quinta-feira, 16 de agosto de 2012

"Quo vadis", Esquerda?!...


Um tema interessante e porventura de importância capital no futuro de todos nós, este que João Paulo aborda hoje no blogue Aventar e de que passo a reproduzir, com a devida vénia, um excerto que reflecte a matriz do seu pensamento e que há muito tempo, décadas talvez, partilho:
"... se nós, eleitores de esquerda, defendemos uma sociedade que é mais justa, mais solidária, mais equilibrada, etc, etc, etc, como é que estamos sempre a perder? Porque é que os eleitores não votam à esquerda?...", rematando depois "... Será que podemos também ganhar? Ou será que vamos perder sempre?...".
Há muito que tenho a profunda convicção de que, pelo caminho actual, muito dificilmente os que pensam esquerda, algum dia poderão vir a cantar vitória. O que de modo algum significará que estarão irremediavelmente condenados a perder sempre. Porque, a meu ver, residindo a razão fundamental que tem suportado as decepções do passado e destruído as pontes do futuro, numa simples e despretensiosa palavra, desencontro, bastará o prefixo desaparecer.
Há um desencontro total e completo entre as propostas que a esquerda há décadas teima em apresentar e bem assim, o modo subjectivo, hermético e carregado de naftalina ideológica com que o faz e a água pura e cristalinamente transparente, fresca e revigorante que o povo desejaria beber.
O povo está farto de ver invocado o seu nome, para que, subrepticiamente, lhe continuem a chamar estúpido. O povo está farto da exaltação de estereotipos ideológicos de que há muito lhe chegaram notícias de um ruir clamoroso e confrangedor. O povo está farto que lhe apresentem o que não quer, com roupagens novas e convidativas, ou escondido sob capotes carregados de bolor.
Sejamos claros e desmistificadores. Toda a cúpula dirigente do PCP, continua a pretender esconder a foice e o martelo, de braço dado com uns "Os Verdes" que todos sabem o que são e sob a capa das três letrinhas CDU, que farão sentido para os seus ideólogos, mas que para o povo jamais deixarão de constituir o rabo de fora do gato escondido. Isso é chamar estúpido ao povo de quem pretendem os votos. À cúpula dirigente do PCP, apenas resta um de dois caminhos: ou prossegue de forma autista com o passo trocado e verá a sua influência decrescer até ao ridículo, quando o velho bastião alentejano e os cada vez mais raros micro-cosmos espalhados pelo país, seguirem a lei inexorável da vida, ou aprende com o povo e luta ombro a ombro com ele e por ele, sem amarras ideológicas a um passado, que por muitas loas que lhe sejam cantadas, jaz para sempre entre teias de aranha.
A clareza e a desmistificação deverá necessariamente alargar-se ao BE, cujo "aggiornamento" provocou nas penúltimas eleições, uma onda de esperança generalizada e fortes pinceladas de vermelho no hemiciclo que nos representa, mas onde, aí precisamente, a prática política desbaratou completamente o capital antes acumulado, particularmente junto das novas gerações. O Bloco terá perdido a oportunidade histórica de ganhar a mais importante das batalhas, aquela que poderia catapultá-lo definitivamente para o poder: a da credibilidade! Terá conseguido fazer o mais difícil: chegar ao limiar do encontro com o povo. Mas depois, com tanta gente a querer ao mesmo tempo subir os degraus da escada para o poder, estes acabaram por ceder e todos tombaram no chão e perder a dita, a credibilidade ! Mas a oportunidade perdida, terá inviabilizado o futuro?!... Recomeçar nunca foi fácil, mas o sonho sempre comandará a vida. Se os erros servirem para alguma coisa... 
Claro que para terminar aqui, com clareza desmistificadora, o meu pensamento, também por aqui fica a minha esquerda. Não há mais esquerda para mim e nem pretendo dizer porquê.  Porque nem as moscas mudam e ... seguramente, não haverá ninguém que me convença do contrário.

Até breve


     

5 comentários:

  1. Pois é amigo, a esquerda, como ela existe no nosso país, já deu o que tinha a dar. A direita, essa, está a dar cabo de nós. A outra esquerda, que mais parece direita encapotada, já não engana ninguém.
    Ora bolas!!! Para quê tantas lutas e sacrifícios para instaurar a democracia, modelo de representatividade popular e quando elegemos os nossos representantes, a esquerda tradicional em que nos revíamos, falha os encontros onde nós gostaríamos de estar presentes para dizer da nossa justiça.
    Basta!!!!!!!!
    Mudem de rumo, adaptem-se aos tempos que vivemos ou mudem de vida. Assim... NÃO!
    Esta esquerda só sabe ser oposição e nós já estamos mais à frente.

    Gostei de ler este teu post que reflecte a orfandade esquerdista deste país.

