O caminho que resta a António Costa para restaurar a confiança perdida
29 Outubro, 2017
«Os últimos dias não deixam margem para dúvidas: durante meses, vamos ter reportagens diárias sobre o atraso na recuperação das áreas ardidas, com deputados da oposição a aproveitarem o maná e os canais de TV a seguir-lhes as pegadas, pelo menos até surgirem as cheias ou outras desgraças. O engodo é irresistível, pois por muito que se trabalhe no terreno, descobrir-se-á sempre alguém que ainda espera, um recanto em cinzas onde a reconstrução não chegou. É só ir lá e montar o arraial.
Se tiver a noção clara de que a renovação da confiança que o País perdeu na acção do Governo é uma tarefa que nunca poderá concluir-se, António Costa seguirá a sugestão de Assunção Cristas e criará uma "unidade de missão" – ou "estrutura de missão", como prefere Marques Mendes – para coordenar os esforços de regeneração do interior. Mas o descrédito é tão forte e a sanha dos adversários é tão grande, que não bastará a Costa arranjar essa equipa interministerial. Não. Há que lhe encontrar um porta-voz, um bom comunicador que semanalmente – ou a toda a hora – dê conta pública do que foi entretanto concretizado. Cansar a oposição, abusando da TV na exibição sistemática da obra feita, é o caminho que lhe resta. E é se quer.»
Se tiver a noção clara de que a renovação da confiança que o País perdeu na acção do Governo é uma tarefa que nunca poderá concluir-se, António Costa seguirá a sugestão de Assunção Cristas e criará uma "unidade de missão" – ou "estrutura de missão", como prefere Marques Mendes – para coordenar os esforços de regeneração do interior. Mas o descrédito é tão forte e a sanha dos adversários é tão grande, que não bastará a Costa arranjar essa equipa interministerial. Não. Há que lhe encontrar um porta-voz, um bom comunicador que semanalmente – ou a toda a hora – dê conta pública do que foi entretanto concretizado. Cansar a oposição, abusando da TV na exibição sistemática da obra feita, é o caminho que lhe resta. E é se quer.»
No meu modesto entender de cidadão preocupado com o "terramoto incendiário" que quase reduziu o país a cinzas, julgo que muito mal andaria António Costa se porventura ousasse escolher um só dos atalhos que Alexandre Pais (AP) aponta nesta sua recente e estranha crónica. Tal corresponderia, pelas armas que entregaria aos seus inimigos e detractores políticos, a um real e tão óbvio suicídio político, que nem os próprios algum dia seriam capazes de o admitir.
Numa coisa entendo que AP terá absoluta razão: António Costa deverá de imediato riscar da sua agenda, o desgaste a que está a sujeitar a sua própria imagem de 1º Ministro em termos comunicacionais, fazer do seu gabinete, esse sim, o quartel-general da sua acção e entregar ao melhor, arguto e fiel comunicador a missão que até agora julgou erradamente competir-lhe.
Quanto ao que verdadeiramente importará na sua acção futura, aquilo que "irrevogavelmente" lhe poderá permitir a "renovação da confiança que o País eventualmente possa ter perdido na acção do seu Governo", não ficará muito longe do verdadeiro caminho, se for capaz de beber na nossa História, os ensinamentos que por lá encontrará datados de 1755, protagonizados por políticos cuja estirpe se deverá preocupar em imitar nesta hora tão difícil, quanto a que então o país e particularmente Lisboa terão vivido, ocupando o Marquês de Alorna, secundado pelo Marquês de Pombal e o seu inteligente, esforçado e dinâmico séquito de arquitectos e engenheiros, lugar de destaque na prossecução imediata, eficaz e rigorosa do lema redentor: "sepultar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos"!...
"Sepultar os mortos" significará sempre e incontornávelmente, que de nada adiantará ficar reclamando e chorando o passado. É preciso sepultá-lo, colocar o passado debaixo da terra. Pouco ou nada valerão as sindicâncias para apurar os culpados, nem adiantará continuarmos a discutir como teria sido a catástrofe se as acções tivessem sido as mais correctas. É preciso enterrar os mortos. E a verdade é que muitos de nós revelamos um prazer quase mórbido e uma enorme dificuldade em enterrar os mortos. Ficamos anos e anos em atitude de um eterno velório. Passada a desgraça que sobre nós se abateu, lembre-se, a primeira coisa a ser feita é enterrar os mortos.
