domingo, 27 de abril de 2014

Ricardo Salgado segue com as mãos nos bolsos...



Desfile comemorativo em 25 de Abril de 2014


Freitas do Amaral à direita. Também à frente Mário Soares. Soares a falar sempre de Mário Soares, ainda que pareça falar de outros. O coiso era meu amigo. O tal um democrata. Que passou uns dias em minha casa. E por aí adiante. Um pouco atrás Cavaco, arrastando as botas. Passos Coelho preso ao casaco de Cavaco por uma guita. Vai pronunciando frases vazias. Freitas do Amaral ao centro. Passos Coelho dizendo umas coisas sobre a iniciativa privada. Outras em murmúrio sobre o estado social. Um exército de formigas cede logo às primeiras palavras. As formigas retrocedem, desmotivadas. Alegre proclama. Alegre declama. Alegre exclama. Alegre rima: o tiroliro está la em cima. Jorge Sampaio ouve e toma notas. No próximo discurso dirá o mesmo em mais cinco mil e quatrocentas palavras. O exército de formigas acelera a marcha em sentido contrário. Sócrates tem um cartaz com a fotografia de Sócrates. Pinto Monteiro tem um cartaz com a fotografia de Sócrates. Freitas do Amaral está agora à esquerda. Já teve um cartaz com a fotografia de Sócrates. Teixeira dos Santos vai lá mais para trás. Tenta contar os participantes no desfile. E falha. Eanes foi convidado mas imperativos morais impedem-no de participar. Relvas está ao telemóvel. Vitor Gaspar ouve Alegre e toma notas. Há-de dizer dois ou três dos versos de Alegre demorando o mesmo tempo que levará Jorge Sampaio a ler o seu discurso. Seguro promete que quando chegarem ao fim da rua farão o percurso inverso. Aliás, indigna-se, deviam ter feito o desfile numa rua paralela. Freitas do Amaral está agora do seu lado direito. Perdão. Acabou de colocar-se do seu lado esquerdo. O exército de formigas já desapareceu completamente do campo de visão. Passos Coelho tem uma visão. Comprou-a ontem no quiosque. Comprou também a Caras e a Guia do Automóvel. Aguiar Branco vai de braço dado com Poiares Maduro. Otelo cumprimenta a filha de Marcello Caetano com um beijo. Jerónimo de Sousa distribui doces às criancinhas. Ajuda-se com uma bengala de cego. Nunca soube, nunca viu. O Bloco de Esquerda optou por participar na modalidade de 400 metros estafetas. Assim ficam representadas todas as tendências e sensibilidades. O desfile começou há exactamente quinze minutos. Relvas fechou três negócios e concluiu duas licenciaturas nesse período de tempo. Sócrates concluirá mais uma no próximo Domingo. Marques Mendes prevê chuva. Acerta em cheio. Freitas do Amaral abriga-se com o guarda-chuva de Vasco Lourenço que desfila em representação do Grande Oriente Lusitano. Perdão. Freitas está agora debaixo do guarda-sol de Eduardo Catroga que desfila em representação de si mesmo. César das Neves vergasta-se enquanto caminha. Mas mantém o sorriso. Compraz-se na mortificação do cilício. Isabel Jonet entrega um quilo de arroz carolino a um professor tornado indigente enquanto diz umas palavras a um repórter. Armando Vara segue às cavalitas de José Lello. Cavaco fala do mar. Soares fala da subida dos oceanos. Nomeadamente daqueles que desaguam à porta de sua casa. Passos Coelho fala de submarinos. Portas de contribuintes, agricultores, militares e pensionistas. Marcelo Rebelo de Sousa fala. Jorge Sampaio discursa. Freitas do Amaral adapta o discurso enquanto inicia um movimento em diagonal. O bispo que representa a Igreja Católica tem andado sempre atrás dele. Eanes, que por imperativo moral afinal sempre veio, cala. Guterres dialoga. Durão Barroso abandona. Santana Lopes fica. Oliveira e Costa aproveita um momento de distracção do professor indigente e abifa-se com o quilo de arroz carolino que Jonet lhe tinha dado. Desta vez, Armando Vara foi menos veloz. D. Januário é o único que desfila armado. Otelo distribui beijinhos. Jerónimo de Sousa leva uma criancinha às cavalitas. Ricardo Salgado segue com as mãos nos bolsos. A direita no de Passos Coelho. A esquerda no de Seguro.
O exército de formigas recolheu há muito ao formigueiro.
(Rui Rocha, Delito de Opinião)

“O que é pior - a mentira piedosa ou a verdade cruel?!...”
Millôr Fernandes 

Por mim, depois de ler e antes de ir dormir, vou tomar banho...

