quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Tudo tem uma primeira vez!...


Apontamentos sobre estas tristes Autárquicas


Estas eleições são as primeiras da história da democracia em que não há contestação aberta ao Governo e os socialistas estão lá em cima nas sondagens.

«No domingo temos a oportunidade de sair de casa e depositar a nossa confiança em alguém que acreditamos para gerir a nossa comunidade local. Por estas alturas sabemos que já não se debate nada, os media seguem o folclore, as comitivas, candidatos e as figuras de proa dos partidos, o barulho apagou as poucas, pouquíssimas, propostas que estavam em cima da mesa. Tenho de confessar que estas foram provavelmente das mais fracas e vazias campanhas das quais tenho memória. Poucas novidades, sumo ideológico e de ideias escasso, muitas figurinhas e poucos homens e mulheres de envergadura. Aqui deixo a minha análise com diversas anotações.

O estado dos partidos – Sabemos que as Locais servem historicamente para mostrar cartões amarelos à governação e já fizeram cair Governos e por isso, habitualmente, quem está no Executivo sofre com elas. Só que desta feita isso não irá acontecer. Estas eleições são as primeiras da história da democracia em que não há contestação aberta ao Governo e os socialistas estão lá em cima nas sondagens. Significa assim que a Marca PS não perdeu valor e os resultados dependerão apenas da força das personalidades em cena em cada concelho. O PSD está num mau momento e sem o fulgor de outras épocas e não pode cavalgar um hipotético mar revolto que ajuda tradicionalmente os partidos da oposição em autárquicas, o CDS meteu a líder no terreno e pode ganhar com isso, PCP e Bloco agarram no melhor da coligação que apoiam mas os comunistas mantêm uma força que ainda lhes possibilita a manutenção de importantes câmaras.

Lisboa já tem dono – No dia 16 de Março, portanto muito tempo antes dos analistas do em cima da hora quando é fácil, escrevi aqui no ECO um texto duro que se intitulava «Medina, Cristas e a amiga de Vale e Azevedo». Ali explicava que Medina tinha a eleição ganha, só com a dúvida da maioria absoluta, Assunção Cristas poderia ter o melhor resultado de sempre em Lisboa do CDS e Tereza Leal Coelho podia ser uma catástrofe. Hoje, o cenário que tracei parece real. Medina só não terá a maioria absoluta por causa do trânsito horrível e pelos debates lhe terem corrido pessimamente. Cristas, que teve uma fase complicada, renasceu e pode bater o resultado obtido por Paulo Portas. Se obtiver dois dígitos é uma vitória retumbante e se ultrapassar o PSD, então, cai o Carmo e a Trindade. Leal Coelho pode ter lutado mas nunca conseguiu apresentar claramente as suas ideias e a campanha foi um desastre total com uma série de erros que irão figurar nos manuais de marketing político (na próxima semana indicarei vários).

Não acredito no suspense no Porto – Até há pouco tempo tudo o que não fosse uma vitória clara de Rui Moreira seria uma enorme surpresa. Eu não acredito em sondagens nesta altura do campeonato, mas certo é que elas baralharam a maneira de ver o que se passará no Porto. Manuel Pizarro foi um vereador competente, está a batalhar bem e com apoios importantes, mas não acredito que esteja assim tão próximo nas intenções de voto do actual edil. Mas no domingo veremos. O PSD mais uma vez escolheu um péssimo candidato e Lisboa e Porto podem ser a face de uma penosa derrota por muito que ganhem outras autarquias.