"Cuidar dos vivos" significará que depois de enterrarmos o passado, teremos que cuidar do presente. Cuidar do que ficou vivo. Cuidar do que sobrou. Cuidar do que realmente existe. Fazer o que tiver que ser feito para salvar o que restou da catástrofe. Cuidar dos vivos significará reunir pessoas e bens que sobreviveram à desgraça que nos abalou e reaproveitá-los de forma a servirem para a reconstrução, para o novo. Com energia e muita esperança precisamos, em segundo lugar, de cuidar dos vivos.
"Fechar os portos" significará depois, não permitir nunca mais portas abertas para que os mesmos problemas nos possam vir a afligir no futuro, ou outros parecidos nos venham estorvar a acção, enquanto estamos a cuidar dos vivos e a salvar o que restou da catástrofe.
"Fechar os portos" também significará, necessária e finalmente, que sempre que estamos debaixo da inclemência de uma calamidade, os nossos adversários e inimigos se aproveitam da nossa fragilidade e eventuais, naturais e humanas desesperança e fraqueza. Se deixarmos os nossos portos abertos, quase pela certa que nos veremos obrigados a ter que lutar contra os invasores, vampiros e abutres que hão-de tentar banquetear-se com a nossa desgraça...
Numa coisa entendo que AP terá absoluta razão: António Costa deverá de imediato riscar da sua agenda, o desgaste a que está a sujeitar a sua própria imagem de 1º Ministro em termos comunicacionais, fazer do seu gabinete, esse sim, o quartel-general da sua acção e entregar ao melhor, arguto e fiel comunicador a missão que até agora julgou erradamente competir-lhe.
Quanto ao que verdadeiramente importará na sua acção futura, aquilo que "irrevogavelmente" lhe poderá permitir a "renovação da confiança que o País eventualmente possa ter perdido na acção do seu Governo", não ficará muito longe do verdadeiro caminho, se for capaz de beber na nossa História, os ensinamentos que por lá encontrará datados de 1755, protagonizados por políticos cuja estirpe se deverá preocupar em imitar nesta hora tão difícil, quanto a que então o país e particularmente Lisboa terão vivido, ocupando o Marquês de Alorna, secundado pelo Marquês de Pombal e o seu inteligente, esforçado e dinâmico séquito de arquitectos e engenheiros, lugar de destaque na prossecução imediata, eficaz e rigorosa do lema redentor: "sepultar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos"!...
"Sepultar os mortos" significará sempre e incontornávelmente, que de nada adiantará ficar reclamando e chorando o passado. É preciso sepultá-lo, colocar o passado debaixo da terra. Pouco ou nada valerão as sindicâncias para apurar os culpados, nem adiantará continuarmos a discutir como teria sido a catástrofe se as acções tivessem sido as mais correctas. É preciso enterrar os mortos. E a verdade é que muitos de nós revelamos um prazer quase mórbido e uma enorme dificuldade em enterrar os mortos. Ficamos anos e anos em atitude de um eterno velório. Passada a desgraça que sobre nós se abateu, lembre-se, a primeira coisa a ser feita é enterrar os mortos.
"Cuidar dos vivos" significará que depois de enterrarmos o passado, teremos que cuidar do presente. Cuidar do que ficou vivo. Cuidar do que sobrou. Cuidar do que realmente existe. Fazer o que tiver que ser feito para salvar o que restou da catástrofe. Cuidar dos vivos significará reunir pessoas e bens que sobreviveram à desgraça que nos abalou e reaproveitá-los de forma a servirem para a reconstrução, para o novo. Com energia e muita esperança precisamos, em segundo lugar, de cuidar dos vivos.
"Fechar os portos" significará depois, não permitir nunca mais portas abertas para que os mesmos problemas nos possam vir a afligir no futuro, ou outros parecidos nos venham estorvar a acção, enquanto estamos a cuidar dos vivos e a salvar o que restou da catástrofe.
"Fechar os portos" também significará, necessária e finalmente, que sempre que estamos debaixo da inclemência de uma calamidade, os nossos adversários e inimigos se aproveitam da nossa fragilidade e eventuais, naturais e humanas desesperança e fraqueza. Se deixarmos os nossos portos abertos, quase pela certa que nos veremos obrigados a ter que lutar contra os invasores, vampiros e abutres que hão-de tentar banquetear-se com a nossa desgraça...
É por isso que António Costa terá que mandar fechar os portos!...
Até breve
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