sexta-feira, 25 de julho de 2014

Percebes, mexilhões, burriés, lapas e outros moluscos !...



«Rui Rio e António Costa defendem antecipação das eleições legislativas para Abril».

"Penso que, independentemente da conjuntura política, as eleições parlamentares ordinárias deveriam passar a ser na Primavera para permitir formar o novo Governo antes do Verão e permitir ao novo Governo preparar o orçamento dentro do calendário constitucional (apresentação em Outubro na AR), o que é muito importante tendo em conta as novas regras da União Europeia sobre a preparação do orçamento, bem como as obrigações do País em matéria de disciplina orçamental.

Para isso, não se torna necessária uma revisão constitucional, uma vez que o PR goza do poder de antecipar eleições, desde que haja um claro motivo de interesse nacional. E a todas as luzes, há.

Nem se diga que o Governo em funções tem direito a completar o mandato; na verdade, o actual Governo beneficiou de uma "majoração" da duração da legislatura à cabeça, pois as eleições de 1911 ocorreram em 5 de Junho e não na sua altura normal, em Outubro, por causa da queda do Governo Sócrates e da convocação de eleições antecipadas.".

Quando o mar bate nas rochas, quem se lixa é o mexilhão! Os percebes e os burriés, reforçam a força da aderência, mas parecem felizes com o marulhar das ondas que lhes põem a mesa. Já para as lapas, tanto faz: dali não saem, dali ninguém as tira, quer chova ou faça sol, seja Verão ou Inverno, haja tempestade ou bonança!...

Passos Coelho e a quadrilha que o rodeia e ajuda no assalto ao pouco que nos resta, são como as lapas! Pouco lhes importará que o mexilhão se lixe! Estão agarrados e dali ninguém os tira! Muito menos a "esfíngica figura plantada em Belém", que sempre foi lapa, "nunca se engana e raramente tem dúvidas" e quase não ganha para as despesas! 

Bem podem Rui Rio e António Costa pregar neste deserto sórdido da política portuguesa. Bem pode Vital Moreira juntar a sua à voz daqueles, esgrimindo argumentos que qualquer "mexilhão" compreende. E muitos outros "vitais" perderão excelentes oportunidades de estar calados, se também ousarem levantar a sua voz! Não haverá nada a fazer com as lapas! Para mais, fala a ciência que o nível dos mares terá tendência a subir. Ainda se fosse para baixar, poderia haver alguma esperança...

Assim, o mexilhão terá mesmo de esperar pela baixa-mar, numa conjuntura favorável de marés vivas. Dizem que só lá para depois do Verão que vem!

Entretanto, quem se lixa é o mexilhão !...

Até breve

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Falar para nós e sobre nós !...



Os políticos gostam de ter o apoio da cultura. Sobretudo em campanha. Dá visibilidade e anima as hostes. Só que nem todos sabem falar para a cultura.

Passos Coelho não sabe. António José Seguro não sabe. António Costa, pelo contrário, sabe. E bem. É aliás um dos poucos políticos capaz de falar para a cultura e sobre a cultura.

Isso deve-se certamente ao facto de ter nascido e crescido no meio. O pai foi um reconhecido escritor, Orlando da Costa, a mãe, uma jornalista de referência, Maria Antónia Palla.

Mas não basta ter uns quantos amigos artistas quando se trata de pensar a política cultural de um país.

Como tanta outra coisa a cultura sofreu o choque tecnológico das últimas décadas. Assim como muita actividade empresarial e industrial se viu perante o dilema de cair no obsoletismo ou evoluir, também na cultura sucedeu o mesmo. A música, por exemplo, é um dos casos notórios. A partilha na internet, e depois nos dispositivos móveis, matou o negócio dos discos e foi preciso reinventar praticamente tudo. Apesar das tentativas retrógradas, nomeadamente com a criação de novas formas de censura em nome da pretensa defesa dos direitos de autor, o caminho da evolução é incontornável. Artes visuais, cinema, teatro e mesmo literatura, cada forma de expressão à sua maneira, têm vindo a sofrer profundas alterações. Desde logo na redefinição dos públicos e nos novos meios de divulgação. A internet tornou-se no grande veículo planetário de circulação cultural.

