sexta-feira, 14 de novembro de 2014

As térmitas e os efeitos das madeiras chinesas!...




No Brasil chamam-lhes cupins, em Portugal o nome assume uma forma mais erudita e os compêndios de biologia referem-nas como térmitas. Na Madeira tomaram o nome de jardins e na aldeola onde nasci. aprendi a chamar-lhes bichos da madeira, que tantas noites me amedrontaram e tiraram o sono em menino, com o seu escavar implacável e destruidor.

Não trabalham à luz do dia, preferem a escuridão do interior das madeiras secas e quase silenciosamente e no segredo dos deuses, podem destruir uma mesa, uma cama, uma casa ou até um país, se este for de madeira e nunca tiver sofrido tratamento preventivo, coisa que por cá ninguém parece saber o que é, ou se sabe, faz de conta que não é preciso.

Vivem à nossa custa, que o mesmo será dizer, à custa dos nossos descuidos, fechar de olhos ou encolher de ombros! Reproduzem-se quase como as formigas e copiam-lhes a organização e a determinação. São gordas e rechonchudas de inverno e ganham asas no verão, para poderem mudar de mesa, em busca de novos farnéis.

São os mineiros da nossa desgraça, de que só damos conta quando batemos com as costas no chão pelo desmantelamento da cadeira e da cama ou quando o telhado se abate sobre as nossas cabeças, porque os barrotes ficam ocos e frágeis sem que nos apercebamos do perigo.

Há séculos que sabemos da sua existência mas, de geração em geração, sempre lhes permitimos uma coexistência pacífica, calma e tranquila e ai de quem pense em travar-lhes a acção, que recolherá o odioso da inconveniência e do despropósito: os bichinhos até são inofensivos, coitadinhos, ninguém os vê, nem fazem mal a ninguém!...

Mas um dado estranho e novo parece ter sido introduzido na vida das térmitas, neste "sui generis" torrão luso. Com a recente importação massiva de madeiras chinesas, a mudança brusca dos hábitos alimentares, parece ter provocado violenta diarreia no clã. E é vê-las por aí de calças na mão, sem saberem muito bem o que hão-de fazer: por um lado, se continuam a alimentar-se com tão indigesto repasto, correm o risco de se esvair em água e quanto mais comerem mais apressarão o fim, por outro lado sem alimento, morrerão de inanição no próprio alojamento...

A vida parece agora correr bem para as formigas, que se aprontam para devorar os cadáveres. Pois, os necrófagos, convenientemente, apenas se abeiram quando a vítima já não mexe...

Até breve

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