sexta-feira, 8 de abril de 2022

"Malheureusement rien n'a changé"!!!...


Mais do que o original de Bob Dylan, esta versão de Richard Anthony acompanhou toda a minha juventude, sem que alguma vez nas quase seis décadas seguintes, eu tenha sido capaz de encontrar as respostas que sempre procurei!...

"Malheureusement rien n'a changé"!!!...

Até breve

quinta-feira, 24 de março de 2022

Todos nós, portugueses, o merecemos!!!...



Ora então, finalmente, e depois de uma insólita e surpreendente repetição de eleições pelo círculo da Europa que, ironicamente ou talvez não, reforçou ainda mais a maioria absoluta do PS - são agora 220 os deputados socialistas! - eis-nos confrontados com a lista completa e supostamente hierarquizada do XXIII Governo Constitucional:

Primeiro-ministro - António Costa

Ministra da Presidência
Mariana Vieira da Silva;
Ministro dos Negócios Estrangeiros
João Gomes Cravinho;
Ministra da Defesa Nacional
Helena Carreiras;
Ministro da Administração Interna
José Luís Carneiro;
Ministra da Justiça
Catarina Sarmento e Castro;
Ministro das Finanças
Fernando Medina;
Ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares
Ana Catarina Mendes;
Ministro da Economia e do Mar
António Costa Silva;
Ministro da Cultura
Pedro Adão e Silva;
Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
Elvira Fortunato;
Ministro da Educação
João Costa;
Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social
Ana Mendes Godinho;
Ministra da Saúde
Marta Temido;
Ministro do Ambiente e da Acção Climática
Duarte Cordeiro;
Ministro das Infra-estruturas e da Habitação
Pedro Nuno Santos;
Ministra da Coesão Territorial
Ana Abrunhosa;
Ministra da Agricultura e da Alimentação
Maria do Céu Antunes

Com o "saudoso" suporte da geringonça a carpir as agruras da auto-flagelação a que o seu lirismo conduziu, uma direita perdida nos insondáveis e tortuosos atalhos que eternamente teimará em encontrar sem sucesso e os vários populismos que por aí vemos a querer medrar, sofrendo quiçá a derradeira e inesperada devastação a que Putin os entendeu sujeitar, António Costa só não terá a legislatura com que sempre sonhou, se vier a cometer os mesmos erros que os líderes de todas as anteriores maiorias absolutas que o nosso povo entendeu conceder-lhes...

António Costa é um homem extremamente inteligente! Espero e desejo que não permita que a História se repita.

Todos nós, portugueses, o merecemos!!!...

Até breve

quarta-feira, 23 de março de 2022

Como acabará "Pedro, o Grande"?!...

 


As marionetas de Putin

«Hoje, caro leitor, cara leitora, quero apenas falar-vos de duas entrevistas que li nos últimos dias. São úteis para tentar entender melhor  a guerra de Putin e aqueles que, de forma mais ou menos descarada, o apoiaram e admiraram nas nossas democracias liberais. Não foram poucos. São entrevistas a dois intelectuais europeus notáveis, cujos nomes lhe são certamente familiares: o historiador francês Olivier Roy e o politólogo e historiador búlgaro Ivan Krastev. Tento apenas resumir algumas das suas ideias.

A Idade Média com bombas

“Ele está na época errada e não percebe. Putin é ao mesmo tempo um estratega do século XIX e um homem soviético, tem uma visão territorial do poder e uma visão cultural do império russo em torno da sua componente eslava e ortodoxa. Não compreendeu que o patriotismo ucraniano existe e que o sistema soviético, fundado numa federação de repúblicas socialistas acabou, paradoxalmente, por reforçar, na Ucrânia, na Geórgia e na Arménia, os nacionalismos republicanos”, explica Olivier Roy numa entrevista publicada no último número do L’Observateur, dedicado à guerra de Putin na Ucrânia. “Quer ser o novo Pedro, o Grande, e deixar o seu nome na História, aparecendo como aquele que restabeleceu o império russo – é esta a sua obsessão. A loucura está em fazer uma guerra do século XIX no século XXI”.

Talvez seja este desfasamento no tempo que faz com que, 28 dias desde o início da invasão, quase todos os seus objectivos tenham até agora fracassado. É verdade que à custa da resistência heróica dos ucranianos, liderados por um Presidente que, esse sim, é um herói do nosso século. Se a Ucrânia não existia, a resistência ucraniana não podia fazer parte dos seus cálculos. Mas este não foi o seu único engano. “Em duas semanas, Vladimir Putin – um homem que Trump descreveu recentemente como um ‘génio estratégico’ – conseguiu revitalizar a NATO, unificar um Ocidente que estava profundamente dividido, transformar um Presidente quase desconhecido num herói global, destruir a economia russa, consolidar o seu legado como um criminoso de guerra”, escreve Brian Klass, do University College de Londres, na revista The Atlantic.

