quinta-feira, 29 de março de 2012

Será qe xegaremux a exta perfaisaum ?!...

Mão familiar amiga, fez-me chegar um texto de "outro mundo" !... Um mundo de moínhos de vento, rodando silenciosamente como almas penadas... Há-os por aí aos montes. Desafiantes. Até eu, "incréu" - na terra que me adoptou diz-se assim, por isso não gozem -, é raro o dia em que não resisto a uma "arremetidazinha", mesmo sem o Sancho à mão. Mas numa personagem - não lhe chamo quixotesca, porque não! - como a autora do blog A Biblioteca de Jacinto, de seu nome Maria Clara Assunção, nunca os meus olhos tinham tido a ventura de pousar.
O texto foi escrito em Agosto de 2009, mas é tão actual que arrepia e deixou a minha pele com se eu fora uma galinha acabada de depenar. E o vómito penitente que o Novo Acordo Ortográfico me provoca, para além de me levar a aplaudir freneticamente um dos maiores génios do humor em língua portuguesa, ontem infelizmente desaparecido, Millôr Fernandes, quando no mesmo ano ido de 2009, afirmou a um jornalista do Diário de Notícias, "... O Acordo ortográfico é uma merda!...", leva-me agora, perante esta obra prima, a "arrotar" de tanto rir, sem parar de rebolar pelo chão.
Com a devida vénia, fica a minha humilde homenagem à inteligência da autora:


Maria Clara Assunção

O acordo ortográfico e o futuro da língua portuguesa
Tem-se falado muito do Acordo Ortográfico e da necessidade de a língua evoluir no sentido da simplificação, eliminando letras desnecessárias e acompanhando a forma como as pessoas realmente falam. Sempre combati o dito Acordo mas, pensando bem, até começo a pensar que este peca por defeito. Acho que toda a escrita deveria ser repensada, tornando-a mais moderna, mais simples, mais fácil de aprender pelos estrangeiros.
Comecemos pelas consoantes mudas: deviam ser todas eliminadas.
É um fato que não se pronunciam. Se não se pronunciam, porque ão-de escrever-se? O que estão lá a fazer? Aliás, o qe estão lá a fazer? Defendo qe todas as letras qe não se pronunciam devem ser, pura e simplesmente, eliminadas da escrita já qe não existem na oralidade.
Outra complicação decorre da leitura igual qe se faz de letras diferentes e das leituras diferentes qe pode ter a mesma letra.
Porqe é qe “assunção” se escreve com “ç” e “ascensão” se escreve com “s”?
Seria muito mais fácil para as nossas crianças atribuír um som único a cada letra até porqe, quando aprendem o alfabeto, lhes atribuem um único nome. Além disso, os teclados portugueses deixariam de ser diferentes se eliminássemos liminarmente o “ç”.
Por isso, proponho qe o próximo acordo ortográfico elimine o “ç” e o substitua por um simples “s” o qual passaria a ter um único som.
Como consequência, também os “ss” deixariam de ser nesesários já qe um “s” se pasará a ler sempre e apenas “s”.
Esta é uma enorme simplificasão com amplas consequências económicas, designadamente ao nível da redusão do número de carateres a uzar. Claro, “uzar”, é isso mesmo, se o “s” pasar a ter sempre o som de “s” o som “z” pasará a ser sempre reprezentado por um “z”.
Simples não é? se o som é “s”, escreve-se sempre com s. Se o som é “z” escreve-se sempre com “z”.
Quanto ao “c” (que se diz “cê” mas qe, na maior parte dos casos, tem valor de “q”) pode, com vantagem, ser substituído pelo “q”. Sou patriota e defendo a língua portugueza, não qonqordo qom a introdusão de letras estrangeiras. Nada de “k”.
Não pensem qe me esqesi do som “ch”.
O som “ch” pasa a ser reprezentado pela letra “x”. Alguém dix “csix” para dezinar o “x”? Ninguém, pois não? O “x” xama-se “xis”. Poix é iso mexmo qe fiqa.
Qomo podem ver, já eliminámox o “c”, o “h”, o “p” e o “u” inúteix, a tripla leitura da letra “s” e também a tripla leitura da letra “x”.
Reparem qomo, gradualmente, a exqrita se torna menox eqívoca, maix fluida, maix qursiva, maix expontânea, maix simplex. Não, não leiam “simpléqs”, leiam simplex. O som “qs” pasa a ser exqrito “qs” u qe é muito maix qonforme à leitura natural.
No entanto, ax mudansax na ortografia podem ainda ir maix longe, melhorar qonsideravelmente.
Vejamox o qaso do som “j”. Umax vezex excrevemox exte som qom “j” outrax vezex qom “g”. Para qê qomplicar?!?
Se uzarmox sempre o “j” para o som “j” não presizamox do “u” a segir à letra “g” poix exta terá, sempre, o som “g” e nunqa o som “j”. Serto? Maix uma letra muda qe eliminamox.
É impresionante a quantidade de ambivalênsiax e de letras inuteix qe a língua portugesa tem! Uma língua qe tem pretensõex a ser a qinta língua maix falada do planeta, qomo pode impôr-se qom tantax qompliqasõex? Qomo pode expalhar-se pelo mundo, qomo póde tornar-se realmente impurtante se não aqompanha a evolusão natural da oralidade?
Outro problema é o dox asentox. Ox asentox só qompliqam!
Se qada vogal tiver sempre o mexmo som, ox asentox tornam-se dexnesesáriox.
A qextão a qoloqar é: á alternativa? Se não ouver alternativa, pasiênsia.
É o qazo da letra “a”. Umax vezex lê-se “á”, aberto, outrax vezex lê-se “â”, fexado. Nada a fazer.
Max, em outrox qazos, á alternativax.
Vejamox o “o”: umax vezex lê-se “ó”, outrax vezex lê-se “u” e outrax, ainda, lê-se “ô”. Seria tão maix fásil se aqabásemox qom isso! Para qe é qe temux o “u”? Para u uzar, não? Se u som “u” pasar a ser sempre reprezentado pela letra “u” fiqa tudo tão maix fásil! Pur seu lado, u “o” pasa a suar sempre “ó”, tornandu até dexnesesáriu u asentu.
Já nu qazu da letra “e”, também pudemux fazer alguma qoiza: quandu soa “é”, abertu, pudemux usar u “e”. U mexmu para u som “ê”. Max quandu u “e” se lê “i”, deverá ser subxtituídu pelu “i”. I naqelex qazux em qe u “e” se lê “â” deve ser subxtituidu pelu “a”.
Sempre. Simplex i sem qompliqasõex.
Pudemux ainda melhurar maix alguma qoiza: eliminamux u “til” subxtituindu, nus ditongux, “ão” pur “aum”, “ães” – ou melhor “ãix” - pur “ainx” i “õix” pur “oinx”.
Ixtu até satixfax aqeles xatux purixtax da língua qe goxtaum tantu de arqaíxmux.
Pensu qe ainda puderiamux prupor maix algumax melhuriax max parese-me qe exte breve ezersísiu já e sufisiente para todux perseberem qomu a simplifiqasaum i a aprosimasaum da ortografia à oralidade so pode trazer vantajainx qompetitivax para a língua purtugeza i para a sua aixpansaum nu mundu.

