domingo, 24 de novembro de 2013

Baptista Bastos cospe lume em direcção a Belém


Baptista Bastos cospe lume em direcção a Belém 

«O dr. Cavaco consumiu vinte minutos, no Centro Cultural de Belém, a esclarecer os portugueses que não havia português como ele. Os portugueses, diminuídos com a presunção e esmagados pela soberba, escutaram a criatura de olhos arregalados. Elogio em boca própria é vitupério, mas o dr. Cavaco ignora essa verdade axiomática, como, aliás, ignora um número quase infindável de coisas.

O discurso, além de tolo, era um arrazoado de banalidades, redigido num idioma de eguariço. São conhecidas as amargas dificuldades que aquele senhor demonstra em expressar-se com exactidão. Mas, desta vez, o assunto atingiu as raias da nossa indignação. Segundo ele de si próprio diz, tem sido um estadista exemplar, repleto de êxitos políticos e de realizações ímpares. E acrescentou que, moralmente, é inatacável.

O passado dele não o recomenda. Infelizmente! Foi um dos piores primeiros-ministros, depois do 25 de Abril. Recebeu, de Bruxelas, oceanos de dinheiro e esbanjou-os nas futilidades de regime que, habitualmente, são para "encher o olho" e cuja utilidade é duvidosa. Preferiu o betão ao desenvolvimento harmonioso do nosso estrato educacional; desprezou a memória colectiva como projecto ideológico, nisso associando-se ao ideário da senhora Tatcher e do senhor Regan; incentivou, desbragadamente, o culto da juventude pela juventude, característica das doutrinas fascistas; crispou a sociedade portuguesa com uma cultura de espeque e atrabiliária e, não o esqueçamos nunca, recusou a pensão de sangue à viúva de Salgueiro Maia, um dos mais abnegados heróis de Abril, atribuindo outras a agentes da PIDE, "por serviços relevantes à pátria." A lista de anomalias é medonha.

Como Presidente é um homem indeciso, cheio de fragilidades e de ressentimentos, com a ausência de grandeza exigida pela função. O caso, sinistro, das "escutas a Belém" é um dos episódios mais vis da história da II República. Sobre o caso escrevi, no Negócios, o que tinha de escrever. Mas não esqueço o manobrismo nem a desvergonha, minimizados por uma Imprensa minada por simpatizantes de jornalismos e por estipendiados inquietantes. Em qualquer país do mundo, seriamente democrático, o dr. Cavaco teria sido corrido a sete pés.

O lastro de opróbrio, de fiasco e de humilhação que tem deixado atrás de si, chega para acreditar que as forças que o sustentam, a manipulação a que os cidadãos têm sido sujeitos, é da ordem da mancha histórica. E os panegíricos que lhe tecem são ultrajantes para aqueles que o antecederam em Belém e ferem a nossa elementar decência.

É este homem de poucas qualidades que, no Centro Cultural de Belém, teve o descoco de se apresentar como símbolo de virtudes e sinónimo de impolutabilidade. É este homem, que as circunstâncias determinadas pelas torções da História alisaram um caminho sem pedras e empurraram para um destino que não merece. Triste República, nas mãos de gente que a não ama, que a não desenvolve, que a não resguarda e a não protege!

Estamos a assistir ao fim de muitas esperanças, de muitos sonhos acalentados, e à traição imposta a gerações de homens e de mulheres. É gente deste jaez e estilo que corrói os alicerces intelectuais, políticos e morais de uma democracia que, cada vez mais, existe, apenas, na superfície. O estado a que chegámos é, substancialmente, da responsabilidade deste cavalheiro e de outros como ele.

Como é possível que, estando o País de pantanas, o homem que se apresenta como candidato ao mais alto emprego do Estado, não tenha, nem agora nem antes, actuado com o poder de que dispõe? Como é possível? Há outros problemas que se põem: foi o dr. Cavaco que escreveu o discurso? Se foi, a sua conhecida mediocridade pode ser atenuante. Se não foi, há alguém, em Belém, que o quer tramar.

Um amigo meu, fundador de PSD, antigo companheiro de Sá Carneiro e leitor omnívoro de literatura de todos os géneros e projecções, que me dizia: "Como é que você quer que isto se endireite se o dr. Cavaco e a maioria dos políticos no activo diz 'competividade' em vez de 'competitividade' e julga que o Padre António Vieira é um pároco de qualquer igreja?"

Pessoalmente, não quero nada. Mas desejava, ardentemente desejava, ter um Presidente da República que, pelo menos, soubesse quantos cantos tem "Os Lusiadas”.»
(Manuela Valente, página pessoal FB)

Obrigado amiga, pela lembrança. Por mim peço-te que nunca te canses de me lembrar. Quem me ler, estou certo que te agradecerá também.

Até breve

6 comentários:

  1. Partilhei no facebook.

    Mas , de qualquer, modo, responsável é também quem o elegeu para todos os cargos e repetidamente...já se tendo conhecimento de muita coisa!

    Aliás, como acontece com o actual Governo !

    Como foi possível escolher Passos para agarrar o país numa situação complicada quando toda a gente sabia que não tinha experiência nenhuma de governação nem de trabalho?

    Ainda por cima vem agora um Sá qualquer gabar-se ( só isso demonstra o estofo moral de criatura e de quem o acompanhou neste infâmia)de que manipularam as pessoas usando todos os meios e que se riram até às lágrimas !!!

    Não terão uma ponta de decência nem de remorosos ao ver como está a ser destruído o país?!

    Bom domingo

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    1. Obrigado amiga, pelo teu comentário e pela partilha, que também fiz.

      Baptista Bastos continua a pessoa decente que sempre foi. Quanto aos outros, para quê falar? Já não há adjectivos para os classificar...

      Um bom domingo também para ti..

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  2. Estou de acordo com tudo o que acima foi dito. Há muitos anos atrás, conheci este senhor no Camarim, um bar onde eu tocava. E gostei. Gostei muito de o conhecer. E constato que continuo a gostar.

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    1. Difícil não gostar de Baptista Bastos, meu caro João Cruz! Uma vida inteira de coerência, dignidade e reconhecidas cultura e inteligência!...

      Obrigado pelo seu comentário.

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  3. Isto alimenta-nos a esperança! De quando em vez lembram-me quão ricos somos!
    Obrigado caro Sr. Baptista Bastos...

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