quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Afinal, há mesmo gente feliz com lágrimas!...


Aqui do meu canto, tenho acompanhado com a disponibilidade que "este não fazer nada e tudo comprar feito" com que a vida se encarregou de me compensar por bem mais de três décadas de trabalho, como homem que Platão terá definido como da "terceira espécie", estas primeiras sessões da nossa renovada "Casa da Democracia". 

E tenho vindo a tentar interpretar com extrema curiosidade, o que me dizem os rostos dos nossos representantes parlamentares mais ousados que, em vez de se enterrarem nas cadeiras e refugiarem no cómodo silêncio e complacente anonimato, arriscam com coragem enfrentar a câmara, os apupos e os aplausos dos seus pares, sabendo que também as câmaras e os microfones os levarão até àqueles que lhes colocaram sobre os ombros a responsabilidade representativa maior da nossa jovem Democracia.

Não irei falar-vos do azedume e degradada elevação protagonizada por quase todos os deputados de uma Direita que se julgava dona e senhora do parlamento, da governação e saberão os deuses de mais o quê. Não vale a pena dissertar sobre algo que atenta contra tudo o que o progresso civilizacional e cultural nos trouxe ao longo de milénios. Os ilustres representantes da direita mais abstrusa e retrógrada da Europa, parecem ter regredido a tempos que envergonhariam os seus congéneres da Antiga Grécia. Que fiquem com as suas razões, que o tempo também passará sobre eles...

Prefiro deter-me nas agradáveis sensações que tenho recolhido nos nossos parlamentares de uma Esquerda, que vejo pela primeira vez na minha vida, feliz e finalmente unida. E o que tenho visto eu?!...

Pois, a mesma voluntariedade, a mesma determinação, as mesmas convicções profundas e inalienáveis, mas... Sinto que vejo no rosto de cada um, qualquer coisa de diferente, direi mesmo de comovente, que me leva a acreditar e a confessar-vos sem vergonha e com o coração, que é verdadeira esta leve humidade que por vezes se apodera do meu canto do olho!

Tenho medo de acreditar que "uma tamanha revolução" estará em marcha na nossa "Casa da Democracia" e que esta agradável sensação se estenderá por toda uma legislatura. Mas não preciso de coragem para vos dizer que desde a madrugada redentora de 25 de Abril e da Festa do 1º de Maio que se lhe seguiu, nunca mais tinha sentido dentro de mim tamanha emoção.

Mas o que vejo então hoje de diferente, nos rostos daquelas mulheres e homens a quem aqui humildemente hoje presto a minha homenagem?! Pois meu amigos, permitam que vos confesse: vejo ALEGRIA! Vejo em cada um deles o brilhozinho nos olhos que exibia há 41 anos todo aquele que transportava na mão ou na lapela um "cravo de Abril"! Vejo-lhes no rosto a certeza e a felicidade de que, finalmente, sentem que estão do lado certo, do lado do povo que os elegeu e trabalham em prol de uma "causa maior", a maior de todas, a causa do povo a que pertencem!...

E permitam-me destacar apenas um episódio, ocorrido hoje na votação da moção de rejeição apresentada pela Direita: por ironia sabe-se lá de quê, a sofisticada tecnologia do voto electrónico, tramou o deputado Jerónimo de Sousa, que teve de se levantar e pronunciar sózinho e publicamente, o sentido do seu voto. Pois com o maior dos sorrisos de que alguma vez me lembro nele ter visto, levantou-se e agradeceu à falha electrónica a possibilidade que lhe facultou de declarar, ali, perante toda a câmara, com alegria e convicção, a sua rejeição à "proposta de rejeição do governo", apresentada pela Direita!...

Em momento sublime que não mais esquecerei, jorrou alegria dos olhos, das rugas, da boca, dos braços e, sei também do coração, de Jerónimo de Sousa!...

Afinal, há mesmo gente feliz com lágrimas!...

Até breve

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