É por isso que pensar uma política cultural a nível governamental passa hoje menos pelo subsídio à produção, como pretende a direita para denegrir e muita esquerda para agradar, mas antes e sobretudo com a criação de condições de liberdade criativa.

Gostei por isso de ouvir António Costa dizer que não basta criar um Ministério da Cultura. É importante, pelo que simboliza e também pela componente orgânica, mas se for só para ter uma pessoa a andar de croquete em croquete pelo país tem pouco interesse. Porque a cultura não são exposições e peças de teatro, concertos e bailados. A cultura é aquilo que forma e informa uma sociedade livre e dinâmica. Uma política cultural é por isso acima de tudo um criar de condições, efectivas, para que a cultura se possa realizar livremente, com todas as suas idiossincrasias, diversidades e irreverências.

Gostei também da referência à íntima ligação entre cultura e conhecimento. A separação entre os mundos das artes e das ciências não faz sentido. Porque se as metodologias são muito distintas, a ciência é objectiva enquanto a cultura artística é subjectiva, são ambas formas de produção de conhecimento. Essa separação está aliás na origem do fracasso das políticas culturais de praticamente todos os governos. Nenhum plano tecnológico o é realmente sem ser também um plano cultural.

Até porque, ao contrário do que pensa a direita, e também muita esquerda diga-se de passagem, a cultura, entendida no sentido lato do termo, é o grande motor da produtividade no nosso tempo. Nada se pode fabricar e ainda menos vender ou fazer circular sem uma forte componente cultural. Seja, na dinâmica dos comportamentos individuais, seja no aparentemente simples desenho. Ninguém compra um telemóvel feio, por muitas funções que tenha. Em suma, não há economia sem cultura.

Daí que também tenha gostado de ouvir falar de conteúdos. Porque, mais do que exibições e representações, a cultura é agora por excelência uma máquina colectiva de produção de conteúdos. Aqueles que podem fazer a diferença num mundo globalizado.

Mas a parte do discurso de António Costa que mais me agradou foi o do entendimento da cultura como marca de uma civilização. No momento em que o modo de vida ocidental é atacado por fora e por dentro, por fora com a ascensão de extremismos e fanatismos que odeiam a liberdade, por dentro com o empobrecimento e a redução das sociedades a meros meios de reprodução financeira e mercantil, é importante manter a perspectiva das coisas. O Ocidente é, antes de tudo, uma cultura. A nossa. Livre, dinâmica, inovadora, e sempre, sempre apontada para um futuro melhor.
(Leonel Moura, in Jornal de Negócios)


A cada um apenas deveria ser permitido falar do que sabe. E seria tão fácil para o cidadão comum compreender a mensagem, fosse ela cultural, política...

Só que nem sempre encontramos quem nos saiba falar do que sabe. "Passos Coelho não sabe. António José Seguro não sabe. António Costa, pelo contrário, sabe. E bem. É aliás um dos poucos políticos capaz de falar"... para nós e sobre nós!...

Até breve 

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Nada conseguirá apagar a história!!!...



O que fica 

Por Vital Moreira

Assumindo inteiramente a derrota nas eleições de domingo passado, José Sócrates não tardou a tirar as consequências. Se bem que com mal disfarçada emoção, fê-lo sem dramatismo, num discurso sem ressentimentos nem passa-culpas, antes com grande dignidade e elevação. É nestas ocasiões que se mede a fibra e o carácter dos políticos.

O desaire do PS é tudo menos surpreendente, ainda que a sua expressão tenha sido mais pesada do que era geralmente previsto. Cumpriu-se a regra de que em tempos de crise e de austeridade, os partidos "incumbentes", qualquer que seja a sua orientação e o seu desempenho, pagam pesada factura eleitoral. Portugal e o PS não são excepção nesta "lei de bronze" dos julgamentos eleitorais. O mesmo sucedeu recentemente no Reino Unido e na Irlanda e assim vai acontecer, segundo tudo indica, em Espanha dentro de poucos meses. Para esperar um resultado diferente teria sido necessário mudar toda a sociologia eleitoral.

Para mais, Sócrates teve de travar esta disputa eleitoral nas condições mais adversas que algum líder socialista algum dia enfrentou, tanto pela inesperada crise económica e financeira que não conseguiu travar, como pela verdadeira frente de rejeição e de ódio "ad hominem", protagonizada pelos demais partidos, com a prestimosa cooperação da generalidade dos media, que nunca lhe perdoaram ele ter resistido à sistemática operação de "character assassination" a que se dedicaram durante anos sucessivos, a pretexto dos processos judiciais em que debalde o tentaram envolver.