Nada disto nos ajuda a tornar suportável o martírio de Mariupol. “Como na Idade Média, mas com bombas”, descreve a Economist, citando um habitante da cidade cercada. Nem sequer a prever quando e como terá fim. Ajuda-nos apenas a deitar por terra o que ainda resta dos argumentos daqueles que continuam desesperadamente – ou deliberadamente – a tentar encontrar uma justificação para a guerra bárbara e injustificável que Putin desencadeou contra a Ucrânia – seja ela no “complexo de cerco” do país mais extenso do mundo, no alargamento da NATO, nas intenções belicistas dos Estados Unidos ou na “humilhação” sofrida pela Rússia e imposta pelo Ocidente, depois da implosão da União Soviética. Ou daqueles que repetem acriticamente, como cães de fila do Kremlin, que o Governo de Kiev é uma extensão de forças neonazis que se movem na sombra e que merecem tudo aquilo que lhes está a acontecer. Já são raros, cada vez mais envergonhados, mas ainda os há, tentando semear a dúvida, que já não pode existir para qualquer ser humano que se considere normal.

Mas o que merece reflexão é o facto de tanta gente, nas democracias ocidentais, ter defendido o Presidente russo, a sua versão da história, o seu expansionismo agressivo e os seus métodos autocráticos. Foi preciso uma guerra no coração da Europa, que nos levou de volta à II Guerra Mundial, para que essa corrente política conta a democracia liberal começasse a retroceder. Também nesta frente de batalha, Putin consegue destruir quase toda a influência que tinha conquistado no coração das próprias democracias. A linha divisória entre a democracia liberal e os seus adversários transformou-se numa barreira intransponível. Não há zonas cinzentas. Também aqui, Putin prestou um enorme favor às forças políticas democráticas sobre as quais se construiu a Europa depois da guerra e depois da queda do Muro de Berlim.

A tentação iliberal

Voltando a Olivier Roy. “Tínhamos visto um deslizamento favorável à Rússia de Putin em segmentos significativos das opiniões públicas ocidentais: uma certa direita cristã, a maioria dos populistas e alguns meios profundamente conservadores. (…) Este deslizamento tem, naturalmente, um nome – a ‘ameaça islamista’. O 11 de Setembro exacerbou esta tendência, permitindo aos movimentos populistas desenvolverem-se a partir da rejeição do Islão”. Conhecemos demasiado bem esta história, aliás fundada no “confronto de civilizações” de Samuel Huntintgon, publicada em 1993, que alimentou os supremacistas brancos americanos, que infectou o Partido Republicano, que conquistou o apoio dos evangélicos, que deu força aos Orbán, aos Salvini, às Le Pen e a tantos outros, e que hoje caiu por terra fragorosamente na guerra de Putin contra um país-irmão igualmente de maioria eslava e ortodoxa. “Neste jogo [de civilizações], a Rússia aparecia, para toda esta franja ‘reaccionária’, como uma aliada, como uma muralha do Ocidente”. Como o último reduto dos valores cristãos tradicionais contra a sua “perversão” nas sociedades liberais.

Os populistas odeiam o lado liberal da democracia. Putin vê nos seus valores liberais o sinal da decadência irreversível do Ocidente. A guerra sem limites que desencadeou contra a Ucrânia não está a destruir apenas a vida e os haveres do seu povo. Está a destruir, argumento a argumento, esta corrente política europeia que teve uma vida fácil nos últimos anos. Talvez não até aos escombros. Ainda há em França quem continue disponível para votar em Eric Zemmour, que não renegou o seu deslumbramento pelo novo czar de Moscovo, embora agora tente disfarçá-lo. A sua popularidade está em queda. “Hoje, Putin tornou-se indefensável. Faz medo”, diz o historiador francês. “Sacrificou o soft power que tinha adquirido nos últimos vinte anos e que lhe permitiram ser um actor global, por uma visão puramente territorial do poder da Rússia.”

Hoje, sabemos com uma clareza meridiana, o que já sabíamos antes: que a única muralha contra esse deslizamento de que fala Roy é a democracia liberal com a sua crença profunda em que todas as pessoas nascem iguais em direitos.