Até breve






O 35 de Abril !...





Sim, ouve-se por aí dizer, à boca pequena, ou calada, que a ESQUERDA vai fazer o 35 de Abril! E os umbigos?!...

Até breve

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Mudar a merda, ou mudar as moscas?!...



Hoje, 40 anos depois de Abril, com o cravo vermelho na lapela, o Povo saiu de novo à rua! E foi para o Largo do Carmo! Confraternizar com quem lhe trouxe a Liberdade! Lá, onde fora decapitada a ditadura que o amordaçou durante a longa noite fascista. E o povo ouviu falar e aplaudiu, com sorrisos de fé e de esperança... A ALTERNATIVA AO ESTADO A QUE CHEGÁMOS!...

Bem próximo, sob o guarda-chuva de Abril, naquela que deveria ser a Casa da República, o lugar sagrado da Liberdade, da Igualdade, da Fraternidade e da Justiça, esteve, com poucos e tímidos cravos vermelhos ao peito, já envergonhados e quase sem frescor ou viço, uma outra face desse Povo, com questionável legitimidade representativa e inquestionáveis excessos e defeitos de quantidade e qualidade. A face de uma ignominiosa representação popular, esquecida do mandato que lhe foi conferido, numa masturbação narcísica e irremediável, que por lá se entreteve massajando e aplaudindo à vez, umbigos, interesses e senilidades. E com demagogia e despudor e sem vergonha ou temor, por lá foi vomitando para rádios, televisões e jornais, mensageiros contumazes  e incontinentes dos seus propósitos,  palavras que depois nos chegaram, falando de... ALTERNÂNCIA DENTRO DO ESTADO A QUE CHEGÁMOS!...

E o Povo, chegado a casa vindo do Carmo, com um sorriso de esperança nos lábios e a fé no coração, liga a televisão. E não compreende e pergunta aos seus botões, carregado de dúvidas e maus presságios: mas então que pôrra é esta, qual a diferença entre ALTERNATIVA e essa outra coisa da ALTERNÂNCIA?!...

40 anos depois de Abril, o Povo continua sem entender! Quatro décadas de democracia ainda não foram suficientes! E o burro é o Povo?!...

Não, o Povo não é, nem nunca será, burro! O que ainda não terá tomado consciência, é que há uma grande diferença entre mudar a merda e mudar as moscas!!!...

Até breve

Vamos acabar com o estado a que chegámos !...



"Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!"

Até breve

quarta-feira, 23 de abril de 2014

É fartar vilanagem !!!...




Sempre entendi que o meu precioso tempo e a minha cultivada paciência, serão em absoluto e incontornavelmente, incompatíveis com o visionamento de uma grande parte dos programas emitidos pelo canal de televisão TVI, que estará nos antípodas da qualidade que julgo deveria ser minimamente exigida a qualquer estação de televisão de um país civilizado. Entre eles está, naturalmente e em lugar de destaque, aquele que vai para o ar ao fim de cada manhã, de segunda a sexta, onde pontificam os inefáveis Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira.

Nesta condição, porque no meio do joio, será normal aparecerem algumas, poucas, sementes de trigo, haverá momentos televisivos de interesse nesses, a meu ver, estafados e execráveis programas, que inevitavelmente perderei. Há opções, que como as medalhas, terão o seu reverso.

Mas a minha preocupação não tem sido muita, dado as tais excepções de que falo, acabarem sempre por me surgir, algum tempo depois, no Youtube, seja na sequência de buscas próprias, seja porque o intercâmbio que as redes sociais possibilitam, nos oferece, hoje por hoje, um pente tão fino, que dificilmente perderemos pitada daquilo que realmente é importante.

Hoje, mão amiga, anunciou-me a delícia contida no vídeo que acima vos deixo. Não cometerei o excesso ou redundância de comentar o que Marinho Pinto, sempre bem documentado e frontal, terá apresentado na ocasião. As suas palavras e os números que trouxe a público, são demasiado eloquentes!...

Até breve

sábado, 12 de abril de 2014

Arrasar o laranjal e plantar... figueiras!...



