terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Faltava o Banif para acabar de atar os molhos!...



O tapume

Comecemos pelo evidente. Ontem, Pedro Passos Coelho deveria ter dado a cara. Delegar em Maria Luís Albuquerque as justificações - paupérrimas, por sinal - sobre o Banif confirma sem margem para dúvida a tendência do anterior primeiro-ministro para se esconder nos momentos mais difíceis. Foi assim com o BES/Novo Banco. Foi assim com a miserável ilusão à volta da sobretaxa. Foi assim quando se percebeu que o défice público deste ano não seriam favas contadas. Passos Coelho ajudou o país a sobreviver à maior crise financeira desde o 25 de Abril. Revelou capacidade de decisão e resistência - foi líder, quando muitos outros em circunstâncias idênticas teriam cedido às dificuldades, aos perigos e às contradições inevitáveis quando se tem de tomar decisões complexas que dividem antes de unir. Agora que o pano caiu definitivamente, ficou evidente que parte desta imagem era ilusória. Resultou também de um esforço premeditado e talvez cínico do anterior primeiro-ministro para se proteger e, com isso, tentar prolongar o seu prazo de validade política. 

O Banco de Portugal foi um dos biombos mais usados por Passos Coelho. O BdP serviu de cortina não apenas na absurda solução que matou o BES nas 48 horas mais onerosas do sistema financeiro português, mas fez-se também sentir na condução da política económica. O governador Carlos Costa, ambicioso e alinhado com o anterior executivo, aceitou o papel de engodo, alisando o terreno com intervenções políticas disfarçadas de relatórios técnicos destinados a consolidar a ideia de que não havia alternativa ao que estava a ser feito - e nalguns pontos, embora não muitos, até havia. Sobre o Novo Banco está tudo dito: um regulador que se converte em vendedor não tem sentido, é um contrassenso que custará muito caro ao país. E agora temos o Banif. O que dizer? Antes de mais, que as comadres - Passos Coelho e Carlos Costa - zangaram-se e encalharam numa luta aflitiva para ver quem consegue salvar a cara. A resposta é evidente: nenhum deles vai conseguir, têm ambos responsabilidades grosseiras no Banif, por acção e omissão, embora seja necessário fazer uma análise fina de tudo o que conduziu a mais este desfecho com enormes custos para os contribuintes. Mas sobram ainda outros problemas: a credibilidade do governador está ferida de morte. A independência do Banco de Portugal, mesmo nesta versão aguada pelos poderes supremos do BCE, é essencial à credibilidade do país. A saída de Carlos Costa, sendo desejável para a eficácia do sistema, terá de ser resolvida mais à frente num quadro de maior normalidade, desejavelmente com o acordo entre PS, BE, PCP, PSD e CDS. 

Quanto a Passos Coelho, os militantes do PSD decidirão em congresso o que fazer com ele, mas há limites para o ilusionismo político. Um líder da oposição que atira para a frente os subordinados não inspira grande confiança. Finalmente António Costa: herdou mais problemas do que seria suposto, mas convém que não se esconda atrás deles daqui para a frente. Ninguém lhe prometeu facilidades. Além de ser justo lembrar que o PS de José Sócrates esteve na origem de muitos dos buracos que ainda estão por tapar - oh se estão»
(André Macedo, Opinião, in DN).

À medida que os biombos, ou tapumes, ou máscaras, ou mentiras, ou trapaças políticas, vão ficando cada vez mais assustadoras, desgraçadas e inequivocamente transparentes, afunda-se no lodoso pantanal toda a pouca credibilidade que no espírito de alguns - cada vez menos! - portugueses ainda subsistia em relação à corja que nos governou nos últimos quase cinco anos!... 

Faltava o Banif para acabar de atar os molhos!...

Até breve

Sem comentários:

Enviar um comentário