Se quisermos continuar este esforço para entender Putin e a sua “ditadura personalizada”, que construiu ao longo de vinte anos de poder, isolado no seu castelo do Kremlin, tratando os seus próximos como vassalos, debitando os seus discursos “alternativos”, reprimindo o seu povo, vale a pena ler uma outra entrevista, publicada no último número da revista alemã Der Spiegel (na sua versão em inglês), a Ivan Krastev, cientista político búlgaro a trabalhar em Viena, cujas obras sobre a Europa são hoje uma referência. “Putin vive de analogias históricas e de metáforas”. É sobre o isolamento do Presidente russo, a forma como compreende a História da Rússia e como se tornou um prisioneiro da sua própria retórica.

“Putin tem uma missão a cumprir e evitar riscos deixou de ter importância para ele. Pode parecer demasiado psicologista, mas ele faz parte da última geração soviética. A sua função como agente do KGB era defender e proteger a União Soviética. Mas ele e os seus próximos falharam. A União Soviética colapsou de um dia para o outro, sem uma guerra, sem uma invasão. Putin e o KGB não compreenderam o que aconteceu. Apenas que fracassaram. Creio que tem um forte sentimento de culpa.” O facto de, em 1989, estar estacionado na Alemanha Oriental, mais precisamente em Dresden, tornou os acontecimentos que abalaram o mundo e puseram fim à Guerra Fria ainda mais difíceis de compreender. Não viveu por dentro o colapso da União Soviética. O que viveu “foi a euforia nacional na Alemanha quando caiu o muro, porque estava lá.”

Aqueles que fogem

Hoje, calcula-se que mais de 300 mil russos, quase todos quadros relativamente jovens que, mesmo rejeitando o regime, organizaram as suas vidas de forma a poderem continuar no seu país e desenvolver o seu trabalho, já abandonaram a Rússia nas últimas três semanas. A New Yorker ouviu alguns deles. São relatos impressionantes. Alguns saíram de carro pela fronteira finlandesa. Houve inúmeras reportagens sobre isso. Outros viram-se obrigados a tomar vários voos para poder chegar a uma qualquer cidade europeia onde acreditam poder reconstruir as suas vidas.

A Rússia está a perder uma geração que viveu quase toda a sua vida depois do fim da URSS com relativa liberdade. Pelo menos durante algum tempo. Que conhecia o mundo e que não consegue assistir à “estalinização” da Rússia. Para ser Pedro, o Grande, Putin tem de ser Estaline. Pode destruir a Ucrânia. Já destruiu a Rússia. É preciso travá-lo antes que prossiga a sua guerra de destruição.

No sábado passado, fui visitar o Museu do Holocausto de Houston com as minhas netas mais velhas. É um museu impressionante e exaustivo, onde é possível assistir também aos depoimentos dos judeus que fugiram a Hitler e que reconstruíram as suas vidas aqui. Não foi há tanto tempo assim. Na entrada, estão inscritas duas frases de Elie Wiesel. “É preciso escolher de que lado se está. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima”. E a segunda, um pouco mais à frente: “A indiferença é o pior de todos os pecados.”

Até terça-feira.»
(Teresa de Sousa, in Público, ontem)

Como acabará "Pedro, o Grande"?!...

Até breve

quinta-feira, 17 de março de 2022

Haverá alternativa?!...


Se há uma lição a tirar destes 21 dias de conflito, é que os ucranianos reforçaram o seu direito à independência pela forma como estão a enfrentar uma das mais poderosas máquinas de guerra do planeta.

«Ainda é demasiado cedo para se poder acreditar num processo de paz sério para acabar a guerra na Ucrânia. Mas após três semanas de pesadelo é um sinal de esperança constatar que os primeiros passos para lá chegar podem ter sido dados. Ao reconhecer que a impossibilidade de a Ucrânia integrar a NATO é “um facto que temos de aceitar”, o Presidente ucraniano, Volodimir Zelenskii, estava a “lançar pontes” para um entendimento com a Rússia. O reconhecimento por parte do ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, de que há um plano a ser “seriamente discutido” reforça essa possibilidade. »

Um preço demasiado elevado para o povo ucraniano. Mas...

Haverá alternativa?!...

Até breve

segunda-feira, 14 de março de 2022

O pior seria o resto!!!...


Guardiola fala bem mas o pior é o resto

«O boicote generalizado às equipas e atletas russos nas diversas modalidades encontra a sua maior excepção no ténis, logo uma das actividades desportivas mais mediáticas. Com Daniil Medvedev acabado de chegar a número 1 do ‘ranking’ ATP, a sua eventual ausência de Roland Garros e de Wimbledon constituiria um golpe tão rude no negócio, que aos responsáveis da Federação Internacional de Ténis (ITF) falta a coragem para tomar a decisão de o afastar.