Será qe algum dia xegaremux a exta perfaisaum?
A minha missão está cumprida. Aceitam-se comentários.
Até breve

8 comentários:

  1. Não amigo, assim não. Esta é a linguagem da miudagem usada nos milhentos SMS que trocam ao longo do dia. Recuso-me a aderir a tal transfiguração da língua Portuguesa e nem sequer sou contra o novo AO.
    Se já vivi um quando entrei na instrução primária que nem me apercebi não fora ver os pais escreverem palavras de forma diferente da minha, porque não adaptar-me a este com a forte motivação de ter que escrever para 5 netos que vão adaptar-se nas horas a esta nova forma de Português escrito? Para mim antes o novo AO do que os SMS que, para mim é dificílimo de entender.

    Compreendo todos os que não aceitam.
    Eu tenho 5 (cinco) netos e não imaginas o que é levarmos com eles sempre que dizemos algo errado por habituação de linguagem.
    Eu e o meu marido andamos permanentemente a corrigir esses defeitos um ao outro para não ouvirmos... Ò Avó (Avô) não é dissestes é disseste!

    (estás a ver a vergonha?)

    Abraços de uma Avó cheia de futuro que não abdica de se actualizar aprendendo até com os netos

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  2. Querida amiga, a amizade e o respeito que te tenho, valem mais que qualquer AO!... Por isso, nem penses que vou pegar no amor extremoso que dedicas aos teus netos - quem me dera poder fazer o mesmo, mas vou-te invejando só! - para estabelecer o mais pequeno confronto com a tua opinião.
    Mas, porém, todavia, contudo,nem tu nem eu acreditamos em bruxas, mas elas andam por aí encavalitadas em vassouras e são tantos os que acreditam!... Passa-se o mesmo com o AO: tu acreditas e eu não!... E o mundo continuará a girar. Mas ai de quem o julgar irreversível, porque poderá estar a cometer demasiado cedo um grave erro de análise. O tempo, minha querida, o tempo e a força dos povos hão-de dar no futuro, a resposta que nenhum de nós, aqui e agora, poderá adivinhar... E não subestimes os milhões de almas que falam a língua de Camões, para lá dos dois primeiros que, prepotentemente, "cozinharam" este "guisado" difícil de digerir. Temo que o futuro do AO, inevitavelmente, passará por África. É bom que comeces a ensinar Geografia Económica aos teus netos...

