Compromisso socioeconómico
«... O país está carente de justiça social. A convergência de esforços das forças de Esquerda pode e deve responder positivamente a esse desafio. Os compromissos para o atingirem têm de ter um grande equilíbrio entre o social e o económico, o que implica a necessidade de serem desenhadas e implementadas em simultâneo, as políticas nestes dois campos.
Sem dúvida, é preciso atenção ao equilíbrio orçamental, mas grande parte das medidas mais prementes, por exemplo na área do trabalho - garantia de salários dignos, actualização do SMN, reposição de direitos fundamentais e combate à precariedade -, podem ser adoptadas sem provocar desequilíbrios orçamentais e até podem ter efeitos muito positivos na economia e logo, por consequência, nas receitas do Estado.
A reposição dos cortes em pensões de reforma, nos salários e em direitos dos trabalhadores da Administração Pública, bem como em algumas condições de acesso à Saúde ou à Justiça, têm, com certeza, impacto no Orçamento. Isso obriga a trabalhar equilíbrios entre a viabilidade orçamental, a justiça social e a dinamização da economia. É isto que as forças de Esquerda serão capazes de fazer e a Direita jamais faria, porque a centralidade das suas preocupações é o lucro em benefício de quem já detém a riqueza, transformando todos os direitos sociais fundamentais e até a pobreza, em áreas de negócios.
O país precisa de crescimento económico, mas também de desenvolvimento humano. Exige-se rigor na obtenção das receitas e na gestão das despesas, mas é indispensável uma acção política de exigência social, moral e ética quanto à distribuição da riqueza.
No actual contexto ser revolucionário exige muita moderação, mas é preciso ser ofensivo, sem tréguas.»
(Carvalho da Silva, Opinião, in Jornal de Notícias, hoje)
Quarenta anos de Democracia, trouxeram-nos até aqui! Foi uma caminhada épica, nem sempre prosseguida pelos caminhos mais correctos, com tropeções traumáticos e dolorosos que nos obrigaram em cada reerguer, aos consequentes sofrimentos, quiçá desnecessários, mas que permitiu ao povo português virar as costas a um passado do ignomínia, atraso, pobreza e profunda e melancólica tristeza.
Outrora foi possível a este povo aprender a viver conformado, enredado num círculo de giz que poucos puderam ou tiveram a ventura de ultrapassar, mas cuja posterior influência, por factores intrínsecos de um modo muito peculiar de estar no mundo, nunca se revelou capaz de fomentar a alteração ou mesmo a destruição desse apertado círculo de negação do nosso viver colectivo.
A "caixa mágica" e a revolução tecnológica, caídas por desígnio exterior sobre nós, permitiram que o círculo branco que durante demasiado tempo nos castrou sonhos e justos propósitos de alcançar a dignidade, fosse erradicado das nossas vidas e caminhámos, surpreendidos, ao encontro de novas descobertas por mares que nunca sonháramos navegar.
Hoje, depois de longa e custosa aprendizagem, começa a ser muito difícil que alguém nos possa convencer a prosseguir o nosso caminho... conformados! E o melhor indicador parecem ter sido os resultados do último acto eleitoral.
A voz de um povo habituado a silenciar os seus mais legítimos anseios, parece ter sido finalmente ouvida por aqueles em quem depositou as suas legítimas esperanças. Mais de 62% dos portugueses clamaram por justiça social e, pela primeira vez, assiste-se a uma "convergência de esforços das forças de Esquerda no sentido de responderem positivamente a esse desafio".
Um desafio que implicará um histórico "compromisso socioeconómico" entre todas essas forças. E que nenhum dos portugueses que lhe serviram de cimento, compreenderá que alguma vez possa falhar! O tempo da conformação está definitivamente ultrapassado! Que ninguém tenha dúvidas...
O Povo punirá quem ousar destruir-lhe os sonhos!...
Até breve
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