Medvedev, aliás, não só nunca condenou a invasão da Ucrânia, o que prejudicaria os seus interesses na Rússia, como nem sequer esboçou um discreto ‘stop the war’, essa expressão conveniente e ambígua, que tanto significa que se deseja que o invasor pare com a agressão como que o invadido se renda. Para a ITF, basta que o tenista aceite a ‘censura’ à bandeira natal e fica tudo em harmonia.

Mas vou mais longe do que o politicamente correcto e manifesto a minha reserva quanto à aplicação cega das medidas de isolamento, em especial no que respeita à presença de protagonistas russos que, em boa verdade, se representam a si próprios, seja no campo desportivo, cultural ou outro. Parece-me absurdo que um profissional qualificado perca o seu trabalho só pelo facto de ter nascido russo. E à luz dessa lógica não se deveria aceitar como natural a participação de Medvedev nas competições? Apetece-me dizer que sim, apesar de saber que o seu afastamento dos torneios de Paris e de Londres teria um impacto tão forte que Putin merecia senti-lo.

Sim, Putin é o problema. E não vou entrar na retórica que o levou a optar pela guerra porque, resumindo a questão, o que se passa agora é isto: se ele resolver, imagine-se, bombardear a Polónia – alegando, por exemplo, que lá se acoitam paramilitares neonazis, como os do Batalhão de Azov – o resultado será a Terceira Guerra Mundial, que fará do conflito da Ucrânia uma sessão de treino.

Sim, eu sei que se pode concluir, pelo desastroso desempenho russo destes 18 dias, que o confronto com as forças da NATO acabaria com o regime de Moscovo. O que não terminaria tão cedo seriam os efeitos devastadores, económicos e sociais, de uma tragédia que aumentaria ainda se houvesse – e dificilmente não haveria – recurso a armas nucleares. E é isso que queremos? Que a loucura dos ‘corajosos’ destrua o Planeta?

E quando me refiro a ‘corajosos’ não estou apenas a pensar nos ‘senhores da guerra’. Conto também com a ‘coragem’ dos bem-postos na vida, que defendem princípios muito bonitos e que todos podemos partilhar. O pior é o resto. Perguntava Pep Guardiola: "Onde está a NATO? Onde estão os Estados Unidos? Onde está a União Europeia?" Ou dizia Jürgen Klopp: "Está na hora de demonstrar solidariedade, verdadeira solidariedade [com o povo ucraniano]". Ora, ter mais solidariedade do que tem havido é meter a NATO ao barulho e arrastar a Humanidade para o apocalipse. Estamos indefesos e nas mãos de um psicopata, à deriva num mundo de bem-falantes e doidos varridos...»

O meu reconhecido aplauso para Alexandre Pais. Valha-nos a sapiência dos mais velhos e a inteligência dos grandes líderes neste "mundo de bem-falantes e doidos varridos"...

Também não tenho dúvidas, sublinhando a traço bem carregado, o que nos diz Alexandre Pais, que face "ao desastroso desempenho russo destes 18 dias, o confronto com as forças da NATO acabaria com o regime de Moscovo", mas...

O pior seria o resto!!!...

Até breve

segunda-feira, 7 de março de 2022

Quanto valerá um putin?!...



Rublo desvaloriza 86% desde o início da invasão da Ucrânia
No passado dia 23 de Fevereiro, na véspera da invasão, um euro valia  quase 90 rublos. Ao final do dia de hoje eram precisos 165 rublos para comprar um euro.

Quanto valerá um putin?!...

Até breve

quarta-feira, 2 de março de 2022

Em todo o tempo é tempo!...



Porque é que Vladimir Putin já perdeu esta guerra
Os russos podem ainda conquistar a Ucrânia. Mas os ucranianos têm mostrado nos últimos dias que não os deixarão ficar com ela.

«Com menos de uma semana de guerra, parece cada vez mais provável que Vladimir Putin caminhe para uma derrota histórica. Pode ganhar todas as batalhas, mas mesmo assim perder a guerra. O sonho de Putin de reconstruir o império russo sempre se baseou na mentira de que a Ucrânia não é uma nação real, que os ucranianos não são um povo real e que os habitantes de Kiev, Kharkiv e Lviv anseiam pelo domínio de Moscovo. Isso é uma mentira completa — a Ucrânia é uma nação com mais de mil anos de história e Kiev já era uma grande metrópole quando Moscovo não era sequer uma aldeia. Mas o déspota russo já contou a sua mentira tantas vezes que aparentemente ele próprio acredita nisso.