Por mais que, nas actuais circunstâncias, haja tendência para reduzir a herança de Sócrates aos factores que ditaram a derrota eleitoral socialista - ou seja, a crise económica, social e financeira e as políticas de austeridade tomadas para a combater -, o que a história política destes seis anos de governação socialista vai reter é necessariamente diferente, valorizando devidamente os resultados do primeiro mandato, antes do surgimento da crise, resultado que os dois anos seguintes, a lutar contra a crise, aliás em situação de governo minoritário, não podem de modo algum apagar. Se, por causa da crise e dos seus devastadores efeitos, não temos um país mais próspero, temos seguramente um Estado mais eficiente e uma sociedade mais livre e mais decente.

Em termos de governação, o que fica da era de Sócrates é desde logo a afirmação de uma notável convicção reformista na gestão do Estado e da administração pública e de determinação no combate às corporações e grupos organizados que desde há muito tinham colonizado o Estado. Basta referir, pela sua importância intrínseca e pelas resistências que foi preciso vencer, a eliminação dos injustificados regimes especiais no sector público, as profundas reformas na organização e acção da Administração, onde avulta a redução e racionalização das estruturas administrativas e os impressionantes progressos na modernização e na simplificação administrativa.

Em termos de políticas públicas, o que avulta é o profundo espírito de modernização da sociedade e do País e de valorização do capital humano e material, que inspirou tanto as reformas das relações de família como as políticas sociais (na educação, de saúde e de segurança social), bem como as orientações no campo da economia e das infraestruturas materiais. 

A despenalização do aborto, a agilização do divórcio e a legalização do casamento das pessoas do mesmo sexo ficarão a marcar indelevelmente um verdadeiro avanço civilizacional no que respeita ao aumento da liberdade e autonomia pessoal e ao fim de tabus atávicos e de interdições arcaicas.

Também nunca se tinha sido tão ambicioso no aprofundamento e na busca de sustentabilidade do Estado social, na reforma do sistema de pensões, no alargamento e racionalização do SNS, na valorização e qualificação da escola pública, no alargamento do sistema de protecção social, incluindo no combate à pobreza. 

E tampouco se tinha sido tão ousado no investimento na ciência, na inovação e na tecnologia, na reorientação da política energética e na melhoria das infraestruturas de transportes, se bem que o resultado quanto a estas tenha ficado longe dos objectivos, por efeito de um populismo atávico e das supervenientes constrições financeiras trazidas pela crise. Decididamente temos agora uma economia mais apetrechada para a competividade.

Não será porventura menos marcante a mudança no próprio PS. O que sai da liderança de Sócrates é um partido genuinamente social-democrata moderado e reformista, tão distante da esquerda de protesto ortodoxa e radical como da direita neoliberal e conservadora, um partido empenhado na harmonização da "economia social de mercado" com o Estado social e com a justiça social e apostado em assegurar a igualdade de oportunidades por meio da educação e da qualificação profissional. Quem quer que seja o seu sucessor na liderança partidária, dificilmente o PS deixará de trilhar a via traçada por Sócrates.

Sem nunca ter deixado de ter uma "má imprensa", flagelado permanentemente por acusações tão graves quanto infundadas, vilipendiado frequentemente por críticos e adversários, nunca nenhum governante, desde provavelmente Afonso Costa na I República, foi alvo de tanto ódio e tanto ressentimento político. Não precisarão, porém, de passar muitos anos para que uma avaliação serena reconheça os méritos da sua ação governativa. "Depois de mim virá..."

A crise económica e financeira que vitimou Sócrates passará a seu tempo, e também passarão os seus efeitos. Fechado o ciclo político que ele protagonizou, o que dele fica para o futuro é a contribuição para o progresso da liberdade pessoal, da condição social e do desempenho do Estado. Não há nenhuma "diabolização" pessoal capaz de apagar a história.
[in ABA DA CAUSAPúblico, terça-feira, 7 de Junho de 2011]
Três anos depois, como estamos?!...
Bem, obrigado. E a melhorar em cada dia!...
Nada conseguirá apagar a história!!!...

Até breve