segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Uma raiva a nascer-me nos dentes...

Nicolau Santos é um insuspeito e credenciado jornalista da área económica do jornal Expresso, onde desempenha as funções de Director-adjunto, de que não se conhecem subserviências e genuflexões, com a excepção do uso de numerosos e quase pessoais laços, que lhe substituem no pescoço a formal gravata que me parece nunca ter usado. Terá escrito e publicado esta 2ª feira na edição on-line do jornal, uma das suas mais marcantes peças de análise política, económico e financeira de que me lembro.
É uma carta aberta que dirige ao Primeiro-Ministro e que representará muito provavelmente o pensamento de muitos milhares de portugueses que, não se enquadrando na claque de apoio ao clube governamental, nem dominarem os meandros complexos das teorias económicas, sentem cada vez mais ténue a luz que nos dizem estar colocada no fundo deste terrível e extenso túnel.
Com a devida e respeitosa vénia, eis o que disse e me parece exigir de todos nós uma profunda e séria reflexão:

Sr. primeiro-ministro, depois das medidas que anunciou sinto uma força a crescer-me nos dedos e uma raiva a nascer-me nos dentes, como diria o Sérgio Godinho. V.Exa. dirá que está a fazer o que é preciso. Eu direi que V.Exa. faz o que disse que não faria, faz mais do que deveria e faz sempre contra os mesmos. V.Exa. disse que era um disparate a ideia de cativar o subsídio de Natal. Quando o fez por metade disse que iria vigorar apenas em 2011. Agora cativa a 100% os subsídios de férias e de Natal, como o fará até 2013. Lançou o imposto de solidariedade. Nada disto está no acordo com a troika. A lista de malfeitorias contra os trabalhadores por conta de outrem é extensa, mas V.Exa. diz que as medidas são suas, mas o défice não. É verdade que o défice não é seu, embora já leve quatro meses de manifesta dificuldade em o controlar. Mas as medidas são suas e do seu ministro das Finanças, um holograma do sr. Otmar Issing, que o incita a lançar uma terrível punição sobre este povo ignaro e gastador, obrigando-o a sorver até à última gota a cicuta que o há de conduzir à redenção.
Não há alternativa? Há sempre alternativa mesmo com uma pistola encostada à cabeça. E o que eu esperava do meu primeiro-ministro é que ele estivesse, de forma incondicional, ao lado do povo que o elegeu e não dos credores que nos querem extrair até à última gota de sangue. O que eu esperava do meu primeiro-ministro é que ele estivesse a lutar ferozmente nas instâncias internacionais para minimizar os sacrifícios que teremos inevitavelmente de suportar. O que eu esperava do meu primeiro-ministro é que ele explicasse aos Césares que no conforto dos seus gabinetes decretam o sacrifício de povos centenários que Portugal cumprirá integralmente os seus compromissos - mas que precisa de mais tempo, melhores condições e mais algum dinheiro.
Mas V.Exa. e o seu ministro das Finanças comportam-se como diligentes diretores-gerais da troika; não têm a menor noção de como estão a destruir a delicada teia de relações que sustenta a nossa coesão social; não se preocupam com a emigração de milhares de quadros e estudantes altamente qualificados; e acreditam cegamente que a receita que tão mal está a provar na Grécia terá excelentes resultados por aqui. Não terá. Milhares de pessoas serão lançadas no desemprego e no desespero, o consumo recuará aos anos 70, o rendimento cairá 40%, o investimento vai evaporar-se e dentro de dois anos dir-nos-ão que não atingimos os resultados porque não aplicámos a receita na íntegra.
Senhor primeiro-ministro, talvez ainda possa arrepiar caminho. Até lá, sinto uma força a crescer-me nos dedos e uma raiva a nascer-me nos dentes.

Nicolau Santos, pensou e corajosamente escreveu. Que todos nós reflitamos.
Até breve 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Um mínimo de dignidade !!!...

