sexta-feira, 30 de maio de 2014

O rei vai nu !...



Todos se recordarão, seja qual tenha sido o modo e o tempo como o sublime conto de Hans Christian Andersen lhes chegou, da história "O rei vai nu" onde dois burlões terão convencido um rei muito vaidoso, a comprar um tecido que, de tão especial, apenas era visível aos inteligentes. E como ninguém, desde o rei até ao mais modesto cortesão, quis passar por estúpido e dizer que não havia tecido nenhum, o rei desfilou no cortejo real como veio ao mundo. Só uma criança do povo teve a coragem de dizer que o rei afinal ia nu, expondo-o à chacota popular.

Sem que de algum modo pretenda desfiar o rosário da longa fábula com que o Governo, já lá vão mais de três anos, vem tentando atirar areia para os olhos do Povo que governa, a lição do conto de Andersen é esta mesmo: que a realidade se impõe, por triste e dura que seja. O resultado da política do Governo, não são as estatísticas encomendadas e marteladas, nem o discurso gasto e demagógico. Ele surge, nu e cru, na realidade do desemprego, da emigração, da fome, da inércia ou paralisação da Justiça, da tentativa assassina da destruição do Serviço Nacional de Saúde, do roubo iníquo aos reformados, da carga insuportável de impostos criteriosamente aplicados sobre o patamar médio da sociedade, enquanto os poderosos escapam miraculosamente.

Perante este quadro tenebroso, os portugueses foram chamados no último Domingo, a uma "sondagem real". Não a uma dessas sondagens encomendadas e de conveniência que por aí proliferam como cogumelos, alimentando-se do cadáver do poder actual ou por conta da sua futura alternativa.

No último Domingo, o Povo pôde falar. E falou. Clara e inequivocamente. Afirmou o seu desejo de vir a ser governado pela Esquerda, entregando-lhe quase 70% dos seus votos. E mostrou o seu desejo de ver expulsa, quanto antes, uma Direita que lhe tem feito a vida num inferno, através de uns expressivos e inapeláveis 30%.

Com bem menos argumentos, Jorge Sampaio demitiu Santana Lopes e convocou eleições. E os resultados deram-lhe razão. Agora em Belém, o Povo não tem um Presidente. No seu lugar está uma "esfíngica e triste figura", que diz mal ganhar para comer, causador máximo, porque combustível, oxigénio e fósforo, deste violento incêndio que nos consome há quase três décadas. Por ele, continuaremos desgraçadamente pobres e infelizes.

E quando o Povo manifesta o desejo inequívoco de ver começar a desenhar-se à sua frente um novo caminho, uma nova luz no horizonte, constata que aquilo que o espera a curto prazo, serão os mesmos escolhos no meio da estrada e as veredas repletas de fantasmas pouco diferentes, senão iguais, daqueles que hoje fazem parte do seu quotidiano.

Porém, ironia deste triste fado que parece cosido à nossa pele, eis que se levanta do meio de um dos sectores importantes da populaça política que nos tem conduzido por este pedregoso caminho de cabras, a voz de alguém que se atreve a repetir as palavras da criança do conto de Andersen e brada, corajosamente, que o princípe, que amanhã poderá ser rei, afinal, também, vai nu.

Atónito e incrédulo, todo o Povo olha em seu redor e começa a dar-se conta de que afinal, todos caminham, desgraçadamente, nus !...

Até breve

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Eu esperei... E acorda Portugal !...



Eu esperei...

Eu esperei
Mas o dia não se fez melhor
Mas o sujo não se quis limpar
Inventou mais flores em meu redor
Como se eu não fosse olhar
Enfeitou as ruas para cobrir
Terra seca de não semear
Deram-me água turva de beber
Dizem cura e força e solução
Como se eu não fosse olhar

Eu esperei
Mas o fumo não saiu da estrada
Arde o sonho em troca de nada
Dizem festa mas é solidão
Como se eu não fosse olhar
A mentira não se fez verdade
A justiça não se fez mulher
A revolta não se faz vontade
Braços novos sem educação
Sangue velho chora de saudade

Eu esperei
Dizem luta mas não há destino
Dão-me luzes mas não é caminho
Dizem corre mas não é batalha
Como quem não quer mudar
Esta corda não nos sai das mãos
Esta lama não nos sai do chão
Esta venda não deixa alcançar.
Cantam "armas" mas não é amor
Mão no peito mas não é amar
Cavaleiro mas sem lealdade
 Fato justo mas já sem moral
Braços sujos que se vão esconder
Braços fracos não são de lutar
Braços baixos não se querem ver
Como se eu não fosse olhar

Eu esperei
Pelo tempo transparente em nós
Pelo fruto puro de colher
Pela força feita de alegria
Mas o povo dorme de ilusão
E a tristeza é forma de sinal
Liberdade pode ser prisão
Meu Deus livra-nos do mal
E acorda Portugal...
E acorda Portugal...
E acorda Portugal...
E acorda Portugal...


Até breve

AQUILO QUE EU NÃO FIZ !!!...




Aquilo que eu não fiz...

