Moderados no meio de radicais
«Aqueles que ficam escandalizados com o facto de o PS estar a negociar com partidos que defendem políticas radicais esquecem-se que a direita também se radicalizou. E não foi pouco. O radicalismo deixou de ser uma característica exclusiva da esquerda portuguesa. O PS é, hoje, um partido de esquerda moderada no meio de dois blocos radicais, o tradicional, à sua esquerda, e um novo, de direita, representado pela coligação PaF.
Tendo posto de parte aquilo que os divide, PS, BE, PCP e PEV, que têm a maioria absoluta dos deputados no parlamento, tentam chegar a um entendimento quanto àquilo que os une: virar a página da austeridade e dar prioridade à recuperação do rendimento dos trabalhadores e dos pensionistas; defesa do emprego e dos salários e combate à precariedade; a defesa e a aposta no Estado Social e nos serviços públicos. Até ao momento, a esquerda à esquerda do PS parece estar disposta a abandonar o seu radicalismo na procura de um compromisso. É por isso que as negociações não têm sido inconclusivas.
A ideia de que PSD e CDS representam uma alternativa moderada, e não muito distante das posições do PS, esbarra na realidade dos últimos 4 anos e, também, no conteúdo programático desses partidos para os próximos 4.
Em primeiro lugar, partidos que mostraram não saber governar sem violar a Constituição não são moderados. Não é a questão de ser mais de esquerda ou mais de direita, é a questão de entender que, independentemente do posicionamento ideológico de cada partido, o estrito cumprimento dos limites constantes da Constituição não é uma opção, é o quadro dentro do qual cada partido pode legitimamente assumir as suas opções.
Em segundo lugar, a ideia de que a competitividade depende da desvalorização salarial, da precariedade laboral, da redução do IRC e da desvalorização do papel estratégico do Estado na economia é uma agenda típica da direita radical, que está nos antípodas do que o PS defende e propôs no seu programa. O desinvestimento na escola pública e na qualificação dos portugueses, a degradação dos serviços públicos de saúde e o ataque à segurança social, tudo com o objectivo de avançar com lógicas de privatização nos três pilares do Estado Social, são o oposto do que o PS sempre defendeu e continua a defender.
Na frente europeia, os últimos anos trataram de romper o relativo consenso que existia entre PS e PSD (CDS é um recém-convertido). Hoje, embora defendam a participação de Portugal no projecto europeu e na moeda única, esses partidos têm ideias diferentes sobre os rumos que o projecto europeu deve assumir. A direita portuguesa alinhou sempre com a linha dura europeia, quer no diagnóstico sobre a crise, quer nas sucessivas respostas que foram sendo dadas a essa crise, e não está interessada em promover qualquer tipo de mudança no actual quadro de políticas.
Da perspectiva do PS, dois partidos que transformaram uma crise institucional do projecto europeu e da moeda única numa crise de natureza moral, na qual a culpa e a expiação cabem aos países mais frágeis, não são capazes de defender os interesses de Portugal na Europa.
O actual momento político não é caracterizado pela blasfémia de ver um partido do chamado “arco da governação” a negociar com partidos radicais, mas sim pelo salutar abandono da ideia antidemocrática de arco da governação, posição defendida pelo PS desde o seu último congresso, e pelo normal envolvimento de todos os partidos com representação parlamentar na procura de uma solução governativa estável e duradoura. Nestas negociações, uma coisa é certa: o PS dialoga com radicais à esquerda e com radicais à direita. Se a esquerda for capaz de construir uma maioria absoluta no parlamento que não se limite a ser uma maioria negativa, não há nenhuma justificação democrática para que seja a direita, que está em minoria, a governar. Afinal, foi esse o desejo que a maioria dos portugueses expressou nas urnas: uma mudança de governo e de políticas. Cabe aos partidos de esquerda transformar esse desejo numa realidade.»
(João Galamba, Tempo comprado, jornal Expresso)Tendo posto de parte aquilo que os divide, PS, BE, PCP e PEV, que têm a maioria absoluta dos deputados no parlamento, tentam chegar a um entendimento quanto àquilo que os une: virar a página da austeridade e dar prioridade à recuperação do rendimento dos trabalhadores e dos pensionistas; defesa do emprego e dos salários e combate à precariedade; a defesa e a aposta no Estado Social e nos serviços públicos. Até ao momento, a esquerda à esquerda do PS parece estar disposta a abandonar o seu radicalismo na procura de um compromisso. É por isso que as negociações não têm sido inconclusivas.
A ideia de que PSD e CDS representam uma alternativa moderada, e não muito distante das posições do PS, esbarra na realidade dos últimos 4 anos e, também, no conteúdo programático desses partidos para os próximos 4.
Em primeiro lugar, partidos que mostraram não saber governar sem violar a Constituição não são moderados. Não é a questão de ser mais de esquerda ou mais de direita, é a questão de entender que, independentemente do posicionamento ideológico de cada partido, o estrito cumprimento dos limites constantes da Constituição não é uma opção, é o quadro dentro do qual cada partido pode legitimamente assumir as suas opções.
Em segundo lugar, a ideia de que a competitividade depende da desvalorização salarial, da precariedade laboral, da redução do IRC e da desvalorização do papel estratégico do Estado na economia é uma agenda típica da direita radical, que está nos antípodas do que o PS defende e propôs no seu programa. O desinvestimento na escola pública e na qualificação dos portugueses, a degradação dos serviços públicos de saúde e o ataque à segurança social, tudo com o objectivo de avançar com lógicas de privatização nos três pilares do Estado Social, são o oposto do que o PS sempre defendeu e continua a defender.
Na frente europeia, os últimos anos trataram de romper o relativo consenso que existia entre PS e PSD (CDS é um recém-convertido). Hoje, embora defendam a participação de Portugal no projecto europeu e na moeda única, esses partidos têm ideias diferentes sobre os rumos que o projecto europeu deve assumir. A direita portuguesa alinhou sempre com a linha dura europeia, quer no diagnóstico sobre a crise, quer nas sucessivas respostas que foram sendo dadas a essa crise, e não está interessada em promover qualquer tipo de mudança no actual quadro de políticas.
Da perspectiva do PS, dois partidos que transformaram uma crise institucional do projecto europeu e da moeda única numa crise de natureza moral, na qual a culpa e a expiação cabem aos países mais frágeis, não são capazes de defender os interesses de Portugal na Europa.
O actual momento político não é caracterizado pela blasfémia de ver um partido do chamado “arco da governação” a negociar com partidos radicais, mas sim pelo salutar abandono da ideia antidemocrática de arco da governação, posição defendida pelo PS desde o seu último congresso, e pelo normal envolvimento de todos os partidos com representação parlamentar na procura de uma solução governativa estável e duradoura. Nestas negociações, uma coisa é certa: o PS dialoga com radicais à esquerda e com radicais à direita. Se a esquerda for capaz de construir uma maioria absoluta no parlamento que não se limite a ser uma maioria negativa, não há nenhuma justificação democrática para que seja a direita, que está em minoria, a governar. Afinal, foi esse o desejo que a maioria dos portugueses expressou nas urnas: uma mudança de governo e de políticas. Cabe aos partidos de esquerda transformar esse desejo numa realidade.»
Simples, linear, directo e incisivo, como é timbre de João Galamba! Só não compreende quem não quiser...
Está tudo dito!...
Até breve
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