Três semanas depois, regresso aqui, porque me voltou a aparecer aquela terrível dor de dentes! A minha médica de família diagnosticou raiva. Que um poderoso ataque de raiva se tinha declarado entre os meus dentes e que a única solução seria fazer um retiro sabático. Em conversa amena e como as nossas concepções de mundo estão próximas - porque as consultas não visam apenas melhorar a condição física desta vida que me obrigam a levar - disse-me que eu sózinho não mudaria o mundo. Então, que o deixasse andar por uns tempos, sem me deixar envolver! E eu segui o seu conselho...
Mas quando a Ti São vomitou aquela raiva toda contra os militares de Abril, uma raiva ainda maior que a dela, voltou-me a atacar os dentes. Chamam a isso, como acontece com as granadas, um rebentamento por simpatia. Eu disse rebentamento, não "inconseguimento"!
Não conhecem a Ti São?! Ora, ora... Então eu explico. A Ti São era uma jovenzita, bonita e interessante, a quem o estado ofereceu uma licenciatura em Direito. De borla! Com algum esforço dela, naturalmente, mas de borla. Depois, com o canudo na mão, chegou, com a inteligência que conseguiu reunir, à conclusão de que uma eventual incursão na advocacia resultaria inevitavelmente num "inconseguimento" e em consequência, num "frustracional" modo de vida.
E fez duas coisas: agarrrou-se à "laranjeira" e escolheu ser "magistruz"! Outra vez?! Voltam a não saber o que diabo eu quero dizer com laranjeira ou o que é uma ou um magistruz?! Ai a minha paciência. Uma laranjeira é uma árvore que dá laranjas. Um magistruz, será assim um híbrido entre magistrado e alcatruz. Agora pensem o que quiserem. Apenas vos ajudo com o facto de os alcatruzes funcionarem em qualquer água em que seja montada a nora, que despejam toda a água que recolhem, sempre no mesmo sítio, um receptáculo onde estão reunidos todos os priviligiados deste país e, finalmente, têm um buraco no fundo, por onde largam as fezes, que caem inevitavelmente no alcatruz que se lhes segue.
E a Ti São, ninguém sabe se adoptando os processos "rélvicos", ficou magistruz! E andou por aí aos caidos, até que um dia, estava ela a apanhar laranjas, viu lá do alto, o palácio do Raton. E da ideia que lhe surgiu de repente, à prática, foi apenas o tempo que demora a apanhar uma laranja. E por lá ficou, qual alcatruz, a levar a água para a rega do laranjal. E mal se apanhou, ainda jovem, poupada das agruras da vida e bonita, mas naquela faixa etária que com os outros magistruzes havia cozinhado para benefício próprio, reformou-se, qual flor de laranjeira, igual a tantas outras que nunca chegam a laranjas, mas que todos nos vemos obrigados a dar sustento.
Insaciável e perante as dificuldades que os modestos proventos que o "conseguimento" de uma abstrusa reforma lhe proporcionavam, continuou a trabalhar "a recibos verdes" no laranjal. E de insinuação em insinuação, acentuando o loiro da cabeleira de gaiata e exibindo num sorriso alvar, os dentes sob os quais acumulara uma escondida raiva a Abril, mandou às malvas todos os "inconseguimentos frustracionais" e foi nomeada capataz do laranjal.
Mesmo loira, durante três longos anos, lá foi conseguindo amordaçar entre os dentes todas as raivas, enquanto ia colocando nas unhas bem tratadas das mãos que nunca souberam o significado de trabalho, camada sobre camada de verniz, que mesmo assim não a impediram de um dia gritar, do alto da mais alta laranjeira do laranjal e num assomo de histeria nazi: "Não podemos deixar que os nossos carrascos nos criem maus costumes".
Agora, consolidado o seu "conseguimento" e afastados todos os "medos frustracionais", convicta de que nada nem ninguém, nem a democracia e menos ainda a palavra e a revolta do seu ódio de estimação, os militares de Abril, serão obstáculo ao autoritarismo que emana do seu umbigo, deixou estalar definitivamente, a grossa camada de verniz que lhe emoldurava as unhas.
É uma mulher de sorte a Ti São! Porque o laranjal, mesmo produzindo cada vez mais quase só laranjas amargas, parece eternizar-se no "conseguimento" de um sumo em cada dia mais azedo, que quase todos já se habituaram a engolir, de olhos fechados, esquecidos ou indiferentes ao esgar exibido no fim de cada trago.
Claro que o problema é deles! Deles e nosso. Da Ti São é que de certeza não será! A menos que tanto eles quanto nós, arranjemos coragem para... pois, isso mesmo, arrasar o laranjal e plantar em seu lugar... figueiras! Se mais ninguém me compreender, tenho por certo que Judas me compreenderá!...
Até breve
E fiquei eu toda contente por ser alguém do sexo feminino a presidir à Assembleia da República e, para cúmulo, até pensei que poderia contrabalançar a mesquinhez da cavacal figura!!
ResponderEliminarAfinal, estão as duas principais entidades do país são iguais, até na preferência que deram às reformas em vez do vencimento pelo cargo que ocupam...
Percebe-se: como o francês já não se fala, nunca ouviram dizer "noblesse oblige"
Saudações
Esta tralha que "nós" elegemos, as únicas nobrezas e obrigações que conhecem, serão os permanentes e carinhosos afagos que fazem no seu, deles, umbigos!... TRALHA MALDITA!...
EliminarAbraço
Democracia?...
ResponderEliminarDemocracia musculada!
E já há (com responsabilidades no 25 de Abril) quem fale em ditadura, uma nova forma de ditadura.
Conceição Esteves é mais um(a) que deixou caír a máscara, sentem que já nem precisam disfarçar...
Amigo "Liondamaia", poderão estar a cometer um erro do tamanho deles, pensando que já nem precisam disfarçar!... Cá se fazem, cá se pagam!...
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