Eu não quero pagar por aquilo que eu não fiz
Não me fazem ver que a luta é pelo meu país
Eu não quero pagar depois de tudo o que dei
Não me fazem ver que fui eu que errei

Não fui eu que gastei
Mais do que era para mim
Não fui eu que tirei
Não fui eu que comi

Não fui eu que comprei
Não fui eu que escondi
Quando estavam a olhar
Não fui eu que fugi

Não é essa a razão
Para me quererem moldar
Porque eu não me escolhi
Para a fila do pão
Este barco afundou
Houve alguém que o cegou
Não fui eu que não vi

Eu não quero pagar por aquilo que eu não fiz
Não me fazem ver que a luta é pelo meu país
Eu não quero pagar depois de tudo o que dei
Não me fazem ver que fui eu que errei

Talvez do que não sei
Talvez do que não vi 
Foi de mão para mão
Mas não passou por mim
E perdeu-se a razão
Todo o bom se feriu
foi mesquinha a canção
Desse amor a fingir
Não me falem do fim
Se o caminho é mentir
Se quiseram entrar
Não souberam sair
Não fui eu quem falhou
Não fui eu quem cegou
Já não sabem sair

Meu sonho é de armas e mar
Minha força é navegar
Meu Norte em contraluz

Meu fado é vento que leva e conduz.


Até breve

terça-feira, 27 de maio de 2014

Talvez... A utopia está lá no horizonte...



Quando por aqui rabisquei à pressa, ainda sob o efeito do calafrio que me haviam provocado aos resultados das eleições de Domingo, a minha desanimada perspectiva sobre o futuro político deste "quase ingovernável país", ainda não me tinha chegado a mensagem que calafrio idêntico terá determinado em António Costa.

Apenas me martelavam os meus pobres neurónios, as histéricas e como sempre demagógicas, palavras de Francisco Assis e António José Seguro, apelidando de "grande vitória" o que a mim, sempre me há-de parecer uma derrota humilhante. Que inelutavelmente se repetiria dentro de um ano, se ninguém gritasse basta e um pedregulho qualquer não fosse atirado ao charco.

À "nomenklatura" socialista, pouco lhe importará o estigma pírrico da vitória de há dois dias. Importante será chegar a curto prazo ao governo, sem esforço, sem nunca compreender o papel da oposição e sem que a sua dignidade socialista alguma vez se sinta ferida com a inexorável partilha do poder, com aqueles que ao longo de quatro anos promoveram o massacre social que não cabe na memória e na brandura do povo a que pertencem.

A dignidade socialista esplodiu em Espanha, consubstanciada na imediata demissão de Rubalcaba, o líder do PSOE. Por cá, Seguro cantou vitória e a dignidade ficou muda e queda, à espera que caísse algum santo do altar.

Para mal do "seguro aparelho socialista", caiu um santo do altar: António Costa! E, a princípio timidamente e logo a seguir, com a coragem emprestada pelos primeiros, a corrente foi-se tornando mais forte e ninguém sabe se chegará à foz, mas, entretanto, vai danificando margens, privilégios e comodismos. Talvez...

Não cabe no meu entendimento, que a decisão de António Costa tenha resultado do calafrio que na mesma hora varreu os espíritos dos cidadãos de esquerda deste país, cuja dignidade os faz continuar a acreditar no Futuro. Poderá ter sido, isso soa-me mais natural e coerente, a espoleta que fez deflagrar a amadurecida bomba estratégica, porventura há demasiado tempo guardada.

Se António Costa conseguir, desmontar ou fazer rebentar todo a complexa teia de minas e armadilhas meticulosamente colocadas no campo socialista, e conquistar a liderança do PS, tudo mudará. O debate e a estratégia políticas. A alternativa e a esperança renascerão. E o doloroso e inexorável espectro do Bloco Central, será riscado do mapa.

Mas teimoso e casmurro como sou, utópico se assim me quiserem chamar, continuarei sempre a defender a tese, de que a Esquerda que o PS representa é curta para construir o Futuro. A Esquerda à esquerda do PS, terá de fazer aquilo que há quatro décadas o povo implora: vestir um fato de trabalho que lhe tape o umbigo e ajudar a construir a felicidade que o povo reclama! E António Costa também.

Até breve

segunda-feira, 26 de maio de 2014

O cravo não é um guarda-chuva !!!...


Pintou-o, em acrílico, Marinho, não aquele de que hoje se fala, mas o Neves, o jornalista e pintor, meu amigo e homem de esquerda! Esteve na exposição comemorativa dos 40 anos do 25 de Abril, no Museu Municipal Carmen Miranda de Marco de Canavezes. Comprei-lho. Sem regatear e por um preço quase simbólico. Porque o 25 de Abril mora há 40 anos no meu coração, mas faltava em minha casa. A partir de hoje, todos os dias poderei olhar para ele e pensar no título, no nome feliz que o seu autor entendeu colocar-lhe:

O cravo não é um guarda-chuva!...

