possibilidade de os dois partidos do "arco da velha, perdão, do poder" alguma vez poderem vir a ser diferentes. O desafio lançado a António José Seguro, aqui referenciado, pelo líder da bancada a que Sá Carneiro ousou chamar "popular e democrática", mas que em 1977, o IV Congresso rapidamente transformaria em "social democrata" - t'arrengo! -, convidando-o a apresentar a medida alternativa que eventualmente preconize, para "poder ultrapassar o veto do Tribunal Constitucional, para poder manter as metas orçamentais e ter um efeito positivo na economia e na criação de emprego", é um presente envenenado de que antecipadamente conhece a resposta. António José Seguro, como todos os dirigentes socialistas que o antecederam, jamais conspurcará a "gamela" de onde os "socialistas" - va de retro Satanás! - tem retirado o sustento e os privilégios e a medida alternativa será sempre próxima ou coincidente daquela que o poder actual escolheu para "presentear" os portugueses. É tudo farinha do mesmo saco e sabem, uns e outros e os portugueses também já tiveram tempo suficiente para adquirir certezas, que se ao longo de 36 anos nem as moscas alguma vez mudaram, não seria agora que isso iria acontecer. Para mais, quando o odioso das medidas de austeridade recai sobre o poder instalado e poderá encaminhá-lo para uma derrota anunciada, vinha agora o pretendente fazer "haraquiri"! Só na cabeça de um "iluminado social-democrata" como Luís Montenegro!...
E voltando, para terminar, a chamar os bois pelos nomes, seria de todo interessante conhecer a resposta que a Esquerda Socialista - a sério senhores, a sério, sem abrenúncio, t'arrenego ou va de retro - daria a Luís Montenegro, se porventura a questão lhes fosse colocada. E mais interessante seria se os portugueses, encostados à parede e comendo o pão que estes "diabinhos negros" vão amassando, ousassem por uma vez, ouvir a voz dessa Esquerda, que aos nossos companheiros de desgraça gregos, parece já não ferir tanto os ouvidos.
 
Até breve
 
 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Velho, velho dos tempos da União Nacional !!!...




Ana Drago!!!... Eu gosto dela!... É bonita e tem um ar limpo. Não usa plásticas, no rosto ou no carácter. Fala bem, de forma clara, precisa, moderna e inequívoca. E é corajosa e faz corar os "velhos" desta nova geração que Passos Coelho trouxe para a Assembleia da República.
Tenho pena que ainda falte tanto tempo para elegermos um novo Parlamento, porque já decidi. Eu quero um hemiciclo repleto de Anas Drago!!!... 
 
Até breve
 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Mais uma anedota, picante, da justiça portuguesa...

Com a devida vénia ao site da RR, deixo-vos mais uma anedota... "picante":

 
Face oculta

Escutas a Sócrates ainda não foram destruídas



Ordem de destruição das escutas a Sócrates, data de Dezembro de 2010. Em causa estão cinco gravações e 26 mensagens de telemóvel que foram mandadas destruir pelo Supremo Tribunal

O tribunal de Aveiro ainda não destruiu as escutas telefónicas que envolvem José Sócrates, feitas no âmbito do processo Face Oculta", e que escaparam à ordem de destruição do Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
A informação foi avançada, esta quinta-feira, pelo juiz presidente Raul Cordeiro, no final da 84ª sessão do julgamento que está a decorrer no tribunal de Aveiro, em resposta a um requerimento apresentado pela defesa do arguido Paulo Penedos.
"Bastará uma consulta nos autos para concluir que ainda não foi executada a destruição dos referidos produtos, na medida em que pela mera consulta se constatará que inexiste qualquer despacho relativo a tal destruição", afirmou o magistrado.
O tribunal ainda não cumpriu assim a ordem dada pelo presidente do STJ, Noronha de Nascimento, em Dezembro de 2010, para a destruição imediata das referidas escutas.
Questionado sobre a altura em que a destruição ocorrerá, o juiz Raul Cordeiro remeteu a resposta para a segunda parte de um despacho proferido por si há três meses, em que refere que a decisão "será executada oportunamente".
Em causa estão cinco "produtos de voz" (gravações) e 26 mensagens de telemóvel (SMS) que foram mandados destruir pelo presidente do STJ, mas que o juiz Carlos Alexandre, do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), terá entendido que deveriam permanecer intactas.
Quando o processo regressou à Comarca do Baixo Vouga, o juiz Carlos Alexandre enviou também o envelope contendo as escutas e as mensagens de telemóvel, que se encontra, até agora, guardado no cofre do tribunal de Ovar.
 
Até breve

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A anedota da "silly season"...


 
 
Rei morto, rei posto e... nem as moscas mudam!...
 
O nosso país não é um país corrupto, os nossos políticos não são políticos corruptos, os nossos dirigentes não são dirigentes corruptos. Portugal não é um país corrupto. Existe corrupção obviamente, mas rejeito qualquer afirmação simplista e generalizada, de que o país está completamente alheado dos direitos, de um comportamento ético (...) de que é um país de corruptos...
 
Portugal importa muito. Importa quase tudo o que lhe é preciso para ir sobrevivendo. Importa em quantidade, sem se preocupar muito com a qualidade, nem como vai pagar ou se alguma vez o poderá fazer. Importou por exemplo o conceito anglo-saxónico da "silly season" que se refere ao período de férias dos políticos, tribunais, donos da bola, analistas políticos, jornalistas, etc.. Mas seguindo as sua honrosas tradições, virou a expressão do avesso.
Lá, por onde foi "inventada", a expressão significará vazio noticioso, porque com toda a gente importante de "vacanças", os diversos meios de CS valem-se da frivolidade e estupidez dos temas que lhes sobram, para preencher os seus espaços. Por cá, com a demagogia, mesquinhez, corrupção e superficialidade a banhos, é normal podermos beber nas notícias alguma inteligência, substância e profundidade. Esta é a regra. E para que verdadeiramente assim seja entendida, terá que ter excepções à perna. E tem. Todos os anos. E este final de Verão de 2012 confrirmou-o.
A senhora Procuradora Geral Adjunta e directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), em campanha acelerada para deixar a adjunção e subir o último degrau da hierarquia da desgraçada justiça portuguesa, numa conferência na Universidade de Verão do PSD - santa ingenuidade! -, em Castelo de Vide, contou-nos a melhor anedota, no estertor desta "silly season", que vos deixei no início, com a cor da moda e do sucesso...
 
Até breve