Em "hibernação" há quase dois meses pela razão simples de, não pretendendo ser mais uma voz a clamar no deserto contra uma Justiça incapaz de condenar incendiários responsáveis quase únicos da maior onda de incêndios de que me lembro desde que sou gente e entender que, para além disso, a "geringonça" vai bem e recomenda-se, sem precisar do meu empurrão, enquanto a oposição desfere nos próprios pés os tiros suficientes para perder a pouca credibilidade que lhe resta, volto apenas e fugazmente, para afirmar o meu respeito profundo pela greve, provavelmente uma das maiores conquistas de Abril para todos aqueles que dependem do seu trabalho para que a sua dignidade de nada dependa.
Porém, haverá greves e greves e a greve de menos de metade dos trabalhadores da AutoEuropa, que mesmo assim paralisaram a fábrica, nunca será por mim entendida como uma greve. É que não sou capaz de esquecer outras que vivi bem por dentro em finais da década de 70, de índole muito semelhante e resultados devastadores, nem deixar de lhes associar imagens aberrantes de efusivos abraços de “vitória”, trocados entre sindicalistas da minha trincheira, como se tivessem derrubado as muralhas e tomado uma qualquer cidade, numa hora que eu julgava de tristeza, porque sempre entendi a greve como último e dramático recurso de quem trabalha. Foram factos desse jaez que me afastaram irremediavelmente do projecto político a que dediquei, com convicção, abnegação e profunda solidariedade ideológica, os melhores anos da minha vida. Por isso não precisarei que me assobiem para beber a água pouco transparente que depois de vazado o copo, deixará ante os meus olhos e bem lá no fundo, as razões que sustentam esta greve.
Sei bem o que é trabalhar por turnos, incluindo fins de semana, fins de mês e fins de ano a fio, durante quase três décadas e calculo a dureza de uma linha de montagem. Mas uma coisa é negociar melhores condições, outra é pôr em causa o futuro de três mil trabalhadores. Que lhes dirão depois os sindicalistas que hoje lhes anunciam amanhãs radiosos, se a fábrica entrar em declínio e acordarem com ela a laborar num qualquer recanto ignorado lá para leste? Que a vitória é certa?! Não me façam rir que já vi esse filme! Demasiadas vezes!...
Certas serão, tenho a certeza, pelas cicatrizes que para sempre me acompanharão até ao fim da minha caminhada, a cegueira ideológica e a estupidez...
E se juntas, inexoravelmente, uma tragédia!...
Certas serão, tenho a certeza, pelas cicatrizes que para sempre me acompanharão até ao fim da minha caminhada, a cegueira ideológica e a estupidez...
Até breve
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