Ao planear a sua invasão da Ucrânia, Putin pôde contar com muitos factos conhecidos. Ele sabia que militarmente a Rússia faz da Ucrânia uma anã. Ele sabia que a NATO não enviaria tropas para ajudar a Ucrânia. Ele sabia que a dependência europeia do petróleo e gás russos levaria a que países como a Alemanha hesitassem em impor sanções duras. Com base nestes factos conhecidos, o seu plano era atingir a Ucrânia com força e rapidez, decapitar o seu Governo, estabelecer um regime fantoche em Kiev e enfrentar as sanções ocidentais.

Mas havia um grande facto desconhecido sobre este plano. Como os americanos aprenderam no Iraque e os soviéticos aprenderam no Afeganistão, é muito mais fácil conquistar um país do que mantê-lo. Putin sabia que tinha o poder de conquistar a Ucrânia. Mas será que o povo ucraniano aceitaria simplesmente o regime fantoche de Moscovo? Putin apostou que sim. Afinal, como ele explicou repetidamente a qualquer pessoa disposta a ouvir, a Ucrânia não é uma nação real, e os ucranianos não são um povo real. Em 2014, o povo da Crimeia dificilmente resistiu aos invasores russos. Por que razão deveria 2022 ser diferente?

A cada dia que passa, torna-se mais claro que o jogo de Putin está a falhar. O povo ucraniano está a resisitir com toda a força, ganhando a admiração de todo o mundo — e ganhando a guerra. Muitos dias sombrios estão pela frente. Os russos ainda podem conquistar toda a Ucrânia. Mas, para vencer a guerra, os russos teriam de segurar a Ucrânia e só o podem fazer se o povo ucraniano o permitir. Parece cada vez mais improvável que isso aconteça.

Cada tanque russo destruído e cada soldado russo morto aumentam a coragem dos ucranianos para resistir. E cada ucraniano morto aprofunda o ódio dos ucranianos contra os invasores. O ódio é a mais feia das emoções. Mas, para as nações oprimidas, o ódio é um tesouro escondido. Enterrado no fundo do coração, pode alimentar a resistência durante gerações. Para restabelecer o império russo, Putin precisa de uma vitória relativamente sem derramamento de sangue que conduza a uma ocupação relativamente sem ódio. Ao derramar cada vez mais sangue ucraniano, Putin está a garantir que o seu sonho nunca será realizado. Não será o nome de Mikhail Gorbatchov que ficará escrito na certidão de óbito do império russo: será o de Putin. Gorbatchov deixou russos e ucranianos a sentirem-se como irmãos; Putin transformou-os em inimigos e assegurou que a nação ucraniana se definirá doravante em oposição à Rússia.

As nações são, em última análise, construídas sobre histórias. Cada dia que passa acrescenta mais histórias às que os ucranianos irão contar não só nos dias sombrios que se avizinham, mas também nas décadas e gerações vindouras. O Presidente que se recusou a fugir da capital, dizendo aos EUA que precisa de munições, não de boleia; os soldados da ilha de Zmiinii que disseram a um navio de guerra russo para "se ir foder"; os civis que tentaram parar os tanques russos, sentando-se no seu caminho. É deste material que as nações são construídas. A longo prazo, estas histórias contam mais do que tanques.

O déspota russo deveria saber isto tão bem como qualquer pessoa. Nos tempos de criança, cresceu com uma dieta de histórias sobre atrocidades alemãs e a coragem russa no cerco de Leninegrado. Está agora a produzir histórias semelhantes, mas escolhendo fazer o papel de Hitler.

As histórias da bravura ucraniana dão determinação não só aos ucranianos, mas a todo o mundo. Elas dão coragem aos governos das nações europeias, à Administração dos EUA e mesmo aos cidadãos oprimidos da Rússia. Se os ucranianos ousam parar um tanque com as suas próprias mãos, o Governo alemão pode ousar fornecer-lhes alguns mísseis antitanque, o Governo americano pode ousar banir a Rússia do SWIFT e os cidadãos russos podem ousar manifestar a sua rejeição a esta guerra sem sentido.

Todos podemos ser inspirados a ousar fazer algo, seja fazer uma doação, acolher refugiados ou ajudar com a luta online. A guerra na Ucrânia vai moldar o futuro do mundo inteiro. Se a tirania e a agressão forem autorizadas a vencer, todos sofreremos as consequências. Não há razão para continuarmos a ser apenas observadores. É tempo de nos erguermos e sermos tidos em conta.

