A Grécia em Portugal
A vitória do Syriza terá efeitos em toda a Europa. Já está a ter. Os problemas na aprovação da continuação das sanções à Rússia são apenas o primeiro exemplo. Porque o governo grego é quezilento? Não. Porque leva a sério uma ideia simples: a União Europeia é uma união de Estados soberanos com igualdade de direitos e deveres. E todos têm uma palavra a dizer sobre o que a União decide. Isto, que devia ser óbvio, tem estado ausente da lógica política da União. A UE é hoje uma união de três ou quatro Estados que tomam decisões que se aplicam a 28. E é isto, entre outras coisas, que está a matar o projecto europeu. Deste ponto de vista, a entrada em cena da um país que pretende ganhar peso político na União, até porque o desfecho da renegociação da sua dívida depende desse peso, é um elemento fundamental para qualquer transformação europeia.
Há, no entanto, uma coisa de que não tenho dúvidas: será difícil a Grécia conquistar uma solução equilibrada para sair da asfixiante crise em que se encontra e, ao mesmo tempo, ficar no euro e na União Europeia, sem encontrar aliados noutros Estados. E será difícil os periféricos reequilibrarem os desequilíbrios da construção europeia, da arquitectura do euro e da relação da Europa com a sua crise financeira sem aproveitarem esta oportunidade. A vitória do Syriza é, independentemente da convicção ideológica de cada um, uma oportunidade histórica para mudar as regras do jogo. Insistir no "nós não somos a Grécia" é insistir no isolamento. Em vez da força de uma aliança de quem tem interesses coincidentes, esperam-se favores por bom comportamento. Já nem sublinho a cobardia do raciocínio. Ele é, antes disso, estúpido.
A vitória do Syriza terá efeitos em toda a Europa. Já está a ter. Os problemas na aprovação da continuação das sanções à Rússia são apenas o primeiro exemplo. Porque o governo grego é quezilento? Não. Porque leva a sério uma ideia simples: a União Europeia é uma união de Estados soberanos com igualdade de direitos e deveres. E todos têm uma palavra a dizer sobre o que a União decide. Isto, que devia ser óbvio, tem estado ausente da lógica política da União. A UE é hoje uma união de três ou quatro Estados que tomam decisões que se aplicam a 28. E é isto, entre outras coisas, que está a matar o projecto europeu. Deste ponto de vista, a entrada em cena da um país que pretende ganhar peso político na União, até porque o desfecho da renegociação da sua dívida depende desse peso, é um elemento fundamental para qualquer transformação europeia.
Há, no entanto, uma coisa de que não tenho dúvidas: será difícil a Grécia conquistar uma solução equilibrada para sair da asfixiante crise em que se encontra e, ao mesmo tempo, ficar no euro e na União Europeia, sem encontrar aliados noutros Estados. E será difícil os periféricos reequilibrarem os desequilíbrios da construção europeia, da arquitectura do euro e da relação da Europa com a sua crise financeira sem aproveitarem esta oportunidade. A vitória do Syriza é, independentemente da convicção ideológica de cada um, uma oportunidade histórica para mudar as regras do jogo. Insistir no "nós não somos a Grécia" é insistir no isolamento. Em vez da força de uma aliança de quem tem interesses coincidentes, esperam-se favores por bom comportamento. Já nem sublinho a cobardia do raciocínio. Ele é, antes disso, estúpido.
A vitória do Syriza cria, em Portugal e noutros países, novas oportunidades e dificuldades a quem se candidata ao poder. Já não basta falar da mera gestão das imposições europeias. A Europa passou a ser o palco de um confronto sobre o seu próprio futuro.
Deste ponto de vista, as posições de solidariedade política com o novo governo grego, vindas de sectores que não dividam com ele convicções ideológicas, não são, como alguns julgam, sinal de "radicalismo". São sinal de pragmatismo. Portugal, Espanha, Irlanda ou até Itália e França só poderão voltar a por na agenda uma solução europeia para as dívidas soberanas e para a disfuncionalidade do euro se tiverem um aliado que comece por romper consensos gastos. É no sucesso de Alexis Tsipras que se joga o seu poder negocial.
Deste ponto de vista, a vitória do Syriza cria, em Portugal e noutros países, novas oportunidades e dificuldades a quem se candidata ao poder. Já não basta falar da mera gestão das imposições europeias. A Europa deixou de ser uma entidade externa que nos impõe coisas desagradáveis e passou a ser o palco de um confronto sobre o seu próprio futuro. E todos os Estados estão obrigados a tomar uma posição. Deste ponto de vista, a vida fica dificultada para quem não tem nada a dizer sobre a Europa que deseja e se habituou a manter uma postura passiva de "bom aluno". Em Portugal é, para o PS, uma autêntica revolução. Que exibirá as suas divergências internas.
Para as forças à esquerda do PS, o primeiro governo mais à esquerda a tomar posse num país importante para esta crise, também não será fácil de gerir. As escolhas difíceis que Tsipras vai fazer e o pragmatismo a que está obrigado para vencer o braço de ferro com Merkel confrontarão o hábito do discurso irredutível sobre tudo, habitual em parte da esquerda portuguesa, com uma realidade sempre mais difícil. Deixar cair a exigência da saída da NATO e a escolha dos Gregos Independentes para aliado de governo foram só os primeiros sapos. O pragmatismo não deve ser a cultura da traição e da cedência permanente. Mas obriga a ter prioridades para escolher no que se cede e no que não se cede. Coisa que não se exige a quem não queira governar. Deste ponto de vista, o Syriza também vai ser muito pedagógico para o resto da esquerda.
Quanto à nossa direita, está só revoltada por Tsipras não ser Hollande.
Tresloucada e infantil, a reacção de Passos Coelho à vitória do Syriza diz tudo.
O seu discurso político está ao nível das caixa de comentários dos piores jornais.
Quando vem a decadência política costuma notar-se mais a indigência intelectual.
Percebe-se que o debate sobre o futuro deste país e da Europa já não vai passar por ali.
(Daniel Oliveira, Antes pelo Contrário/Expresso)Esta sublime crónica de Daniel Oliveira é uma inegociável e tripla dádiva dos deuses! Em primeiro lugar, porque fornece a todos os seus leitores, as ferramentas necessárias e suficientes para que possam soltar o seu libertário "grito do ipiranga" sobre os discursos alienados, vazios ou ocos, da quase totalidade dos comentadores e politólogos das nossas estações de televisão, rádios e jornais, em regime de pérfida avença.
Em segundo lugar, porque constitui um corajoso e pragmático epitáfio sobre a carreira política de Pedro Passos Coelho e de toda a "generosa corja" que o acompanha no Governo e nas mais variadas instâncias que dele decorrem.
Finalmente, porque sugere a todos aqueles que ainda acreditam no Futuro, que será TEMPO DE AVANÇAR...
Decidida e corajosamente!...
Até breve
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