Não era para ser, amigo Marinho Neves! Mas é! Infelizmente! Ainda ontem o pudemos comprovar: 40 anos depois de Abril, numas eleições atípicas, quase inconsequentes e com indelével marca gongórica, o povo ofereceu à Esquerda, quase 70% dos seus votos. Contudo, quem está debaixo do guarda-chuva do "cravo de Abril", pondo e dispondo da nossa vida, da nossa liberdade, da nossa felicidade?!  Um poder político a quem foram concedidos ontem, pouco mais de 30% dos votos!...

O cravo não tem culpa! A culpa tê-la-ão aqueles que sob ele se acolhem e gozam da impunidade que lhes oferece a sua sombra protectora. Sem se aperceberem(?) do crime que cometem em cada dia. Sem pensarem(?) que mais importante que os seus umbigos, será sempre a vontade do povo, livremente expressa!...

Talvez um dia a Esquerda, toda a Esquerda, venha a tomar consciência da miserabilidade do prato de lentilhas com que se vai sustentando! E do seu profundo egoísmo. E do mal, quiçá irreparável, que está a fazer ao povo de onde veio! Quando talvez já for demasiado tarde...


Até breve

Felizes para sempre !!!..

Felizes para sempre !!!...

Há muito tempo que não habitavam em mim tantas certezas! Este 25 de Maio de 2014 constituirá, a meu ver, para o nosso viver colectivo, um incontornável marco histórico! Nada mais voltará a ser como dantes! Dois terços dos eleitores portugueses, decidiram, sem que o Tribunal Constitucional tenha que dar qualquer aval a essa "democrática e irreversível decisão":

- Bloco de Esquerda - Já se vê o fundo do poço! Aguarda-se a inscrição nos Centros de Emprego!...

- Aliança Portugal - Nova derrota! E de derrota em derrota, contam-se espingardas e limpa-se o cotão dos bolsos dos eleitores. Irrevogavelmente, a caminho do bloco central, que a implosão é impossível, no reino da demagogia!...

- Partido Socialista - Partiu para Ásculo apenas com o aparelho. Nova vitória! Pírrica, naturalmente! À espera de descobrir o nome do burro de Sancho Pança, que o leve ao bloco central!...

- Movimento Partido da Terra - A vitória e a descoberta do caminho para a transformação em Partido Justicialista. Como Peron na Argentina, em 1946! Um dia aparecerá Evita.

- Coligação Democrática Unitária - Um relógio suiço, sem avarias, sem enganos e desenganos, sem sossegos e desassossegos, de precisão a toda a prova! Quando conseguir enterrar o anátema, o povo colocá-lo-à, talvez um dia, no poder! Se mantiver a organização e a coerência e retirar o reumático, do nome, da bandeira e... da cartilha!...

- 40 anos depois de Abril - O Povo, na sua imensa sabedoria, está pronto! Enterrada para sempre a ditadura em "estado novo", vai caminhando alegremente para a reinvenção, muito tuga, de um "novo estado": o Bloco Central! Uma mistura bem portuguesa de social democracia(pois!...) e liberalismo! Confortavelmente maioritário! Em Belém, a "esfíngica figura", respirará de alívio, antes de regressar, definitivamente e em paz, ao seu Poço! À espera que os vindouros lhe construam a... SUA PIRÂMIDE!... 

E então, esse Povo, viverá feliz para sempre!!!...

Até breve

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Na Suécia, a Magistratura ainda está na Idade da Pedra !...




É isso !... Orgulho-me de ser cidadão de um país, onde a Magistratura está no top mundial de todos os parâmetros de avaliação civilizacional que possamos imaginar: cidadania, competência, eficácia, privilégios, impunidade, corrupção e... modéstia!...

Os magistrados suecos, ainda terão muito de aprender em Portugal !...

Até breve

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Quando eu for grande, quero ser europeu !...



"Aos interessados: Vale a pena ir à nosso SNS e requisitar o cartão azul europeu. Funciona lindamente no estrangeiro. Estou na Holanda e um familiar meu, no dia a seguir à nossa chegada caiu e abriu a testa. Fomos ao hospital e 5 minutos depois estava a ser atendido por uma médica. Fizeram-lhe uma TAC, um electrocardiograma e exames ao sangue. Suturaram o golpe e 7 dias depois voltámos para retirar os pontos. Não pagámos nem um tostão e nem foi necessário accionar o seguro do cartão de crédito. É que nem sequer taxa moderadora.".

"Somos todos europeus, mas vivemos em mundos diferentes. Estou na Holanda há 3 semanas. Vejo televisão todos os dias. As eleições europeias cá são a 22 de Maio. Não há campanha, não há debates, ninguém dá pela cena. Se calhar é porque os políticos por cá andam de "bicla" e não em carros de gama alta. Não roubam, não mentem, nem há tachos p'ra ninguém e então, estão naquela... se me quiserem lá, votem, senão, muito obrigado.".


Lá como cá! Quando eu for grande, quero ser europeu !...

Até breve

quinta-feira, 8 de maio de 2014

É genético, só pode !...



"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. 

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.


Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.


A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar." 

Guerra Junqueiro, 1896.

Até breve