Rematando o almoço com uma reineta do quintal, fui acompanhando há dias o noticiário televisivo e a certa altura chamou-me a atenção o protesto da população de uma localidade do norte interior, entoando a heróica Grândola, Vila Morena.
Foram os rostos indignados e aquele ar de quem não tinha corpo para tal roupagem, que me chamaram a atenção. Foram os papéis que aquela gente transportava dissimulados entre as mãos, que me disseram que nunca antes tinham entoado a canção do Zeca, que nem verdadeiramente a letra conheciam e que aquele seria, eventualmente, o primeiro ensaio colectivo de uma melodia cujo real significado só agora começam a compreender.
Soube depois que aquele "grandolar" pelas ruas era a consequência do fecho da "sua estação dos correios", já antecedida de actos idênticos, que lhes haviam levado o centro de saúde e as urgências nocturnas, mais os balcões da segurança social e das finanças.
Indignação chegada ao limite, foi o que vi reflectido naqueles rostos de portugueses e portuguesas, com cara de gente que nunca se tinha metido naquelas "andanças" políticas, porque sempre rejeitou confusões e acreditou em promessas repetidas ao longo de quase 40 anos e que agora, envelhecida, desalentada ou mesmo angustiada, sente que lhe vai fugindo o chão debaixo dos pés e que a luz que sempre foram avistando ao fundo do túnel se apagou. Indignação pela falta de alternativas, porque aquelas com que agora lhes acenam os "novos senhores", estão distantes e são incomportáveis com o seu viver simples e modesto.
E pela primeira vez, saíram à rua, de papel na mão, entoando Grândola, Vila Morena, numa incursão de aventura num território novo, contra os carrascos em quem votaram décadas a fio e pela cidadania activa e transformadora de um caos que sobre eles se abateu, como se, finalmente, essa coisa da defesa daquilo que sempre consideraram como seu, isso das lutas que sempre viram distantes de si, também fosse agora com eles. Ironicamente, naqueles bastiões nortenhos de pacatez e brandos costumes, o que a esquerda nunca conseguiu em tantos anos, parece estar a conseguir este governo.
E pela primeira vez, saíram à rua, de papel na mão, entoando Grândola, Vila Morena, numa incursão de aventura num território novo, contra os carrascos em quem votaram décadas a fio e pela cidadania activa e transformadora de um caos que sobre eles se abateu, como se, finalmente, essa coisa da defesa daquilo que sempre consideraram como seu, isso das lutas que sempre viram distantes de si, também fosse agora com eles. Ironicamente, naqueles bastiões nortenhos de pacatez e brandos costumes, o que a esquerda nunca conseguiu em tantos anos, parece estar a conseguir este governo.
Paulo Portas, irrevogavelmente, por via da sua pequenez política e falta de visão, estará sem o pretender, a cavar a sua própria sepultura e a do governo de que faz parte e que lidera, por debaixo do pano e nos bastidores, e de que "os seus pobres" apenas agora começam a conhecer as consequências. Os "pobrezinhos de Portas" essa populaça sem nome nem rosto, condenada à miséria e impedida até de expressar o seu sofrimento porque fica arredada das manifestações e jamais aparece na televisão, apresta-se para se transformar em poderoso veneno, na cicuta que, tarde ou cedo, ele próprio e o governo que "lidera", vão acabar por ter de engolir.
Estes improváveis manifestantes, de olhos postos na cábula com a letra de Grândola, já estão, perigosamente, a fazer suas as velhas palavras de ordem carregadas de naftalina. E isso poderá constituir-se no perigoso rastilho que faça chegar o fogo ao rabo da corja que nos arruína. E ai deles se esse fogo for suficiente para acender a forja onde o aço possa vir a ser moldado e temperado!...
Até breve
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