Um sonho possível, ou utopia ?!... |
Ao que parece, ainda não foi desta que pudemos assistir ao lançamento das bases para a construção de um programa comum de esquerda em Portugal. Seria demasiado bom que esse meu velho sonho, que porventura milhões de portugueses comigo partilharão, chegasse assim, tão depressa e tão facilmente. Tão ambicioso e bonito projecto, se alguma vez puder ser concretizado, nunca derivará apenas da derrocada da direita, como agora tantos admitiram, a começar por este velho idealista, que nunca mais aprende a conviver, resignadamente, com utopias.
A falta de pragmatismo, o respeito democrático pela opinião de outros e o erro estratégico evidenciados pelo PCP e pelo BE, há pouco mais de dois anos com o chumbo de PEC IV, para além de terem precipitado a estrondosa derrota eleitoral dos três partidos de esquerda com os resultados que estão à vista, provocaram uma tão profunda ferida no PS, que dificilmente será ultrapassada e cicatrizará num tão curto espaço de tempo.
Depois, a radicalização e a persistência dos dois partidos mais à esquerda, numa posição de demagógico afrontamento e negação dos acordos estabelecidos com as entidades internacionais que há dois anos nos têm permitido sobreviver, em vez de contribuírem para a correcção e melhoria das condições estabelecidas e para a implementação de políticas internas capazes de proporcionar ao país a sustentabilidade e a libertação, acabaram por cavar o intransponível fosso que hoje os separa dos socialistas.
Dominique Strauss-Kahn na sua primeira entrevista depois do escândalo que protagonizou, talvez possa ajudar os líderes da esquerda portuguesa - a direita jamais terá possibilidades de recuperação - a compreenderem a realidade da desgraça que nos atravessa e a estabelecerem um redentor antídoto. Que nunca passará por "rasgar o memorando estabelecido com a Troika" como preconiza o BE, ou abandonar a UE e a Zona Euro, como defende o PCP, ou adoptar uma política de mimetização, com rótulo diferente, daquela que tem sido perseguida em Portugal nos últimos dois anos, como muito provavelmente o PS fará se e quando ganhar as próximas ou remotas eleições subsequentes à crise que se abateu de forma avassaladora sobre Portugal.
Aquilo que Strauss-Kahn diz a partir do minuto 10 da sua entrevista, é sintomático sobre as razões da crise europeia que vem determinando a desgraça grega, que parece aproximar-se perigosamente desta lusa pátria, perante a sede insaciável de protagonismo de um abstruso chefe de estado, acolitado por uma direita incompetente e corrupta e inexoravelmente dependente de uma alternativa de esquerda, que deveria estar unida e, em vez de deixar passar o tempo afagando umbigos ideológicos ou alimentar sonhos pessoais de poder, que inevitavelmente sublimarão a catástrofe, inverter esta dramática e inconsciente caminhada para o abismo.
Dominique Strauss-Kahn é um socialista. Como o próprio admite, terá cavado a sua sepultura política e, quem sabe, se a própria sepultura da Europa, já que François Hollande há muito passou de esperança a desilusão. Mas será que o pensamento, lucidez, inteligência e saber deste homem, a ninguém aproveitam dentro de uma esquerda, que o povo português há tanto tempo convida a governar?!...
Até breve
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