Infelizmente, é provável que esta guerra seja duradoura. Assumindo formas diferentes, pode muito bem durar anos. Mas a questão mais importante já foi decidida. Os últimos dias provaram ao mundo inteiro que a Ucrânia é uma nação muito real, que os ucranianos são um povo muito real e que definitivamente não querem viver sob um novo império russo. A questão principal deixada em aberto é quanto tempo levará para que esta mensagem penetre nas paredes espessas do Kremlin.»

(Yuval Noah Harari, in Público em 2 de Março de 2022 às 13:07)

E a nossa aprendizagem continua...

Em todo o tempo é tempo!...

Até breve

sábado, 26 de fevereiro de 2022

Aprender até morrer!!!...


Como chegámos aqui?

«Apostados em não reconhecer o seu declínio, desde a saída caótica do Afeganistão ao medíocre desempenho na pandemia, os EUA insistem em fugas para a frente, e nessa estratégia pretendem arrastar a Europa.

A soberania da Ucrânia não pode ser posta em causa. A invasão da Ucrânia é ilegal e deve ser condenada. A mobilização de civis decretada pelo presidente da Ucrânia pode ser considerada um acto desesperado, mas faz prever uma futura guerra de guerrilha. Putin deveria ter presente a experiência dos EUA no Vietnam: o exército regular de um invasor, por mais poderoso que seja, acabará por ser derrotado, se o povo em armas se mobilizar contra ele. Tudo isto faz prever incalculáveis perdas de vida humana inocente. Ainda mal refeita da pandemia, a Europa prepara-se para um novo desafio de proporções desconhecidas. A perplexidade perante tudo isto não poderia ser maior.

A pergunta é esta: como e porquê chegámos aqui? Há trinta anos a Rússia (então União Soviética) saía derrotada da Guerra Fria, desmembrava-se, abria as suas portas ao investimento ocidental, desmantelava o Pacto de Varsóvia, o correspondente soviético da NATO, os países do Leste Europeu emergiam da subordinação soviética e prometiam democracias liberais numa vasta área da Europa. O que se passou desde então para que o Ocidente esteja hoje de novo a defrontar a Rússia? Dada a diferença de poder entre a Rússia e as potências ocidentais em 1990, a resposta mais imediata será que tal se deve à total inépcia dos líderes ocidentais para capitalizaram os dividendos do colapso da União Soviética.

Sem dúvida que a inépcia é patente e caracteriza bem o comportamento da União Europeia ao longo destes anos. Foi incapaz de construir uma base sólida para a segurança europeia que obviamente teria de ser construída com a Rússia, e não contra a Rússia, quanto mais não seja para honrar a memória de cerca de vinte e quatro milhões de mortes, o preço que a Rússia pagou para se libertar e liberar a Europa do jugo nazi.

Mas esta resposta é insuficiente se tivermos em mente a política externa dos EUA nos últimos trinta anos. Com o fim da Guerra Fria, os EUA sentiram-se donos do mundo, um mundo finalmente unipolar. As potências nucleares que os podiam ameaçar estavam neutralizadas ou eram amigas. As ideias de correlação de forças e de equilíbrio de poderes desapareceram do seu vocabulário. Esta acalmia fazia inclusivamente prever o fim da NATO por falta de objectivo. Mas havia a Jugoslávia, o país que, depois do fim da ocupação nazi em 1945, o general Tito tinha transformado numa federação de regiões (Croácia, Eslovénia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro, Sérvia Kosovo, Macedónia), um regime que se pretendia independente tanto da União Soviética como do Ocidente. Os EUA, com o entusiástico apoio da Alemanha, acharam que era tempo de a Jugoslávia colapsar. Os graves conflitos internos e as crises financeiras dos anos 1980 foram aproveitadas para fomentar a divisão e o ódio. Uma região, onde antes florescera o convívio interétnico e inter-religioso, transformou-se num campo de ódios. A nova guerra dos Balcãs, no início da década de 1990, transformava-se assim na primeira guerra em solo europeu depois de 1945. Violência inaudita foi cometida por todos os contendores, mas para o Ocidente, os vilões eram apenas os sérvios, todos os outros povos eram nacionalistas heróicos. Os países ocidentais (à cabeça, a Alemanha) apressaram-se a reconhecer a independência das novas repúblicas em nome dos direitos humanos e da protecção das minorias. Em 1991, o Kosovo exigia em referendo a sua independência da Sérvia e oito anos depois a NATO bombardeava Belgrado para fazer cumprir a vontade dos kosovares