Três semanas depois, regresso aqui, porque me voltou a aparecer aquela terrível dor de dentes! A minha médica de família diagnosticou raiva. Que um poderoso ataque de raiva se tinha declarado entre os meus dentes e que a única solução seria fazer um retiro sabático. Em conversa amena e como as nossas concepções de mundo estão próximas - porque as consultas não visam apenas melhorar a condição física desta vida que me obrigam a levar - disse-me que eu sózinho não mudaria o mundo. Então, que o deixasse andar por uns tempos, sem me deixar envolver! E eu segui o seu conselho...

Mas quando a Ti São vomitou aquela raiva toda contra os militares de Abril, uma raiva ainda maior que a dela, voltou-me a atacar os dentes. Chamam a isso, como acontece com as granadas, um rebentamento por simpatia. Eu disse rebentamento, não "inconseguimento"!

Não conhecem a Ti São?! Ora, ora... Então eu explico. A Ti São era uma jovenzita, bonita e interessante, a quem o estado ofereceu uma licenciatura em Direito. De borla! Com algum esforço dela, naturalmente, mas de borla. Depois, com o canudo na mão, chegou, com a inteligência que conseguiu reunir, à conclusão de que uma eventual incursão na advocacia resultaria inevitavelmente num "inconseguimento" e em consequência, num "frustracional" modo de vida.

E fez duas coisas: agarrrou-se à "laranjeira" e escolheu ser "magistruz"! Outra vez?! Voltam a não saber o que diabo eu quero dizer com laranjeira ou o que é uma ou um magistruz?! Ai a minha paciência. Uma laranjeira é uma árvore que dá laranjas. Um magistruz, será assim um híbrido entre magistrado e alcatruz. Agora pensem o que quiserem. Apenas vos ajudo com o facto de os alcatruzes funcionarem em qualquer água em que seja montada a nora, que despejam toda a água que recolhem, sempre no mesmo sítio, um receptáculo onde estão reunidos todos os priviligiados deste país e, finalmente, têm um buraco no fundo, por onde largam as fezes, que caem inevitavelmente no alcatruz que se lhes segue.

E a Ti São, ninguém sabe se adoptando os processos "rélvicos",  ficou magistruz! E andou por aí aos caidos, até que um dia, estava ela a apanhar laranjas, viu lá do alto, o palácio do Raton. E da ideia que lhe surgiu de repente, à prática, foi apenas o tempo que demora a apanhar uma laranja. E por lá ficou, qual alcatruz, a levar a água para a rega do laranjal. E mal se apanhou, ainda jovem, poupada das agruras da vida e bonita, mas naquela faixa etária que com os outros magistruzes havia cozinhado para benefício próprio, reformou-se, qual flor de laranjeira, igual a tantas outras que nunca chegam a laranjas, mas que todos nos vemos obrigados a dar sustento.

Insaciável e perante as dificuldades que os modestos proventos que o "conseguimento" de uma abstrusa reforma lhe proporcionavam, continuou a trabalhar "a recibos verdes" no laranjal. E de insinuação em insinuação, acentuando o loiro da cabeleira de gaiata e exibindo num sorriso alvar, os dentes sob os quais acumulara uma escondida raiva a Abril, mandou às malvas todos os "inconseguimentos frustracionais" e foi nomeada capataz do laranjal.

Mesmo loira, durante três longos anos, lá foi conseguindo amordaçar entre os dentes todas as raivas, enquanto ia colocando nas unhas bem tratadas das mãos que nunca souberam o significado de trabalho, camada sobre camada de verniz, que mesmo assim não a impediram de um dia gritar, do alto da mais alta laranjeira do laranjal e num assomo de histeria nazi:  "Não podemos deixar que os nossos carrascos nos criem maus costumes".





Agora, consolidado o seu "conseguimento" e afastados todos os "medos frustracionais", convicta de que nada nem ninguém, nem a democracia e menos ainda a palavra e a revolta do seu ódio de estimação, os militares de Abril, serão obstáculo ao autoritarismo que emana do seu umbigo, deixou estalar definitivamente, a grossa camada de verniz que lhe emoldurava as unhas.

É uma mulher de sorte a Ti São! Porque o laranjal, mesmo produzindo cada vez mais quase só laranjas amargas, parece eternizar-se no "conseguimento" de um sumo em cada dia mais azedo, que quase todos já se habituaram a engolir, de olhos fechados, esquecidos ou indiferentes ao esgar exibido no fim de cada trago.

Claro que o problema é deles! Deles e nosso. Da Ti São é que de certeza não será! A menos que tanto eles quanto nós, arranjemos coragem para... pois, isso mesmo, arrasar o laranjal e plantar em seu lugar... figueiras! Se mais ninguém me compreender, tenho por certo que Judas me compreenderá!...

Até breve