Os pequenos passos devem ser assinalados
José Pacheco Pereira lançou o quarto volume da sua biografia de Álvaro Cunhal e não é da obra que vou falar, mas da mesa. Então, estavam o autor, JPP, o ministro da Cultura, João Soares, socialista, o presidente da Câmara de Peniche, António José Correia, do PCP, e o apresentador da obra, o historiador Fernando Rosas, do Bloco de Esquerda. Os três últimos, militantes da base partidária do actual governo. Uma coincidência, mera, como elas costumam ser apresentadas e muitas vezes são mesmo. Estavam os três, ali, por causa de JPP - a autoridade intelectual do autor, e no domínio da obra que se apresentava, chega para justificar a composição da mesa. Aquela mesa, hoje e aqui, existiu nesta semana e não é a naturalidade com que o facto aconteceu que nos deve fazer esquecer que não foi sempre assim. Cidadãos do mesmo país, que profissional e intelectualmente se respeitavam, estiveram separados por anátemas ideológicos. Aquela mesma mesa o confirma. O primeiro volume da biografia de Cunhal foi boicotado porque o autor, por ter sido esquerdista e depois militante do PSD, era considerado um pestífero da direita. "Não falem ao Pacheco!", foi directiva para lhe secarem os testemunhos. Agora, com aquela mesa, se mostra que houve uma evolução. Mas esta só se torna válida quando é dita: Portugal está melhor. Por exemplo, está parecido com a Itália de quando os comunistas e os democratas-cristãos se sentavam à mesma mesa. Há 40 anos.
(Ferreira Fernandes, Um ponto é tudo, in DN)
Portugal está melhor! E foi preciso apenas um pequeno passo, dos muitos que ainda teremos de caminhar para que se cumpram os sonhos de tantos e tantos que já partiram de braços caídos e com a amargura no coração...
Portugal está melhor! No ar que se respira, no sorriso das gentes que passam, na música que, timidamente ainda, vai secando o "pântano pimba" que quase chegou a inundar-nos, no teatro que parece ganhar coragem para regressar e em todas as outras artes, tristes e moribundas por tão ignóbil asfixia...
Portugal está melhor! E tudo numa questão de dias. Tão apertada estava a mordaça austeritária e ultraliberal, que bastaram dias para que se soltasse o que de bom ainda existia neste povo amargurado e triste, obrigado a engolir narcóticos que, lentamente, acabariam por conduzi-lo à indigência...
Sim, Portugal está melhor! Tomara que nenhuma tempestade afaste esta primavera!...
Até breve
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