Qual é a diferença entre o Kosovo e Donbass, onde as repúblicas etnicamente russas realizaram referendos em que manifestaram a favor da independência? Nenhuma, excepto que o Kosovo foi apoiado pela NATO e as repúblicas do Donbass são apoiadas pela Rússia. Os acordos de Minsk de 2014 e 2015 previam a grande autonomia destas regiões. A Ucrânia recusou-se a cumpri-los. Foram, pois, rasgados muito antes de Putin fazer o mesmo. Qual a diferença entre a ameaça à sua segurança sentida pela Rússia perante o avanço da NATO e a “crise dos mísseis” de 1962, quando os soviéticos tentaram instalar mísseis em Cuba e os EUA, ameaçados na sua segurança, prometeram defender-se com todos os meios, inclusivamente a guerra nuclear?

A resposta à pergunta sobre como e por que chegámos aqui reside fundamentalmente num erro estratégico dos EUA e da NATO, o de não terem visto que nunca estiveram num mundo unipolar por eles dominado. No momento em que terminava a primeira guerra fria, crescia a China, com o apoio entusiasta das empresas norte-americanas em busca de salários baixos. Assim germinava o novo rival dos EUA, e com isso a nova Guerra Fria em que estamos a entrar, aliás potencialmente mais séria que a anterior. Apostados em não reconhecer o seu declínio, desde a saída caótica do Afeganistão ao medíocre desempenho na pandemia, os EUA insistem em fugas para a frente, e nessa estratégia pretendem arrastar a Europa. Esta pagará uma alta factura pelo que se está a passar. A mais alta de todas recairá sobre a Alemanha, o motor da economia europeia e a única verdadeiramente concorrente dos EUA. É fácil concluir quem beneficiará da crise que aí vem, e não me refiro apenas a quem irá fornecer o petróleo e o gás. Por sua vez, a tentativa de isolar a Rússia, sobretudo depois de 2014, visa acima de tudo a China. Será outro erro estratégico pensar que assim se enfraquece a China. A China acaba de declarar que não há comparação possível entre a Ucrânia e Taiwan porque, para ela, Taiwan é território chinês. A implicação é clara: para a China, a Ucrânia não é território russo. Mas daí a pensar que se está a criar uma divisão entre a China e a Rússia será pura auto-ilusão.

Não tenho dúvida de que para a Europa é melhor um mundo multipolar governado por regras de coexistência pacífica entre as grandes potências do que um mundo exclusivamente dominado por um só país, porque, se isso alguma vez vier a suceder, será à custa de muito sofrimento humano. A invasão da Ucrânia é inaceitável. O que não se pode dizer é que não foi provocada. A Rússia, como grande potência que é, não se devia deixar provocar. Será que a invasão da Ucrânia é mais uma demonstração de fraqueza do que de força? Os próximos tempos o dirão.»

Lado Lunar
Canção de Rui Veloso

Não me mostres o teu lado feliz
A luz do teu rosto quando sorris
Faz-me crer que tudo em ti é risonho
Como se viesses do fundo de um sonho
Não me abras assim o teu mundo
O teu lado solar só dura um segundo
Não é por ele que te quero amar
Embora seja ele que me esteja a enganar
Toda a alma tem uma face negra
Nem eu nem tu fugimos à regra
Tiremos à expressão todo o dramatismo
Por ser pra ti eu uso um eufemismo
Chamemos-lhe apenas o lado lunar
Mostra-me o teu lado lunar
Desvenda-me o teu lado mal-são
O túnel secreto a loja de horrores
A arca escondida debaixo do chão
Com poeira de sonhos e ruínas de amor
Eu hei-de te amar por esse lado escuro
Com lados felizes eu já não me iludo
Se resistir à treva é um amor seguro
À prova de bala à prova de tudo
Toda a alma tem uma face negra
Nem eu nem tu fugimos à regra
Tiremos à expressão todo o dramatismo
Por ser pra ti eu uso um eufemismo
Chamemos-lhe apenas o lado lunar
Mostra-me o teu lado lunar
Mostra-me o avesso da tua alma
Conhecê-lo e tudo o que eu preciso
Pra poder gostar mais dessa luz falsa
Que ilumina as arcadas do teu sorriso
Não é por ela que te quero amar
Embora seja ela que me vai enganar
Se mostrares agora o teu lado lunar
Mesmo às escuras eu não vou reclamar
Toda a alma tem uma face negra
Nem eu nem tu fugimos à regra
Tiremos à expressão todo o dramatismo
Por ser pra ti eu uso um eufemismo
Chamemos-lhe apenas o lado lunar
Mostra-me o teu lado lunar
Mostra-me, mostra-me o teu lado lunar
Mostra-me o teu lado lunar
Mostra-me, mostra-me o teu lado lunar
Mostra-me, mostra-me, mostra-me o teu lado lunar.