    Um beijinho, sem AO, mas com muita amizade

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    1. Por muito que queira de Geografia Economia só sei e bem, confesso, gerir a Economia Doméstica. Caso contrário andaria ainda mais angustiada e à nora do que os anti-AO por relutarem em modernizar uma língua tão VIVA quanto a nossa.

      Respeito os "velhos" que não querem dar a mão à palmatória LOL LOL.

      Se não tivéssemos feito actualizações (e muitas) teríamos dificuldade em ler o Português arcaico mas isso são outros 300.

      Abraços respeitosamente fraternos

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    2. Olha amiga, eu ainda admitiria todas as tropelias do AO, só para não ter que engolir "sapos vivos" sempre que me chamasses de "velho que não quer dar a mão à palmatória"!
      Mas sabes a minha principal razão para ser do contra?!... É que não admito a nenhum "sirigaito ou sirigaita" armado em linguista e que fez parte do conclave da ignomínia
      que é este AO, que sempre que eu estiver, emocionado, vibrante, apaixonado e feliz no Estádio José Alvalade, me chame de "espetador"! Eu não sou nenhum espetador e estou habituado há muitos e bons anos a ver em Alvalade, grandes, enormes "espectáculos"!...

      Um beijinho do "velho"

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    3. Então tu não sabes que espectador na língua Portuguesa se mantém apesar do AO? Assim como adepto e facto?
      Desde que tu pronuncies uma destas letras deves continuar a usá-la.
      Não deves usar adotar com p porque não o pronuncias tal como o c de ator ou atriz.

      Querido espectador espero que fiques feliz e continues a ser do contra pois isso vai bem com a tua pele.

      Somos mesmo Gémeos. Não é por acaso que nos meus tempos de trabalhadora activa (como se hoje em dia o não fosse) era cognominada de Tité ou Mau-feitio só porque era contestatária.

      Abraços de "pseudo-nova" para velho rezingão rsrsrsrsrs!


      PS - Se eu deixar de comentar neste teu blog é porque apesar da minha juventude os meus olhos não aguentam tamanha provação. Fartinha de letras bailarinas para provar que não sou robot.

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    4. Direito!... Deverias ter dedicado a tua carreira académica ao Direito e hoje teríamos uma brilhante advogada! Fiquei de "boca aberta" com a tua argumentação...
      Então "espectador" vai manter o "c", porque não é mudo! Que óptimo! E podes dizer-me o que vai acontecer com "espectáculo", que é, simplesmente a raíz da palavra?!... Ou dar-se-á o caso de o AO também mandar às malvas todas regras etimológicas?!... A ser como dizes, passaríamos a ter "espectadores" num "espetáculo", o que se me apresenta de dífícil entendimento... Ai querida amiga, confesso que não sei o que fazer à minha vida, quando me chamas de "velho rezingão". É que é uma questão de "afecto". Como magistralmente Viriato Teles afirma, num post que abordei neste meu mesmo blogue mais recentemente, nunca serei capaz de ter "afeto" por ti! O que eu tenho por ti e se for preciso ponho-me de joelhos até te convencer, é um profundo "afecto" que nenhum AO será capaz de modificar!!!... Antes morrer...

      Um beijinho carregado de "afecto"

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  3. Ganhaste!!!!

    Leva lá a camioneta cheia de consoantes mudas.

    Eu vou "tentar" escrever como os meus netos e com a ajuda deles adaptar-me o melhor possível às inovações, já que, no meu emprego fui a 1ª a utilizar o computador, sendo a mais antiga, antes mesmo de fazer cursos preparatórios para o efeito, apenas porque sou curiosa e... vi muitos filmes de ficção científica quando os filhos eram pequenos LOL.

    Agora, ergo a bandeira da Paz pois, da maneira como te vejo assanhado, temo pelo nosso entendimento ortográfico KeKeKeKe!

    Paz!
    Paz!
    Paz!

    PS - Podes responder o que quiseres que eu não volto a transcrever letras onduladas

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  4. Respondo com toda a paz do mundo e com um grannnnnnnnnnnnnde AFECCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCCTO!...
    Ai se eu tivesse netos que me ensinassem a dar a volta ao AO, não andava aqui "assanhado" como me acusas...

    Um beijinho "afectuoso"

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