Mário Soares deu a João Marcelino e a Paulo Baldaia, uma peculiar e inusitada entrevista, editada no DN do passado domingo e transmitida pela TSF. E as ondas de choque que a mesma provocou e que ainda por aí evoluem e, em absoluto, continuarão a evoluir por muito tempo, pela certa que corresponderão às intenções do velho antifascista.
Mário Soares, goste-se ou não, nunca foi e continua a não ser um santo. Terá cometido um imenso rosário de erros. Uns por naturais defeitos de análises circunstanciais, outros por defeitos da sua própria natureza, de não ser portador do halo da santidade com que nunca enganou ninguém.
Mas o velho socialista, carrega nos ombros já curvados de lutas e desafios, a autoridade que outros, dificilmente, alguma vez conseguirão. Sabe o que custou a liberdade e conhece bem os interesses que comandam este nosso mundo cada vez mais globalizado.
Mário Soares sabe do que fala quando critica a fria austeridade com que o poder actual pretenderá ultrapassar a crise. Ele já dormiu debaixo dos lençóis de outra "troika" e conseguiu libertar-se sem que tivesse necessidade de transformar o povo a que sempre se deu, em cotão que se empurra para debaixo da carpete. E sem nunca ultrapassar a linha vermelha da delinquência a que agora aponta o dedo acusador.
Diz Batista Bastos, em crónica que recomendo, que a entrevista de Soares será: "... um documento importante, sobretudo pelo facto de
Soares ter aumentado a parada das suas indignações. E as razões são poderosas.
Perdoamos-lhe tudo o que a outros nunca esquecemos, porque ele simboliza as
nossas idiossincrasias, as nossas peculiares malícias, as nossas capacidades de
improviso...".
E diz João Paulo, no excelente blog Aventar, que também recomendo vivamente, que "... Batista Bastos no DN coloca a intervenção pública de Mário Soares onde ela tem que estar: Mário Soares afirmou o que todos pensam! Quer dizer, todos não, porque [...] há quem esteja do lado de quem rouba: uns, por vergonha, estão calados até à próxima Greve, outros argumentam por caminhos muito pouco recomendáveis...".
Sim, Mário Soares afirmou o que todos pensam. Com a autoridade que todos os portugueses lhe reconhecem, até porque cada um de nós vê reflectidas no espelho que tem lá em casa, todas as suas imperfeições, que serão afinal, os mesmos defeitos que todos transportaremos. Quase decalcados! E que venha o primeiro atirar pedras! Importante será que, com dignidade e honra, nunca ultrapassemos a linha vermelha!...
Aí, Mário Soares tem razão: cadeia com os aldrabões !!!...
Até breve
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