A leitura do "soberano" texto de Boaventura de Sousa Santos colou-me na memória uma das canções escritas por Carlos Tê, que Rui Veloso musicou, cantou e ofereceu à música portuguesa e que por certo ocupará um dos lugares do pódio no meu modesto catálogo de música portuguesa...

Creio bem que o Director Emérito do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e também Coordenador do Observatório Permanente da Justiça, não se ficará apenas pela surpresa que me trouxe ao mostrar "o lado lunar da Europa e, quem sabe(?), se do Mundo"! Decerto que não serão poucos os que, concluída a leitura, passarão a conviver com surpresa igual à minha, quiçá até perigosamente próxima à que Putin acaba de provocar ao mundo.

Por esta eu não esperava, não!...

Aprender até morrer!!!...

Até breve

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Valha-nos D. Afonso!!!...


E parece ainda haver em Portugal quem se dê ao desplante de estar de acordo com as ideias políticas deste monstro!... 

Valha-nos D. Afonso!!!...

Até breve

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Acidental ou imperiosa renovação?!...


Deputada Paula Santos será a nova líder parlamentar do PCP – e a primeira mulher comunista na função

Química de profissão, Paula Santos tem sido eleita deputada por Setúbal desde 2011. Pertence ao comité central do PCP e foi vereadora da Câmara do Seixal entre 2005 e 2009, município onde já integrou também a Assembleia Municipal.

Na legislatura que agora termina assumiu a vice-presidência da Comissão de Saúde e foi coordenadora da bancada do PCP na mesma comissão e na de Administração Pública, Modernização Administrativa, Descentralização e Poder Local. Estas são as áreas, a par da do Ambiente, a que também esteve ligada nas anteriores legislaturas.

Acidental ou imperiosa renovação?!...

Até breve

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Um grande desafio para Costa e Marcelo!...


Há agora um novo e surpreendente mapa cor-de-rosa em Portugal que, resultando desta maioria absoluta, traduz a vontade do povo português, mas uma vontade que mostra que o povo, não desejando mudar de governo, terá pretendido claramente mudar de parlamento, o que  também poderá vir determinar uma certa mudança em Belém, uma vez que o exercício da magistratura de influência pelo Presidente da República poderá obrigar a um exercício mais difícil e requerer um esforço ainda maior de inteligência e resiliência...

Um grande desafio para Costa e Marcelo!...

Até breve

Nada que por aqui não tivesse sido antecipado!!!...

in jornal Público, ontem ao fim da noite

Nada que por aqui não tivesse sido antecipado!!!...

Até breve

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Coitada da Catarina 'Aflita' Martins!!!...


No recente debate PS/BE, António Costa não terá aparecido a Catarina Martins com a mesma fúria com que enfrentou e pôs K.O. Jerónimo de Sousa. Mas se a ainda líder do Bloco não saiu do 'combate' em K.O. técnico, terá perdido substancial intensidade a sua boa estrela nos frente a frente pré-eleitorais.
Costa vinha para matar, embora mais cauteloso e agradável do que com o anterior 'ex-parceiro', mas a líder bloquista jogou nitidamente à defesa quando o líder socialista acusou o Bloco de já ter chumbado o orçamento de 2021: "Em Outubro de 2020, romperam com o PS, o PCP e o PEV. Não foi uma atitude responsável". Catarina apenas terá conseguido, em contraponto, balbuciar o simplório argumento de que tinha sido o Bloco a viabilizar os estados de emergência e o orçamento suplementar de 2020, não conseguindo mesmo assim evitar o sorriso vencedor que inundou o rosto de Costa, em flagrante contraste com a 'aflição' da pálida bloquista, consciente do 'desastre' iminente da estratégia usada para provocar umas eleições desnecessárias e quiçá redundantes ou pior ainda...

Coitada da Catarina 'Aflita' Martins!!!...

Até breve

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Coitado do Jerónimo 'Coitado' de Sousa!...


O debate de ontem entre Jerónimo e Costa trouxe-me momentos de alguma penosidade, com o secretário-geral do PCP a admitir “novas soluções” tipo “geringonça” e António Costa a descartar, sem dó, repetir o passado comum, perante o outrora parceiro “mais confiável”...

Coitado do Jerónimo 'Coitado' de Sousa!...

Até breve