Em plena Assembleia da República, diz um deputado, que eventualmente representará um partido que se reclama dos trabalhadores, ao Primeiro Ministro: "... O senhor não sabe o que é a vida!...". E este responde com ar sério, pesaroso e compenetrado: "... Sim, senhor deputado, sei muito bem o que é a vida!...". E o debate prossegue. E os outros 249 deputados saem de hemiciclo convencidos de que sabem o que é a vida e cada um vai à sua. E o Primeiro Ministro também sai e entra depois num faustoso BMW, pela porta que, pressurosamente, um qualquer latagão bem parecido da sua segurança pessoal lhe abre, enquanto ensaia um genuflexão protocolar. O motorista, vinda a luz verde dada pelo sofisticado aparelho de segurança governamental, arranca a toda a brida. A agenda do PM estará muito ou demasiado sobrecarregada. Vai à sua vida também.
E um vulgar cidadão no meio do povo, assiste pela televisão, com um prato de sopa e mais qualquer coisita que a mulher inventou e colocou na mesa à frente dos dois, a este trocadilho de políticos e pensa que nenhum deles saberá o que é a vida.
O deputado, seja ou não seja representante dos trabalhadores, não sabe. E todos os seus companheiros de todas as bancadas parlamentares também não. E o PM saberá ainda menos e nesse não saber será acompanhado pelo latagão com boa imagem que lhe abre a porta, pelo corpo do aparelho que vela pela seguramça do chefe do governo e até pelo motorista que carrega no acelerador e o leva veloz para outros demagógicos discursos, talvez a rematar um bem confeccionado e regado almoço.
Toda esta gente não sabe o que é a vida. Porque tem o seu emprego, dorme todos os dias em lençóis lavados e tem café com leite e torradas todos os dias pela manhã. Não conta os trocos do porta-moedas em cada pagamento e usa e abusa de todos os inúmeros cartões de plástico que lhe deformam a carteira.
Aquele beirão que a fábrica de calçado despediu e se deita á noite e faz sexo com a sua mulher, com a aspereza do cobertor a incomodar-lhe as costas, porque os lençóis do enxoval que ela  trouxe para o casamento aconchegam os três inocentes que dormem no quarto ao lado, esse sim, sabe o que é a vida. Sabe que o pequeno almoço que vai repartir com os filhos e mulher pela manhã, será invariavelmente um naco de broa, que ela coze no forno da vizinha uma vez por semana, acompanhado por uma água tingida de café de mistura, quase só cevada. Sabe que o almoço dos miúdos está garantido na escola para onde partem inocentes e saltitantes todos os dias. Ele e ela hão-de arranjar-se com qualquer coisa. E à noite, umas sardinhas e uns grelitos da horta, que o seu desemprego fez desabrochar, hão-de esconder dos filhos o drama da sua vida. E no fim de cada mês sabe que terá de pedir paciência ao merceeiro da terra. Até vir o subsídio... Esse beirão e a gente  que no Minho lhe repete as cenas. E os homens e mulheres transmontanas, ribatejanas, alentejanas e algarvias que desesperadamente lhe copiam os passos. Esses sim, sabem o que é a vida!... Mas de que lhes vale esse saber ?!...
Uma multidão de deputados - 250, quando metade seria mais que suficiente!... -  que continua a enxamear a AR e 308 municípios espalhados por este minúsculo país, são os fiéis intérpretes de interesses particulares que delapidam o património de todos, a que ainda se juntam 4,260 freguesias que lhes seguem as pisadas. Toda essa legião administrativa vai impedindo que aqueles que sabem o que é a vida, a possam desfrutar e viver com um mínimo de dignidade. Exactamente esse mínimo de dignidade que deputado e PM, hoje não evidenciaram na Assembleia da República !!!...
Até breve

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Salgueiro Maia e a canalha !!!...

Um tal de Isaltino Morais, anda há um bom par de anos a tentar evitar ir bater com as costas na prisão, aproveitando todos os estratagemas legais que outros da sua índole, fizeram verter nos códigos processuais da nojenta justiça portuguesa.
Tem sido um fartar vilanagem a que outros processos e outros intervenientes já nos habituaram. A escumalha que produz as leis, "trabalha" para que os que a usam e os  que a aplicam, continuem perpetuando o sistema, onde todos eles se governam, indiferentes à justiça, às crises, às Troikas e às dificuldades por que vai passando este desventurado povo.
Hoje, o Tribunal Constitucional, como poderá ser confirmado aqui, indeferiu o último recurso do condenado, que poderia permitir-lhe dar mais uma cambalhota e o adiamento da entrada nos calabouços.
Mas, ironia das ironias, os tais dispositivos ou estratagemas legais, ainda lhe permitem, imagine-se, pedir explicações ao Tribunal Constitucional, sobre a sua decisão. Irão então decorrer mais 10 dias para que os advogados do condenado redijam esse pedido de explicações. Depois virá de novo o Tribunal explicar o que hoje foi explicado e desconfio que ainda haverá depois mais um dispositivo e um novo estratagema para voltar a protelar a entrada do condenado na choldra.
Salgueiro Maia, levanta-te e vem cá abaixo, que isto continua na mesma. Mas não te preocupes com o quartel do Carmo, esse ficará para depois. Traz o megafone com que intimaste Marcelo a render-se e uma chibata e começa pelos tribunais e ministérios públicos e faz o mesmo que Jesus Cristo fez aos vendilhões do Templo! Expulsa essa canalha toda que anda a brincar com o povo !!!...
Até breve