sexta-feira, 12 de julho de 2013

A queda de Assunção...



Queda de Assunção

Por Ricardo M. Santos


Assunção Esteves é o que é. A senhora até me merecia respeito, é transmontana e eu tenho uma paixão por Trás-os-Montes, provavelmente por a minha mãe ser transmontana. Há mais coisas que Assunção Esteves tem em comum com a minha mãe. Transmontanas, reformadas e continuam a trabalhar. Ficamos por aqui. Ontem, tal como eu, a minha mãe percebeu que é um carrasco – ou uma carrasca? -, mesmo que Assunção não faça a puta da mínima ideia do contexto da citação que fez, nem de quem a fez realmente. Nem isso importa para o caso. Claro que já há indignados com os malvados manifestantes, que são todos, todos do PCP. São sempre. E ainda bem. Nem me dou ao trabalho de explicar a gravidade da situação ao Henrique Monteiro. Ele percebe-a, mas a poltrona em que está instalado obriga a certos sacrifícios que, no mundo jornalístico, se chamam broches.

Voltemos à Assembleia e às galerias do Povo, enquanto a Assunção e o que ainda resta do Governo não tentam fechá-las. Tentam, pois claro, porque pode o Henrique Monteiro ter a certeza que, assim que essa hipótese seja sequer sugerida, o PCP lá estará para garantir que o Povo continuará a ter lugar nas galerias. O episódio de ontem simboliza o desnorte deste governo morto, de um Presidente da República falecido e paz à sua alma, num drama da vida real que parece transportado da Crónica de uma Morte Anunciada. E de um país entregue a um bando de gente que não faz a mais pálida ideia de como é mundo fora dos carros com vidros escuros, dos melhores gabinetes, dos seguranças, das agendas planeadas ao milímetro para não terem de encontrar-se com aqueles que deveriam representar.

Assunção é uma pobre reformada a quem os carrascos e carrascas pagam a reforma de 7.000 euros por 10 anos de trabalho e continua a trabalhar, recebendo mais de 2.000 euros de despesas de representação, embora eu não perceba bem quem ela representa. A minha mãe trabalha também, arranja umas roupas, que lhe ficou o jeito do ofício que teve nos têxteis. E fá-lo depois de partir o focinho a três cancros, um deles que lhe levou um olho.

Assunção não sabe o risco que corre ao insultar a minha mãe, transmontana com uma vida em Leça da Palmeira. Sangue na guelra, pois claro, para o que for preciso. Os carrascos do país estão na bancada do governo e na maioria que o suporta, não naqueles que lutam todos os dias para sobreviver. Assunção precisa de ir embora com o resto do defunto governo, gozar o merecido descanso ao fim de 10 anos de trabalho.

Nós somos carrascos, sim, desta política miserável que nos condena à fome e a à pobreza. Seremos carrascos deste governo e de outros que lhes sigam as pisadas, até à vitória do Povo. Somos carrascos, temos de ser carrascos, c’à rasca estamos todos nós.

Tenho de vos confessar um pecado. A senhora também me merecia respeito. Quando, já lá vão dois anos, foi eleita entre os seus pares, para a função que hoje desempenha, teve o privilégio de receber de quase todo o hemiciclo, os braços abertos e a simpatia de deputados desde a esquerda à direita. E agora vem o meu pecado: eu também lhe ofereci, sem nada pedir em troca, a minha simpatia. E fui ao ponto de aqui, descarregar toda a minha ingenuidade...

Depois, ao longo destes dois anos, fui recebendo sucessivos  e inimagináveis socos no estômago, à medida que fui conhecendo a fealdade interior de quem julgara bela. Até que a todo o errático percurso da mulher que nos tempos da faculdade cultivou fervoroso maoísmo, "a bela" somou a  inqualificável e indesculpável diatribe de me chamar carrasco, porque assim apelidou o povo a que pertenço e que protestava nas galerias da AR.

Já não é a primeira vez que "a bela" insulta Simone de Beauvoir, citando a sua célebre frase de revolta contra a opressão nazi,  "não podemos deixar que os nossos carrascos nos criem maus costumes". O que demonstra tanto a sua fragilidade cultural, quanto a perversidade do seu carácter, que lhe subverterá perigosamente a estrutura mental.

Confessado o "meu pecado", aqui fica, de baraço ao pescoço, a minha humilde contrição, consubstanciada no texto de Ricardo M. Santos, que me emocionou e que entendi como imperdível.

Até breve

 

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