sábado, 21 de janeiro de 2012

Afastar de nós este cálice ?!...


Uma onda de indignação revolve este país de lés a lés. As palavras do "Supremo Magistrado da Nação" caíram como uma bomba, um ultraje, uma inaceitável e inqualificável mentira. Finalmente o pai da crise que assola violentamente o país, o mentor primeiro de um modelo de desenvolvimento que, condensando fraude e fracasso e cohabitando despudoradamente com o clientelismo e a corrupção generalizada, atirou um povo inteiro para o precipício,
                                          deixou cair a máscara !...
A água que sobrou do violento temporal que a sua míope acção governativa provocou e continua a provocar no país, nunca o molhou. Convencido do seu papel providencial na vida pública portuguesa, foi colocando sobre a sua esfíngica figura, o manto diáfano da virtude e da infalibilidade - NUNCA ME ENGANO E RARAMENTE TENHO DÚVIDAS!... -, mas como o azeite, a verdade subiu e nadou, nua e crua, quando o silêncio seria mais inteligente e aconselhável: como o vulgar criminoso, Cavaco Silva voltou ao local do crime e refletiu com as inclassificáveis palavras que proferiu, a pobreza da sua figura e o miserabilismo moral e cultural da sua mensagem e dos que, em genuflexão vergonhosa, lhe deram suporte em toda a sua carreira política.
Pouco mais resta a este desesperado e desgraçado povo português, que aguentar este exemplar máximo da desfaçatez até ao final do seu triste e desprezível mandato!... Portugal jamais se poderá comparar a uma potência económica, mas democrática, como os Estados Unidos, onde a lei ainda se sobrepõe a todas as corrupções e jogos de bastidores. Nem sequer se poderá comparar ao Brasil, onde, correndo ainda algum do sangue do crime e da corrupção que herdou do génio luso, à Justiça ainda resta algum pingo de vergonha e de dignidade. Aqui, hoje por hoje e não sei por quantos séculos mais, os "impeachments" de Richard Nixon e Collor de Mello, seriam impossíveis. Razões existem e de sobra, mas a espinha da magistratura portuguesa, tem um desenho mais curvo que a foice dos desaparecidos, corajosos e combativos ceifeiros alentejanos.
Nunca compreendi, em toda a minha sofrida juventude, os quase 50 anos do Estado Novo e a mansidão e brandura deste povo desgraçado e miserável. Hoje começo a compreender melhor, porque pode um povo sofrer tanto e durante tanto tempo. O povo que viveu e sobreviveu na ditadura, nunca teve armas que lhe permitissem vencer os esbirros que o espezinharam tanto tempo. E não fora a terrível luta de defesa de privilégios, não teria havido Capitães nem Abril.
Mas agora que o povo tem nas suas mãos, todas as armas necessárias para derrubar os energúmenos e mentecaptos que nos dirigem e governam, continuo sem compreender porque não somos capazes de...
                                ... afastar de nós este cálice ?!...

Até breve  

2 comentários:

  1. Caro Amigo: EXCELENTE texto.Continua porque espaços destes sempre tiveram pernas para andar dada a qualidade de ideias apresentadas.Na minha modesta opinião o afastar do CALICE ATÉ NEM SERIA MUITO DIFICIL desde que a maioria deste triste POVO pudesse entender que lhe quer servir a maldita CICUTA...
    Parabéns pelo teu trabalho.Continua até que a mão te doa...
    Tarrantês

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  2. Caro Professor,
    Não me sinto digno do seu elogio. Mas se do alto da sua sabedoria me incita a continuar "até que a mão me doa", hei-de procurar merecer esse voto de confiança e todo esse enorme estímulo. E com alvos tão a jeito, a tarefa até que não é, infelizmente, assim tão difícil como deveria ser suposto. Quizera ter razões para estar "calado"...
    Um abraço amigo,
    Álamo

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