terça-feira, 10 de junho de 2014

... E livrai-nos do mal, amén!...



... E depois de contornar a rotunda, estiquei a segunda e meti a terceira, antes da subida que me acenava à frente. De repente, a TSF dá-me um murro no estômago: a "esfíngica figura" desmaiou em pleno discurso do 10 Junho e foi transportada em braços para os jardins próximos! Os médicos tentam a reanimação...

Acabei a subida e meti a quarta, mas mantive a velocidade. Moderada, atento ao que vinha da rádio, incomodado e com a minha cabeça invadida de ideias longas, loucas e louras. Não pode ser! Não pode acontecer! Nenhum de nós o merece! Nenhum de nós fez tanto mal que justifique tamanha punição...

Outra rotunda. Estupor de país que tantas rotundas tem! Nunca consegui descobrir de onde veio o dinheiro para tantas confusões caras e redondas. Sem tráfego a atrapalhar, só meti a terceira e passada a rotunda, a quarta. Sempre atento, prossegui devagar. Mas nada. E as longas, loucas e louras ideias persistiam em martelar-me o juízo. Nervoso e quase descontrolado, aceitei o conselho dos deuses e quando me apareceu uma pequena escapatória à direita, liguei o pisca e estacionei.

A rádio informou, que um "marechal" qualquer tinha aparecido no "palanque da raça" a sossegar as hostes: a "múmia" tinha recuperado e dentro de minutos, voltaria às celebrações para prosseguir o discurso. A esperança apossou-se de mim! Expulsei as ideias longas, loucas e louras da minha exausta cabeça. Afinal, os deuses existem. Afinal, talvez não aconteça tão fatídico "inconseguimento".

E surge de novo aquela voz mumificada, petrificada, que tantas vezes me provoca um nervoso miudinho nos dedos da mão que segura o comando da tv e me empurra para um "zapping" furioso. Desta vez cheirou-me a bálsamo. Respirei fundo, aliviado e já esquecido das ideias longas, loucas e louras...


E enquanto ligava de novo a ignição, recordei Simone de Beauvoir e o seu sério aviso "Não podemos deixar que os nossos carrascos nos criem maus costumes"! E afastei para longe o quadro que o desmaio da "esfíngica figura" quase me obrigou a construir. Antes a "múmia", que dificilmente nos trará mais males que aqueles com que até hoje nos contemplou, que um carrasco de saias! As louras sempre me hão-de parecer interessantes, mas melhor será sabê-las distantes da nossa vida! E livrai-nos do mal, amén!...


Até breve

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