    Abraços

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    1. Amiga e "mana querida",
      Gostei muito do teu comentário. Naturalmente, não me surpreendeu. Apenas me fez bem, como sempre me fazem bem as tuas palavras. Aqui e além...
      Percebo o que quizeste dizer com "... Esta esquerda só sabe ser oposição...", mas a frase é perigosa. Porque alguém pode convencer-se que estará a fazer uma boa oposição, apesar de insuficiente. Não está. Estará quase tudo errado na oposição de esquerda. É uma oposição apenas reactiva à agenda e ao ritmo, claramente marcados pela direita. Deveria ser uma oposição activa e surpreendente em cada dia, que levasse a direita a reboque e que a obrigasse a gaguejar no hemiciclo, desculpas esfarrapadas de que o povo facilmente se aperceberia. Porque o povo não é parvo. Parece, mas não é. Assim, com este tipo de oposição, em defesa das suas capelinhas e sempre politicamente correcta, jamais apresentará ao povo a imagem de credibilidade que este necessitaria para a entender como alternativa. São muito poucos os deputados de esquerda que, percebendo o seu papel na "casa do povo", se libertam das amarras partidárias e avançam para esse mesmo povo que os elegeu, que somos todos nós e que, como sabiamente referes, "...já estamos mais à frente...".
      Enquanto assistirmos à pulverização da esquerda, à defesa, "pelas diversas nomenclaturas", das coutadas de cada um, esquecendo que o importante será sempre a sua unidade, face ao poderoso e único inimigo, que será sempre a direita, não iremos a lado nenhum. Enquanto os dirigentes de esquerda pensarem que "os ruídos de rua" e as "greves selvagens" contribuirão para a conquista do poder, estaremos a retroceder civilizacionalmente e a colocarmo-nos no humilde patamar a que os povos árabes só agora estarão a chegar. Que é feito de séculos de civilização ocidental?!... Será que o passado nada nos ensinou, para continuarmos dogmaticamente a reverenciá-lo?!... Onde estão as ideias novas e arejadas, capazes de encontrar resposta a esta submissão completa ao império dos mercados de capitais, que vão varrendo e destruindo a Europa e o Mundo?!... O que dizem sobre isto os ilustres e comodamente sentados e retribuídos deputados da nossa, quase que me atrevo a dizer, "Assembleia Nacional"?!... Qual "república" qual carapuça!!!... "Nacional", é o que eles a fazem parecer!...
      Olha, como sempre, terei exagerado com a tua paciência. Perdoa-me amiga...

      Abraços

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    2. Teria tanto para dizer ao vivo e a cores sobre eta matéria.
      Como diz o meu marido, estes temas são interessantes e ricos demais para os discutirmos na estreiteza destes espaços.
      Muito fica por dizer e nunca dizemos tudo o que queremos e sentimos.
      Para mim que adoro "falar" este meio constrange-me.
      Fica, no entanto, a certeza que comungamos das mesmas ideias e que somos demasiados modernos comparativamente com os líderes desta Esquerda que não prima pela originalidade nem o desapego pelo PODER. Se o fosse como apregoa, outro galo cantaria e a oposição seria efectiva e não "politicamente correta" como afirmas.

      Abraços "mano amigo"

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  2. A Esquerda tem que repensar -se e à sua maneira de actuar quando chega ao Poder.

    Tem que entender que a divisão onde se dilacera , só favorece as forças contrárias.

    Caramba, ainda não teve tempo para perceber as razões do seu fracasso?!

    Serena noite

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    1. Eu compreendo a boa vontade da minha amiga, quando refere que "A Esquerda tem que repensar -se e à sua maneira de actuar quando chega ao Poder...". Porém, o seu pensamento só será válido se entendermos o PS como uma força de esquerda e isso, eu não consigo. A sua praxis nunca foi de esquerda. De esquerda apenas terá o nome: Socialista. Tenho que reconhecer, que também o PSD, jamais foi um partido social-democrata, nem nunca foi reconhecido internacionalmente como tal. Mas o cerne da nossa questão gira em torno do PS. Reconheço sem qualquer dificuldade que muitos milhares de militantes socialistas serão homens e mulheres de esquerda. Mas essa linha política desde sempre foi, clara e expressivamente afastada dos centros de decisão do partido. Se no futuro, essa linha poderá ou não triunfar, já será outra questão. Nessa circunstância, então poderíamos colocar a questão com que iniciou o seu comentário. No quadro actual temos apenas duas forças de esquerda e foi em torno delas que centrei o meu artigo. Duas forças de esquerda, ironicamente inconciliáveis, pelas razões que aduzi e por isso mesmo sem o mínimo rótulo de credibilidade para aspirarem ao poder, enquanto não conseguirem acabar com essa interminável guerra de guerrilha urbana que as enfraquece e descredibiliza. Já não estamos em tempos de leninismos e trotsquismos, mas os caciques de uma e outra força, continuam a defender as suas capelinhas, indiferentes ao sofrimento do povo.
      Aí residem o meu desapontamento e a minha angústia...

      Uma serena noite, também para a minha amiga

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