sábado, 14 de novembro de 2015

Estupidamente, preparado para atear o rastilho!...


A hora de Cavaco

«Derrubado o governo no Parlamento, onde tinha de ser numa democracia parlamentar, o Presidente da República desencadeou novo processo de consultas. Os patrões, que não são eleitos, desfilaram na ladainha do costume. Disseram-lhe o que se esperava, que tenha cuidado porque os comunistas são um perigo para a democracia - como se estivesse no horizonte um governo com PCP e Bloco - e que o que era bom era um governo de gestão - à falta de um bloco central, esse mesmo dos interesses, porque era bom para os negócios. Os sindicatos, mais ou menos encarniçados, sugeriram que indigite António Costa, mal por mal é de esquerda e até cumpre os requisitos constitucionais. 

Em pista paralela, os líderes partidários vão-se desmultiplicando em frases típicas do PREC - fala-se de usurpação e fraude com a mesma facilidade com que o diabo esfrega um olho - e o país suspenso de sua excelência o Presidente da República. Entretanto, na pré-campanha para Belém, os candidatos a sucessores desdobram-se na unanimidade da crítica a Passos Coelho e seus devaneios constitucionais e nos apelos para que Cavaco Silva não deixe resvalar para quem lhe suceda a batata quente da decisão. Nem Marcelo quer arcar com as consequências de um governo de gestão. 

E o que faz Cavaco? Mantém o silêncio em que, dizem os cavacólogos, é mestre a gerir. Mais ainda, segue viagem para a Madeira em plena crise política que urge resolver. A margem de que dispõe é estreita, muito estreita. Mesmo a contragosto pouco lhe resta que não seja indigitar António Costa. Afinal de contas é alternativa constitucional e política legítima, por mais que as "posições conjuntas" lhe causem dúvidas e até comichões. Nem os mercados lhe dão argumentos de instabilidade. E até há as agências de rating que afirmam que as palavras de Mário Centeno são cruciais para que a avaliação de risco do país se mantenha em perspectiva de estabilidade. 

Governo de gestão não é solução aceitável para ninguém. Seriam oito meses de sobressalto e agitação social, com o país em risco e sitiado pelo protesto e a direita a queimar em lume brando. Portugal precisa de um governo que governe e não que gira o abismo. Cavaco sabe disso melhor do que ninguém. E é por isso que, mesmo a contragosto, não deixará de assumir as suas responsabilidades. Até porque, honra lhe seja feita, se há coisa que Cavaco não ignora é que tem aqui a derradeira oportunidade para concluir o seu mandato com dignidade.»
(Nuno Saraiva, editorial DN, hoje)


"Portugal precisa de um governo que governe e não que gira o abismo"! Em contraciclo com uma importante fatia, pretensamente maioritária, dos meios de comunicação social, completamente subjugada às posições "falangistas", Nuno Saraiva pensa e afirma sem pruridos e com a coragem que lhe impõem os mais básicos princípios éticos e deontológicos da profissão que escolheu, aquilo que vai na cabeça de quem, seja de Direita ou Esquerda, ainda não vendeu a alma ao diabo.

É que o "abismo" de que fala, está aí, à vista de todos nós: um país fracturado, a assar em lume brando, um barril de pólvora que a qualquer momento pode explodir e fazer-nos recuar 40 anos!...

Mas o mais grave de tudo o que se passa à nossa volta, será o facto de ser precisamente aquele que deveria ser o garante do equilíbrio, da harmonia e da paz social de quem o elegeu, que parece preparar-se, estupidamente, para atear o rastilho!...

Até breve

2 comentários:

  1. A extrema-direita portuguesa, corporizada na aliança PSD/CDS, não estava preparada para ser apeada do poder e, agora, usa tudo quanto pode para fazer aquilo de que acusa os socialistas: o assalto ao poder!
    Se o projecto socialista é constitucional e legítimo, como se pode acusá-los de assalto ao poder?
    E como se deverá classificar a disponibilidade que a coligação de direita manifestou para uma revisão constitucional extraordinária por forma a permitir eleições antecipadas? Não é isto uma tentativa de assalto ao poder?
    Como pode a direita ter a certeza de que os resultados eleitorais não seriam semelhantes?

    Vivemos um período muito difícil e, até, socialmente muito perigoso.
    Os acontecimentos de ontem, em Paris, vêm reforçar a ideia daqueles que defendem que a Democracia deverá ser mais "musculada" e receio bem que a esfíngica figura que preside aos nossos destinos se vire para "esses lados".
    A ver vamos...

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    1. Subscrevo inteiramente o pensamento do amigo Liondamaia! E penso que a importância das próximas eleições presidenciais não deverá ser menosprezada. À "esfíngica figura" já pouco tempo restará, Mas ainda será tempo suficiente para deixar a marca maléfica que tem imprimido em todo o seu pérfido mandato. Estaremos a viver um tempo em que todo um povo deverá prevenir o seu futuro, rejeitando liminarmente essa "democracia musculada" que, no fundo, será materializada se as opções forem erradas. Será uma luta a que os mais conscientes deverão responder, necessariamente, presente!...

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