Os enigmas de Loures, Oeiras e Sintra – Em Loures assistimos a uma experiência de laboratório. Pela primeira vez um indivíduo agarrou numa série de ideias populistas e de extrema-direita com as roupagens de um partido do arco da governação que lhe deu guarida e disparou uma série de “boutades” que assustam o eleitorado moderado. Aqui veremos se os habitantes de Loures se escandalizaram ou se há uma maioria silenciosa que aguardava por um candidato deste calibre. Se houver alguma surpresa que não desejo, teremos um fenómeno tipo Donald Trump que só depois de se alimentar a criatura veremos o monstro em que se tornou: em Oeiras, acredito como disse a tanta gente que Isaltino vai ganhar. Por um motivo claro: os oeirenses continuam a acreditar que ele foi um excelente presidente de câmara e assuntos de corrupção não afectaram a sua imagem de autarca fazedor. Assuntos de corrupção e cadeia vão para debaixo do tapete, uma lição para o futuro; em Sintra, temos o exemplo evidente daqueles que se revoltam com os partidos onde cresceram bem no centro do seu aparelho, se tornam independentes como se de repente se tornassem inovadores e depois voltam a calçar as botas do partido de sempre como se nada se passasse. Se Marco Almeida se apresentasse como independente valeria muito mais do que envergando as vestes do partido que traiu no passado. Isso facilitou o caminho de Basílio Horta. E a lição é simples: Roma não paga a traidores e quem veste uma camisola não a pode andar a vestir e despir consoante os seus caprichos pessoais. Que todos votem no domingo, é um nosso direito e dever cívico.»
(Rui Calafate, Opinião, in ECO)


Um olhar lúcido de um atento e conhecedor jornalista, experimentado perito em comunicação, para uma vertente importante da nossa democracia que, infelizmente, vai estiolando, cada vez mais transformada numa descoroçoante e cada dia menos representativa "união de misericórdias"!...

Surpreenderá muitos esta opinião de Rui Calafate. Apenas porque não o conhecerão e dificilmente lhes terão chegado antes as suas opiniões...

Tudo tem uma primeira vez!...

Até breve

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Nós por cá, todos bem!...




UBER PERDE LICENÇA PARA OPERAR EM LONDRES

«O regulador dos transportes de Londres considera que a abordagem e a conduta da Uber demonstram falta de responsabilidade corporativa em relação a diversos aspectos que têm implicações na segurança pública.»
(TSF, em 22 DE SETEMBRO DE 2017 - 11:38)

Nós por cá, todos bem!...

Até breve

domingo, 3 de setembro de 2017

E se juntas, inexoravelmente, uma tragédia!...


Em "hibernação" há quase dois meses pela razão simples de, não pretendendo ser mais uma voz a clamar no deserto contra uma Justiça incapaz de condenar incendiários responsáveis quase únicos da maior onda de incêndios de que me lembro desde que sou gente e entender que, para além disso, a "geringonça" vai bem e recomenda-se, sem precisar do meu empurrão, enquanto a oposição desfere nos próprios pés os tiros suficientes para perder a pouca credibilidade que lhe resta, volto apenas e fugazmente, para afirmar o meu respeito profundo pela greve, provavelmente uma das maiores conquistas de Abril para todos aqueles que dependem do seu trabalho para que a sua dignidade de nada dependa.

Porém, haverá greves e greves e a greve de menos de metade dos trabalhadores da AutoEuropa, que mesmo assim paralisaram a fábrica, nunca será por mim entendida como uma greve. É que não sou capaz de esquecer outras que vivi bem por dentro em finais da década de 70, de índole muito semelhante e resultados devastadores, nem deixar de lhes associar imagens aberrantes de efusivos abraços de “vitória”, trocados entre sindicalistas da minha trincheira, como se tivessem derrubado as muralhas e tomado uma qualquer cidade, numa hora que eu julgava de tristeza, porque sempre entendi a greve como último e dramático recurso de quem trabalha. Foram factos desse jaez que me afastaram irremediavelmente do projecto político a que dediquei, com convicção, abnegação e profunda solidariedade ideológica, os melhores anos da minha vida. Por isso não precisarei que me assobiem para beber a água pouco transparente que depois de vazado o copo, deixará ante os meus olhos e bem lá no fundo, as razões que sustentam esta greve.

Sei bem o que é trabalhar por turnos, incluindo fins de semana, fins de mês e fins de ano a fio, durante quase três décadas e calculo a dureza de uma linha de montagem. Mas uma coisa é negociar melhores condições, outra é pôr em causa o futuro de três mil trabalhadores. Que lhes dirão depois os sindicalistas que hoje lhes anunciam amanhãs radiosos, se a fábrica entrar em declínio e acordarem com ela a laborar num qualquer recanto ignorado lá para leste? Que a vitória é certa?! Não me façam rir que já vi esse filme! Demasiadas vezes!... 

Certas serão, tenho a certeza, pelas cicatrizes que para sempre me acompanharão até ao fim da minha caminhada, a cegueira ideológica e a estupidez...

E se juntas, inexoravelmente, uma tragédia!...

Até breve